Existe uma explicação científica por trás da eterna briga entre sexos pela temperatura do ar-condicionado. Esta preferência, aliás, pode afetar a produtividade no trabalho. Homens sempre encalorados, mulheres na maioria friorentas, e a culpa é dos hormônios!
Desde a adolescência até os 50 anos em média, o homem sente mais calor pelas condições metabólicas, “a produção de testosterona acelera o metabolismo e aumenta a produção de calor. Com a chegada da terceira idade essa situação, no entanto, se inverte, e é a mulher que sente mais calor”, explica Ricardo Corrêa da Cunha, educador físico e professor da Universidade Positivo.
Além disso, há também a questão da menopausa, “a mulher começa a sentir mais calor pois a produção do estrogênio cai e aumentam os níveis de testosterona, o que justifica os fogachos, os famosos calorões femininos”, completa Rui Bochino, médico do trabalho e clínico geral do Hospital Pilar.
Além do metabolismo hormonal, o endocrinologista da Paraná Clínicas, Dilermando Brito, enfatiza a questão da diferença na massa muscular, que também interfere, “temos receptores de temperatura na pele e as mulheres, por terem menor massa, têm menos condição de equilíbrio na percepção de temperatura e são mais sensíveis às mudanças, fazendo mais vasoconstrição, e sentindo mais frio, em especial nas mãos e pés. Os homens, por terem uma percepção maior de calor, acabam sofrendo mais em ambientes quentes”.
Uma pesquisa conduzida por cientistas da Universidade do Sul da Califórnia e da Universidade Técnica de Berlim mostrou que mulheres e homens têm melhor rendimento em temperaturas opostas.
Em ambientes mais frios, os homens fizeram mais pontos do que as mulheres em testes verbais e de matemática. Mas foi só aumentar a temperatura que a pontuação feminina não só aumentou, como superou a dos homens.
Mais de 500 estudantes participaram da pesquisa, que consistia na realização de testes em um ambiente com temperaturas que variavam dos 16 graus C aos 33 graus C.
Nem frio, nem quente
O problema dessa variação térmica é aquele sobe e desce da temperatura, liga e desliga do ar-condicionado, que piora a saúde de todos no ambiente. “O choque térmico deprime o sistema imunológico, deixando as pessoas mais propensas às infecções oportunistas, como gripes, resfriados e amidalites. É preciso ter muito cuidado também com o controle da umidade relativa do ar, pois os aparelhos têm a tendência de ressecar o ar, agravando ainda mais as condições do sistema imunológico”, explica Ricardo Corrêa.
O Ministério do Trabalho define que a temperatura ideal para um escritório fique entre 20 e 23 graus C, mas há quem sinta frio ou calor mesmo nestas condições. “Quem tem mais tecido adiposo (sobrepeso ou obesidade) sente mais calor, pois a gordura é um isolante térmico”, conta o médico Rui Bochino.
“O calor deixa as pessoas mais prostradas, com o desenvolvimento de quadros de baixa pressão arterial, a famosa ‘moleza’ e falta de força para as atividades. Cuidar da hidratação é fundamental. Mas quem sente mais frio em ambientes climatizados pode fazer o uso, por exemplo, de vestimentas adequadas que controlem a temperatura”, explica o professor da Universidade Positivo.
“O que dificulta muitas vezes a adaptação das pessoas ao ar-condicionado é o uso inadequado, com a criação de ambientes muito secos ou muito frios. Usar baldes de água ou umidificadores de ar já resolvem o problema e evitam o ressecamento das vias aéreas”, recomenda o médico do trabalho.
Outra questão é a falta de manutenção periódica do aparelho, o que culmina na proliferação de ácaros e fungos. A limpeza e a troca de filtros periodicamente pode ajudar a minimizar o desconforto.
Em nome da paz no escritório
- O Ministério do Trabalho, por meio de uma norma regulamentadora (NR 17) define que a temperatura nos escritórios deve ser mantida entre 20 e 23 graus Celsius, com umidade relativa do ar não inferior a 40% e velocidade do ar não superior a 0,75m/s;
- Cabe à empresa definir a temperatura e se ater a ela, deixando um único responsável pelo ajuste, o que diminui o risco de conflitos. O bom senso é sempre a melhor saída e com diálogo é possível realocar estações de trabalho de acordo com as preferências de cada um. Em alguns casos, pode até ser feita uma pesquisa sobre o que mais agrada os colaboradores.