A catarinense Marilu Pinheiro estava pronta para trabalhar em sua área após se formar em Pedagogia, mas uma preocupação com seu filho veio à tona: “percebi detalhes no desenvolvimento dele que não eram normais e eu queria ter certeza do que estava acontecendo”, relata a mãe, que via o pequeno Davi reclamar da textura dos alimentos, ignorar quando era chamado e evitar contato visual.
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Além disso, o menino não falou suas primeiras palavras até 2 anos de idade – como é esperado nessa fase – e, por mais que os pais estimulassem a criança, a situação não mudava. Inclusive, “fui trocando de pediatras para receber opiniões diferentes, mas sempre me diziam para esperar um pouco mais, então fiz isso”.
Quando o menino completou 3 anos e 5 meses, Marilu buscou uma fonoaudióloga e foi aconselhada pela especialista a também procurar um neuropediatra para acompanhar o garoto. “Levei o Davi, e logo recebi o diagnóstico de que meu filho tinha autismo”, conta. “Nossa luta começou ali”.
Segundo ela, a confirmação trouxe alívio após tantos meses de incerteza. “Principalmente por mostrar que eu não estava louca quando falava que havia algo a se observar no meu menino”, recorda a mulher, que decidiu estudar a respeito da condição do filho e buscar alternativas que contribuíssem para o desenvolvimento dele.
Essa atitude, de acordo com a neuropsicóloga Bárbara Calmeto, é essencial para ajudar a criança. No entanto, cada pai e mãe tem uma maneira de lidar com a situação e alguns precisam de mais tempo para aceitar o diagnóstico.
Da negação à aceitação
“Há, por exemplo, aqueles que passam pelo período de negação, tentando justificar os sintomas do filho com características de membros da família”, cita a especialista em Transtorno do Espectro Autista (TEA), ao afirmar ainda que alguns enfrentam até sentimentos do luto, dificultando o início do tratamento.
No caso do pequeno Davi, os pais já imaginavam que o filho tivesse uma condição atípica, então reorganizaram as finanças rapidamente e adaptaram sua rotina para iniciar os tratamentos que o garoto precisava. “Procuramos uma creche inclusiva, iniciamos acompanhamento com fono e psicólogo, e decidi parar de trabalhar para ficar mais tempo com ele”, recorda a mãe.
Como tios e avós podem ajudar?
Além disso, o casal logo contou sobre o diagnóstico para os avós, tios e outros parentes que teriam contato com a criança para que todos soubessem como lidar com ele e colaborassem com seus tratamentos. “Nem todos aceitaram imediatamente ou entenderam, mas é assim mesmo”.
Essa adaptação da família, de acordo com a neuropsicóloga, pode exigir paciência e muitas explicações a respeito do grau de comprometimento da criança, porém é importante para o bem-estar do pequeno. “Afinal, o autista precisa de estimulação o tempo inteiro e os avós, tios, primos e padrinhos podem ajudar nisso”, explica Bárbara.
Então, é bom que eles conheçam atividades para fazer com a criança, aproveitem épocas de Natal e aniversário para presenteá-la com brinquedos que a estimulem e saibam lidar com os principais gatilhos de crises. “O Davi, por exemplo, tem crise quando há trovões, então quem estiver por perto precisa fechar as cortinas e deixar o ambiente o mais tranquilo possível”, comenta Marilu, ao ressaltar que isso muda de acordo com cada criança.
O que permanece igual, no entanto, é a necessidade de acolher o pequeno nos seus momentos de desespero, de respeitar os sentimentos dele e de educá-lo com amor e limites. “Se abaixe e fale sempre olhando nos olhos do seu filho o que pode e o que não pode ser feito”, aconselha a catarinense.
“E, claro, ignore opiniões que não tragam benefício para vocês, pois a criança não merece pais estressados com o que os outros falam”, pontua Marilu, garantindo que a paciência e o conhecimento são as chaves para tornar a rotina familiar mais leve.