A redução drástica dos casos de algumas doenças graves ao longo das últimas décadas, como a poliomielite, faz com que muitos esqueçam da imunização necessária ou até mesmo a negligenciem, colocando em risco novos surtos, segundo informa a Agência Einstein.
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Nos últimos dez anos, a cobertura atingida por décadas de quase 100% de vacinação entre os brasileiros tem caído de forma preocupante, abrindo brechas para o retorno de doenças já erradicadas como o sarampo e de outras mais comuns, como a meningite, que não precisariam ameaçar a vida das crianças.
Para permanecer com essas doenças sob controle é preciso manter altas taxas de vacinação, com mais de 95% da população imunizada, o que não tem ocorrido. A cobertura do sarampo, por exemplo, caiu de 100% em 2014 para 79% em 2020, resultado considerado muito baixo pelos especialistas. Inclusive, o Brasil chegou a receber o certificado de erradicação da doença em 2016, mas registrou dez mil casos da doença em 2018, perdendo o certificado no ano seguinte. Em 2021, foram mais de dois mil infectados e duas mortes.
E isso é preocupante, já que o sarampo é uma infecção viral extremamente contagiosa em que uma única pessoa transmite a doença para cerca de 20 pessoas. Além disso, entre os contaminados podem existir indivíduos com maior risco de complicações e mortes que nem sequer podem receber a vacina, como é o caso dos bebês.
Outra situação que traz alerta é a da cobertura da pólio, que não chegou a 70% no ano passado e, como esse vírus circula em outros países, é questão de tempo para um novo caso aparecer no Brasil. Após o último registro da doença, em 1989, ninguém imaginaria voltar a ver uma criança em cadeira de rodas ou com um “pulmão de aço” por conta desse vírus.
Vacinas são vítimas do próprio sucesso
E por que essa queda tem ocorrido se o programa nacional de imunização disponibiliza mais de 300 milhões de vacinas contra mais de 30 doenças e é considerado um dos melhores do mundo? Segundo o infectologista Alfredo Elias Gilio, coordenador da Clínica de Imunizações do Hospital Israelita Albert Einstein, é como se as vacinas estivessem sendo vítimas do próprio sucesso.
“Os adultos de hoje não conviveram com essas doenças, não viram mortes por sarampo, por exemplo. Então, subestimam esse risco”, aponta, ao citar que as campanhas frequentes e alta taxa vacinal registrada nas últimas décadas extinguiu essas enfermidades do país, deixando os brasileiros em uma situação "confortável". “Não há mais percepção da gravidade da doença”.
Por conta disso, ele explica que muitos levam em conta apenas a chance de algum efeito adverso das vacinas, que são raríssimos e bem mais fáceis de controlar do que as consequências de uma moléstia grave e fatal. “Recentemente também vemos o crescimento dos movimentos antivacinas, que foram tomados pela politização”, destaca o especialista.
Além disso, em determinados locais, permanecem problemas de logística e acesso a postos de saúde devido à distância, horários e falta de capacitação de alguns profissionais, o que faz com que as doses não cheguem ao braço de quem precisa, em especial das crianças que nem imaginam quais eram as doenças existentes no tempo dos seus avós.
Campanha Vacina Mais
Tamanha é a preocupação, que, no final de junho, a Organização Panamericana da Saúde, escritório regional da Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS), lançou a campanha “Vacina Mais” em parceria com conselhos estaduais e municipais de saúde. O objetivo é combater notícias falsas a respeito dos imunizantes e reforçar a segurança e eficácia deles a fim de reverter a queda nas taxas de imunização e evitar o retorno de doenças que já causaram muito sofrimento meio século atrás.