Sociedade Brasileira de Infectologia divulga relatório de avaliação dos medicamentos estudados atualmente contra novo coronavírus
Sociedade Brasileira de Infectologia divulga relatório de avaliação dos medicamentos estudados atualmente contra novo coronavírus| Foto: Bigstock

Hoje, quando se fala em tratamento para a Covid-19, já se sabe que a cada semana surgirão novas possíveis soluções. São em geral medicamentos conhecidos e identificados em resultados preliminares de estudos não revisados por outros pesquisadores, mas com potencial de darem certo.

Muitas dessas "soluções" são compartilhadas nas redes sociais, especialmente em aplicativos de conversas, antes mesmo que os especialistas tenham a chance de explicarem a quem o remédio possivelmente seria indicado, em qual etapa da doença, com quais efeitos esperados, entre outras questões. Para a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), não são raros os casos em que esse compartilhamento ocorre de forma inadequada, colaborando com a desinformação.

"Várias destas divulgações que circulam nas mídias sociais são inadequadas, sem evidência científica e desinformam o público", explica a entidade em um comunicado sobre os medicamentos. Confira abaixo os detalhes de cada remédio em estudo contra a Covid-19, de acordo com informações da SBI.

Corticoides

Em meados de junho, um relatório preliminar do estudo RECOVERY, coordenado pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, apontou para benefícios no uso do corticoesteroide dexametasona entre pacientes graves. A princípio, a medicação aumentaria a sobrevida dessas pessoas, especialmente aquelas que precisam do oxigênio suplementar ou de ventilação mecânica. O estudo completo, porém, ainda não foi divulgado.

Entre pacientes com a forma mais leve ou moderada da doença, no entanto, não há evidências de que o uso dos corticoides traga benefícios. Nem mesmo de forma preventiva. Inclusive, há riscos.

Se corticoides forem administrados em um momento de início dos sintomas, como um dos efeitos colaterais da dexametasona é uma imunossupressão (ou a redução do sistema imunológico), o paciente corre o risco de ter um aumento na replicação viral do novo coronavírus.

"Pacientes com broncoespasmo, como em crise asmática, desencadeada por qualquer virose respiratória, incluindo a Covid-19, podem necessitar de corticoide. Tal necessidade, qual corticoide usar e por qual via administrá-lo devem ser avaliados individualmente pelo médico", destacam os infectologistas.

Antivirais

Dos antivirais testados contra a Covid-19, dois não tiveram benefícios demonstrados em estudos, mas um parece reduzir o tempo que o paciente com formas moderadas a grave leva para se recuperar. Trata-se do remdesivir, e os efeitos positivos foram relatados em um estudo divulgado pela revista científica New England Journal of Medicine (NEJM).

No Brasil, o medicamento não tem registro e o uso foi autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apenas em estudos clínicos.

Dos medicamentos que não tiveram benefícios comprovados, estão o lopinavir e o ritonavir – usados no tratamento contra o HIV, vírus da aids. Em um estudo randomizado, com grupo controle, publicado em maio na NEJM, os remédios não demonstraram efeitos positivos contra a Covid-19. Outro estudo, RECOVERY, também demonstrou que as substâncias não tiveram benefícios entre pacientes hospitalizados. A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) afirma que não recomenda o uso em pacientes com a infecção pelo novo coronavírus.

Antiparasitários

A ação dos antiparasitários ivermectina e nitazoxanida contra a Covid-19, até o momento, está restrita aos estudos in vitro, ou em análises nos laboratórios. Ainda não há, segundo a SBI, comprovação de uma eficácia desses medicamentos em seres humanos.

Tocilizumabe

Apesar do imunomodulador tocilizumabe ter sido descrito com resultados positivos em séries de casos e estudos observacionais, não há até agora ensaios clínicos randomizados, com grupo controle, que comprovem benefício ou segurança em pacientes com a Covid-19.

A medicação, no entanto, está sendo avaliada pelo estudo RECOVERY. Os resultados devem sair nos próximos dias.

Anticoagulantes

Um dos possíveis efeitos da Covid-19 tem sido o risco de complicações trombóticas – ou a formação de coágulos que podem desencadear quadros importantes, como a tromboembolia pulmonar. Para esses casos, como medicação preventiva, é indicado o uso de medicamentos anticoagulantes, como a heparina e derivados.

Fazer uso de anticoagulantes de forma terapêutica, ainda que em pacientes hospitalizados com a Covid-19, ou de rotina entre pessoas em atendimento ambulatorial, com formas menos graves, não é indicado.

Plasma convalescente

Estudo recente envolvendo o uso de plasma convalescente em pacientes com a Covid-19 mostra que trata-se de uma terapia segura. Mas ainda não é possível afirmar que seja eficaz. O estudo RECOVERY também avalia esse tipo de tratamento, e resultados mais concretos ainda serão divulgados.

Vitaminas e suplementos alimentares

Não há alimentos ou vitaminas, ou suplementos alimentares que comprovadamente atuem contra a Covid-19. Se receber alguma mensagem que indique o uso de vitaminas C, D ou de zinco, não se deixe enganar.

Cloroquina e hidroxicloroquina

A hidroxicloroquina, ou cloroquina, já é velha conhecida no contexto da Covid-19, mas até o momento, segundo informa a entidade médica, os estudos randomizados e com grupo controle (considerados padrão-ouro na pesquisa clínica) não demonstraram benefícios dessa medicação entre pacientes que desenvolveram formas graves da doença.

A entidade cita ainda o relatório preliminar do estudo RECOVERY, que reforçaria a falta de benefícios da hidroxicloroquina entre pacientes hospitalizados. Os resultados publicados do estudo são aguardados para os próximos dias, segundo a SBI.

O mesmo vale para o uso profilático, ou preventivo, pós-exposição - entre pessoas que estiveram em contato com pessoas confirmadas ou suspeitas da Covid-19. A falta de benefícios para esses casos foi identificada em uma pesquisa divulgada pela revista científica New England Journal of Medicine no início de junho.

Recentemente, a Organização Mundial da Saúde (OMS), a agência reguladora de medicamentos e alimentos dos Estados Unidos (FDA), a Sociedade norte-americana de Infectologia (IDSA) e o Instituto Nacional de Saúde norte-americano (NIH) recomendaram o não uso da hidroxicloroquina / cloroquina em pacientes com a infecção pelo novo coronavírus, exceto entre as pesquisas clínicas. O motivo se dá pela falta de benefícios comprovados, além do potencial de toxicidade.

A única dúvida que ainda permanece é se a hidroxicloroquina teria uma ação entre pacientes nos primeiros dias da doença, em casos de Covid-19 leve ou moderada.

A entidade médica alerta ainda para os riscos de arritmia cardíaca da medicação, especialmente quando associada ao antibiótico azitromicina. "O uso combinado pode potencializar esse efeito adverso, com eventual desfecho clínico fatal, especialmente em pacientes com doenças cardíacas, uma vez que a própria infecção pela Covid-19 pode causar dano ao órgão. Também se deve levar em consideração que antibióticos não têm indicação em infecções virais; seu uso indiscriminado e inadequado favorece a resistência bacteriana", alertam os especialistas.

Com relação a um efeito anti-inflamatório ou imunomodulador da azitromicina, a SBI destaca que esse benefício ainda está por ser comprovado.

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