Para quem tem filho pequeno, desconfiar que ele possa ter desenvolvido um problema no coração na primeira infância causa muitos temores. Alguns sinais físicos merecem atenção e podem apontar para cardiopatias que exigem consulta a um especialista.
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Boa parte das cardiopatias congênitas é detectada ainda no útero. Por este motivo, depois que a criança nasce não é preciso correr para avaliá-la em um cardiologista. “Mas no primeiro ano de vida vale uma consulta que diga se está, ou não, tudo normal”, explica a cardiologista Cristiane Nogueira Binotto, do Hospital Pequeno Príncipe.
Quando investigar cardiopatia
Investigar cardiopatias só é indicado se houver ou um fator familiar que envolva predisposição a doenças genéticas ou cardíacas, como a miocardiopatia hipertrófica, ou se teve um filho anterior com a condição ou a mãe tem o problema, para iniciar tratamento preventivo. Porém, na primeira infância alguns sinais podem indicar a necessidade de investigação cardiológica.
Os sintomas que mais merecem atenção são o cansaço, a falta de ar, aquela criança que sua demais e aquela que a mãe vê que mama, come bem, mas não ganha peso ou desenvolve de forma adequada. A cianose, quando há arroxeamento da pele, também deve ligar o sinal amarelo nos pais. “Não apenas quando ao redor dos lábios fica roxo ao mamar, mas quando ficam roxos lábios, língua e dedos, o que revela saturação abaixo dos 90%. Mas os pais devem ficar atentos àqueles sinais que costumam não chamar tanto a atenção”, diz ela.
No caso de peso insuficiente, diz a cardiologista, muitas vezes os pais acreditam que a criança é muito magra por ter essa constituição física, mas, diz ela, nesses casos vale conferir se a criança não tem sopro no coração, que deve ser diagnosticado pelo médico. “Além disso, há as alterações de ritmo cardíaco, que fazem o coração disparar, e que a criança, quando pequena, expressa chorando, ficando deitada e não conseguindo mamar direito”, alerta Cristiane.
Cardiopatias adquiridas
Entre as cardiopatias adquiridas estão as miocardiopatias, sendo a principal a miocardite – a palavra do momento por causa da Covid-19 –, que faz alteração no músculo do coração, que pode ser secundária, resultado de um processo inflamatório. “Desde que tratada de forma adequada, normalmente essa miocardite reverte. Quando não reverte, ela pode se transformar em uma miocardiopatia dilatada, uma doença do músculo que vai requerer acompanhamento, tratamento e medicações. Também há a febre reumática, uma doença muito frequente e que pode ser evitada com o uso adequado de antibióticos no tratamento de amigdalite estreptocócica, que é o uso da benzetacil, que evita lesões nas válvulas cardíacas (mitral e aórtica), que muitas vezes requerem até a troca dessas válvulas e são doenças graves e evitáveis com tratamento adequado prévio”, diz ela.
Tratamentos para cardiopatias
Entre os tratamentos para cardiopatias, se forem acianóticas, aquelas em que a criança não fica roxinha, mas ela cansa e tem falta de ar, é possível estabilizá-la com medicações, visando o procedimento cirúrgico em momento mais adequado. “Mas grande parte das cardiopatias requer procedimento cirúrgico ou hemodinâmico, enquanto um estreitamento de válvula, por exemplo, se resolve por cateterismo”, diz ela.
Mais frequência
Segundo a cardiologista, tem-se visto com mais frequência na clínica o aumento da obesidade infantil, não mais sobrepeso, muito por causa das restrições impostas pela pandemia.
A condição vem acompanhada de dislipidemia, a alteração de colesterol e triglicerídeo, e isso é grave porque pode levar a problemas em coronária muito precocemente.
“Então se há histórias de morte súbita na família, se tem obesidade com alteração do colesterol, triglicerídeos e hipertensão arterial, tem que levar a criança para avaliação”, diz ela, que alerta para maiores riscos em determinados casos.
“Existem algumas cardiopatias, como o estreitamento da aorta descendente, que não fazem sopro, às vezes há dores nos membros inferiores, hipertensão arterial, que são sinais objetivos que devem ser levados em conta”, diz.
Esporte exige exame
Em casos de crianças maiores que ingressam em uma atividade desportiva não-lúdica, que envolva treino – como vôlei, futebol e natação –, é necessário fazer uma investigação cardiológica prévia. “Nesses casos é importante fazer uma consulta com eletrocardiograma, radiografia e ecocardiograma”, diz ela.
Diagnóstico fetal
As cardiopatias congênitas, em sua maioria, podem ser detectadas ainda dentro do útero, e exames como o ecofetal, que deve se realizado entre 24 e 28 semanas, auxiliam a programar o parto. Os exames definem se há alterações presentes intraútero, como o forame oval e a persistência no canal arterial, em estruturas que só devem se fechar depois que o nenê nasce.