Para os pacientes que desenvolveram formas graves da Covid-19 e tiveram de ser internados, embora a saída do hospital seja um motivo de celebração, não deve ser vista como a última etapa do tratamento.
Devido à doença, mas também aos procedimentos usados normalmente nos hospitais, como a intubação (respiração por aparelhos), é comum que os pacientes tenham sintomas de fraqueza muscular, dificuldade para engolir ou respirar, perda de peso e mesmo transtornos emocionais.
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Indica-se, então, a reabilitação, sob a orientação de diversos especialistas, como fisioterapeuta, médico fisiatra, educador físico, nutricionista, terapeuta, entre outros. A partir de uma avaliação, definem-se quais atividades que serão realizadas.
Covid-19 e o pulmão
Entre aqueles que foram internados por complicações da Covid-19, acreditava-se que a principal reabilitação se concentraria na parte respiratória, visto que a doença atinge, primeiramente, o pulmão. Com o passar dos meses, os profissionais da saúde perceberam que a Covid-19 era, na verdade, uma doença sistêmica, que atua em diferentes áreas do organismo, inclusive a parte neurológica.
O fisioterapeuta Pedro Henrique Deon, coordenador do Centro de Reabilitação e do Programa de Reabilitação Pós-Covid-19 da PUCRS, disse que, ao criar o programa tinha-se a ideia de que atenderia mais pacientes com questões respiratórias, mas não foi bem assim. "Quando lançamos, vimos que são pacientes mais complexos, que ficam muito tempo em UTI [Unidade de Terapia Intensiva]", explica ele, que é também professor do curso de Fisioterapia da Escola de Ciências da Saúde e da Vida.
Para os pacientes que necessitam de uma reabilitação mais voltada à respiração, algumas atividades podem ser indicadas, como o uso da esteira ergométrica, com controle da frequência cardíaca, para a recuperação da capacidade respiratória. "O paciente que fica muito tempo internado, restrito ao leito, tem fadiga, fraqueza. O treinamento deste se divide em duas etapas: de reforço muscular e treinamento respiratório", explica.
Sequelas neurológicas
Segundo Deon, os pacientes que mais têm procurado o programa de reabilitação não se restringem a uma recuperação respiratória ou muscular. São, principalmente, os que desenvolvem problemas durante a internação, e que demandam outro enfoque.
"Há pacientes que chegam para nós e têm outras comorbidades, como uma neuropatia periférica associada, ou que no processo de internação evoluiu para um AVC [Acidente Vascular Cerebral]. Esses exigem um olhar mais individualizado, porque eles precisam de outros objetivos, além de uma recuperação da fadiga e da força muscular", explica.
Tempo de reabilitação
O período para a reabilitação varia conforme o paciente. A ideia inicial do programa criado pela PUCRS, por exemplo, prevê 20 encontros, entre avaliação, atendimentos e reavaliação. Esses encontros podem ocorrer entre duas a três vezes na semana, de acordo com a disponibilidade das pessoas, segundo Deon.
"Precisamos respeitar a resposta do paciente, também, porque no início ele cansa muito mais fácil, tem mais fadiga", explica. Pessoas com condições mais graves, como AVC, também demandam mais tempo.