Nos Estados Unidos, crianças e adolescentes vislumbram a sua vez na fila da vacina contra a Covid-19. Apesar de a imunização já ter sido liberada a partir dos 16 anos, na segunda-feira (10) a agência regulatória FDA autorizou o uso da vacina da Pfizer/BioNTech também entre os 12 aos 15 anos de idade.
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O Canadá é outro país que ampliou a faixa etária para a imunização. Desde quarta-feira (5), as crianças a partir dos 12 anos podem se registrar para receber a vacina da Pfizer/BioNTech.
A liberação pela agência regulatória canadense veio após a avaliação dos dados de um estudo clínico central do imunizante, testado em mais de dois mil adolescentes nos Estados Unidos. Em março, a Pfizer divulgou resultados preliminares da pesquisa de fase 3, que indicavam uma eficácia de 100% entre crianças e adolescentes testados.
Em Israel, a segunda rodada de vacinação, prevista para daqui seis meses, incluirá também as crianças. Cerca de 600 já receberam o imunizante da Pfizer no país, pois se encaixavam em grupos de risco. Nenhum efeito colateral mais grave foi observado nos vacinados.
Outra farmacêutica que lançou testes envolvendo esse público foi a Moderna. Focando em crianças dos 6 meses aos 12 anos de idade, a desenvolvedora anunciou em março que a expectativa era testar duas doses da vacina em 6.750 crianças, nos Estados Unidos. A pesquisa está sendo conduzida em parceria com o Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (NIAID, sigla em inglês) e com o Instituto Nacional de Saúde (NIH, sigla em inglês).
A Coronavac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac BioNtech, também foi testada em cerca de 500 crianças e adolescentes dos 3 aos 17 anos. Os resultados preliminares das fases 1 e 2 divulgados pela companhia no fim de março indicaram que o uso de doses médias ou baixas da vacina induziram uma produção de anticorpos maior do que os vistos nos adultos ou idosos.
E, por fim, a Janssen, braço farmacêutico da Johnson & Johnson, também anunciou a inclusão de adolescentes entre os 12 e 17 anos nos ensaios clínicos. Os testes serão conduzidos primeiramente na Espanha e Reino Unido e, mais tarde, nos Estados Unidos, Holanda, Canadá, Argentina e Brasil. O anúncio da pesquisa foi feito no início de abril.
E no Brasil?
Apesar de o país ter a liberação de uso de algumas vacinas que estão testando os imunizantes entre crianças e adolescentes, a vacinação desse público poderá demorar. Isso porque, até meados de maio, o país ainda se prepara para o início da imunização do segundo grupo prioritário, que inclui gestantes, pessoas com deficiência e com comorbidades. Ao todo, são quase 18 milhões de pessoas no Brasil, entre 18 e 59 anos, que apresentam alguma doença crônica e são elegíveis para a próxima etapa da vacinação.
Na opinião do médico infectologista pediatra Victor Horácio Souza Junior, a imunização de crianças e adolescentes pode levar mais um ano. “Eu acredito que vamos ter vacinas para crianças daqui um ano. Não vejo como vacinar antes, porque ainda estamos carentes das pesquisas. Além disso, como a criança acaba sendo menos afetada [pela Covid-19], e também temos uma quantidade pequena de vacinas disponível, o que tiver será priorizado aos grupos de maior risco”, explica o especialista, que é também vice-presidente da Sociedade Paranaense de Pediatria.
Por que vacinar as crianças?
Embora as crianças e adolescentes não desenvolvam, em sua maioria, quadros graves de Covid-19, há o risco de mais tarde algumas apresentarem sinais da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica. Isso tem ocorrido duas semanas após a manifestação da doença, com sintomas de diarreia, dor de cabeça e vômito, para os quais os pais devem ficar alertas. Casos assim, porém, são raros.
Há ainda evidência de que as vacinas sejam capazes de impedir a transmissão do Sars-CoV-2 e que as crianças imunizadas poderiam colaborar com a proteção coletiva da sociedade.
“Se não controlarmos a Covid-19 nas crianças, não vamos ter controle da pandemia, porque é uma população grande, dos 0 aos 12 anos. A pandemia vai continuar ativa enquanto não vacinarmos as crianças”, afirma a médica pediatra Heloisa Ihle Garcia Giamberardino, membro do departamento científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, coordenadora do serviço de Epidemiologia e Imunizações do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba, e presidente da regional Paraná da Sociedade Brasileira de Imunizações.
Segundo a especialista, muito provavelmente as campanhas começarão aos poucos, dos mais velhos aos mais novos – como é feito hoje entre os adultos. “Há vacinas que só focam nas crianças, mas os estudos que temos vistos têm uma tendência de separar por faixas etárias. A tendência é que sejam incluídos desde os 2 meses de idade, no futuro”, explica.
Imunidade mais ágil
O sistema imunológico das crianças tende a ser melhor do que o dos adultos e idosos, inclusive produzindo uma quantidade maior de anticorpos e, em alguns casos, precisando de menos doses de reforço. Um exemplo disso é a vacina contra o Papilomavírus Humano, o HPV, segundo explica a médica pediatra Heloisa Giamberardino.
“A vacina do HPV funciona melhor em uma criança de 9 anos do que em um jovem de 20. Melhor no sentido de que produz mais anticorpos, e a resposta imunológica é muito boa. Em vez de fazer o esquema com 3 doses, pode fazer apenas com duas, que a resposta é quase 100%. Mas, nos maiores de 15 anos, é preciso dar as três doses para ter uma resposta tão boa”, afirma.
A explicação para tal diferença se dá pela etapa de desenvolvimento das crianças. “Como o organismo produz as células para esse corpo em crescimento, a criança tem uma tendência a produzir mais anticorpos quando é exposta a algum tipo de antígeno [substância estranha ao organismo que desencadeia a produção de anticorpos, como os vírus]. Isso é próprio da natureza, que tenta proteger a criança que está se desenvolvendo”, explica a especialista.
O sistema imune tende a amadurecer conforme as vacinas vão sendo aplicadas, até cerca de sete anos de idade, quando há uma maturidade imunológica completa.