O agravamento da situação clínica do ator e humorista Paulo Gustavo, da franquia de sucesso de peças de teatro e filmes "Minha Mãe é Uma Peça", pela Covid-19, levou à equipe hospitalar a recorrer à respiração por meio do ECMO.
Ele está internado desde o dia 13 de março em um hospital do Rio de Janeiro e desde o dia 21 de março está respirando com ajuda de ventilação mecânica, ou seja, intubado. Mas como funciona esse equipamento?
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Em Curitiba, esse equipamento hospitalar de uso até então raríssimo tem se somado à luta contra as complicações da doença: a ECMO, sigla em inglês para Oxigenação por Membrana Extracorpórea, é uma máquina que funciona como o "coração e pulmões fora do corpo”, e vem sendo usada como recurso avançado para pacientes que desenvolvem complicações graves da doença.
O funcionamento é parecido com a hemodiálise, que faz de modo externo o trabalho dos rins e é conhecida por muitas pessoas. No caso da ECMO, cânulas desviam o fluxo sanguíneo do paciente para a máquina, que faz o trabalho dos pulmões e coração, oxigenando todo o sangue através de uma membrana artificial e devolvendo o sangue saudável ao corpo.
É uma forma de dar "férias" aos pulmões, enquanto se recuperam. "A ECMO foi o que me salvou, respirando por mim por sete dias seguidos”, diz o professor de química das redes pública e privada, Robert Gessner Junior, um dos casos de sucesso do tratamento em Curitiba.
Caso de sucesso
Aos 31 anos e com uma série de fatores de risco para a doença, como hipertensão, pré-diabetes e obesidade, ele contraiu a Covid-19 em dezembro e no dia 21 teve que ser internado. Com 50% de comprometimento pulmonar, ele foi transferido para a UTI e logo em seguida foi intubado. Mesmo após seis dias no respirador, ele não apresentou melhoras.
“Depois de ser intubado, eu não lembro de nada, só do susto de acordar e perceber que já tinha passado Natal, ano novo. Via que as pessoas pareciam impressionadas por eu ter sobrevivido a todo o processo", conta, com humor.
“Tive que pedir pra alguém me contar o que havia acontecido, e descobri que fui pra ECMO, tive complicações após sete dias na máquina, tiveram que fazer uma pausa de emergência... Então não tinha uma garantia de tudo que daria certo. Ainda bem que deu”, comemora.
Robert acordou do coma no dia 8 de janeiro, mas só recebeu alta hospitalar no dia 26, depois de 36 no hospital. "Os pulmões agora estão 100%, meu pneumologista até falou que não quer me ver nos próximos dois meses", relata o sempre bem-humorado professor. Dois meses após a alta, no entanto, ele segue com sessões de fisioterapia e acompanhamento com outros médicos, buscando recuperar os movimentos de partes do corpo, que ficaram comprometidas após o longo período inconsciente.
Uso envolve riscos
“Antes da pandemia, a gente usava a ECMO até no máximo duas vezes por ano. Desde o início dos casos de coronavírus por aqui, já decidimos acionar essa alternativa oito vezes”, conta o intensivista do Hospital Marcelino Champagnat (HMC), Jarbas da Silva Motta Junior.
A tecnologia não é exatamente nova, e foi muito usada no mundo todo durante a pandemia de H1N1. No Brasil, no entanto, o uso têm crescido só recentemente. “A gente tinha ainda poucos equipamentos e pessoal treinado disponível até alguns anos atrás, mas esse cenário, que já começava a mudar, se radicalizou com o coronavírus. Hoje, podemos dizer que a demanda aumentou entre 10 e 15 vezes”, afirma o cardiologista Gustavo Calado, membro da Organização de Apoio Extracorpóreo à Vida (ELSO) na América Latina.
Sem indicação para todos
O uso, no entanto, não é indicado para qualquer caso. Fatores como o risco de hemorragias, perspectiva de melhora, tempo de evolução da doença e até a idade e estado anterior de saúde dos pacientes precisam ser levados em conta antes de optar pela ECMO. A máquina é considerada uma "última alternativa" também pela taxa de sucesso: em média, só metade dos pacientes submetidos à técnica apresenta melhora.
“Quando fazemos uma análise de riscos e benefícios, grande parte dos pacientes acaba tendo mais risco no uso. O processo envolve uma equipe treinada e um acompanhamento exaustivo do paciente, muito maior do que o normal em uma UTI”, afirma o intensivista do HMC, Jarbas Junior.
Ainda segundo ele, 50% dos pacientes que foram submetidos à máquina no HMC apresentaram melhora, seguindo a média mundial. "É realmente um último suspiro, uma última tentativa”, conta o intensivista.
Segundo o representante da ELSO, em média os pacientes ficam entre 15 e 40 dias submetidos aos tratamento com a ECMO. O caso de Robert teve que ser encerrado precocemente – com sete dias – por causa das complicações.
"A gente está 24 horas por dia sob estresse, com pacientes graves, naquela preocupação se o paciente vai ter medicamento no dia seguinte, não sabe se vai ter leito pra todo mundo. Isso além do cansaço de um ano sem ver uma luz no final do túnel. Ainda assim, a gente faz tudo o que é possível pra salvar cada paciente", desabafa o intensivista. "O que nos conforta é cada alta que a gente dá. Ver o sorriso no rosto do paciente e da família é o que faz a gente continuar o trabalho".
Outras respostas
Mesmo após um ano de pandemia e pesquisas sobre a Covid-19, além do uso de equipamentos que pouco eram usados, como ECMO, médicos e cientistas ainda buscam respostas sobre os fatores de risco e possíveis tratamentos para a doença, atualmente em pico em todo o Brasil.
No Hospital de Clínicas de Curitiba, voluntários participam de uma pesquisa internacional para avaliar a eficácia de um remédio antiviral que poderia combater a doença em seus estágios iniciais.
Já o Centro de Hematologia e Hemoterapia do Paraná (Hemepar) trabalha em parceria com o Hospital do Rocio, em Campo Largo, em uma pesquisa que avalia os resultados do uso de transfusões de plasma de pessoas curadas da Covid-19 em pacientes doentes.