Os testes rápidos para a Covid-19 já estão disponíveis nas farmácias brasileiras, mas eles servem para quem mesmo? Na confusão do ambiente de pandemia, ter um teste logo ali, na primeira esquina, parece algo bom, mas talvez não individualmente, explicam especialistas.
"Qual pergunta você quer responder com o exame?" Esta é a questão que a pessoa deve se colocar antes de decidir por fazer o teste rápido, segundo Cláudia Nunes Duarte do Santos, virologista da Fiocruz Paraná, chefe do Laboratório de Virologia Molecular.
Estou com o vírus ou não?
Se a questão é essa, o teste de farmácia não é o mais indicado. Isso porque ele verifica, a partir de uma coleta de sangue, se a pessoa desenvolveu, ou não, os anticorpos para a doença – seja o IgM (na fase aguda), seja o IgG (convalescente). Assim, ele mostra se você teve contato com o vírus há um determinado tempo, mas não indica se você está contaminado naquele momento.
"O teste pode ter falsos positivos, entre pessoas com hiperlipidemia e doenças auto-imunes, gerando aflição à toa", diz o médico infectologista Victor Horácio Costa Júnior, professor da Escola de Medicina da PUCPR. Até mesmo quem tomou a vacina para a gripe pode ter resultado falso-positivo. "E se der positivo, a pessoa deve ir a um médico para dar prosseguimento à investigação, inclusive informando os órgãos de saúde", diz ele.
Posso saber se sou negativo?
Se a ideia é atestar que está negativo para o novo coronavírus, o exame também não é conclusivo, ainda mais se você for assintomático – estar infectado, mas não apresentar febre, tosse seca e cansaço. E mesmo entre pessoas sintomáticas, o exame tem validade apenas se for feito entre o 7º e o 10º dia de sintomas, que é o tempo necessário para o corpo desenvolver os anticorpos.
Sem sintomas, como em 80% das pessoas que contraem o vírus, é impossível saber em qual momento se está da formação das células de defesa contra o vírus. "Mesmo o teste dando negativo, a pessoa pode estar infectada, pois pode não ter tido tempo ainda de o organismo desenvolver os anticorpos", diz a virologista.
Claudia explica que o teste de farmácia não permite uma tomada de decisão, nem individual, nem pelas autoridades, pois só informa se a pessoa teve, ou não, contato com o novo coronavírus.
Sou imune ao novo coronavírus?
Ainda que o teste rápido verifique a presença de anticorpos – dando a entender que a pessoa teve contato com o vírus em algum momento – isso não garante imunidade, algo ainda indefinido. O vírus é novo, recém-surgido, e os profissionais e cientistas estão aprendendo com ele em tempo real, e há lacunas no conhecimento que precisam ser preenchidas.
"Não se sabe ainda se, ao se infectar com o novo coronavírus, se os anticorpos terão a memória capaz de identificar o vírus no futuro e o quanto essa memória duraria. O anticorpo neutralizante parece que nem todos desenvolvem, temos visto uma grande variabilidade", diz Claudia Nunes. Por este motivo, segundo a especialista, o teste rápido positivo não poderia ser usado como um passaporte para a saída segura do isolamento.
Para que serve então?
O teste rápido, segundo ambos os especialistas, serve mais para um controle epidemiológico da doença.
"Todo mundo deveria fazer se pensarmos nesse sentido. Veja que na Nova Zelândia, para cada 1 positivo foram testadas 284 pessoas. No Brasil, até pouco tempo, para cada 1 positivo estavam sendo testados 1,1 pessoas. Esse teste ajudaria a saber como o vírus está se distribuindo no país, saber quem teve, ou não, contato com ele, uma informação importante para definir o caminho a se tomar em relação a ações governamentais", diz o médico infectologista Victor Horácio Costa Júnior.
Exame ideal
O teste correto para se fazer individualmente, segundo os especialistas, é o RT-PCR, disponível em laboratórios e hospitais. A partir de uma amostra do nariz e da garganta, verifica-se a presença do RNA do vírus, ou a sua carga viral no organismo. Os resultados podem levar dias, mas o exame responde à pergunta: "você está infectado pelo vírus nesse momento?".
"Esse teste molecular indica se a pessoa está ativamente infectada e, com essa informação, a pessoa deve fazer isolamento, se cuidar, ficar reclusa, pois pode transmitir o vírus", afirma Claudia Nunes.