Mais uma vacina contra a Covid-19 teve os dados divulgados em uma revista científica. Nesta quinta-feira (10), foi a vez da candidata da Pfizer e BioNTech, que teve os resultados preliminares dos testes clínicos de fase 3 publicados na revista New England Journal of Medicine.
Até então, apenas a Universidade de Oxford e a AstraZeneca haviam publicado os seus dados em um periódico científico. No caso, a revista Lancet, com a divulgação feita na terça-feira (8).
Com relação à eficácia da vacina da Pfizer/BioNTech, o artigo confirmou as informações que as desenvolvedoras já haviam repassado aos veículos de mídia em novembro. A vacina BNT162b2, após a aplicação de duas doses, conferiu 95% de proteção contra a Covid-19 em voluntários de 16 anos ou mais. Já sobre a segurança, que foi verificada durante o período de dois meses, os pesquisadores destacam ser similar a de outras vacinas.
Foram registrados poucos casos de eventos colaterais graves, que foram identificados tanto no grupo que recebeu a vacina, quanto no grupo que recebeu o placebo. Segundo os pesquisadores, o monitoramento de segurança deve continuar por dois anos depois da administração da segunda dose da vacina.
Liberação emergencial
Nas últimas semanas, a candidata BNT162b2 recebeu a liberação de uso emergencial em três países, sendo o primeiro no Reino Unido, seguido do Bahrein e Canadá, concedido na última quarta-feira (09). A agência regulatória norte-americana, FDA, avalia nesta quinta-feira (10) com as desenvolvedoras os dados sobre a vacina, e poderá divulgar a liberação ainda nesta semana.
No Brasil, a vacina da Pfizer/BioNTech é uma das quatro que estão com testes de fase 3 em andamento. Governadores anunciaram, nesta quinta (10), que vão solicitar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a aprovação do uso da vacina da Pfizer/BioNTech em até 72 horas.
Ainda nesta quinta-feira (10), a Anvisa aprovou a autorização temporária de uso emergencial de vacinas contra a Covid-19. No entanto, detalhou que a liberação estaria condicionada ao pedido das empresas - seja para o uso emergencial ou o registro efetivo. Segundo a Anvisa, ainda não houve nenhuma solicitação do tipo, até o início da tarde de quinta-feira (10).
Vacina RNAm
Além de ser uma das primeiras vacinas contra a Covid-19 a ter o uso liberado, a vacina em questão é também a primeira do tipo RNAm (RNA Mensageiro) aprovada para uso em seres humanos. A inovação tecnológica poderá permitir uma revolução na forma de fazer vacinas, especialmente porque essa estratégia entrega uma quantidade maior de doses, sem necessidade de laboratórios de alta segurança, e em um tempo bem mais curto.
Das desvantagens, porém, como o RNA é uma molécula instável, precisa de ferramentas que o tornem mais estável, como o controle da temperatura. A vacina da Pfizer/BioNTech, por exemplo, exige um armazenamento a temperaturas de 70 graus Celsius negativo.
Por ser uma tecnologia nova, a vacina do tipo RNAm vem sendo alvo de fake news e desinformação. Uma das principais é associar o imunizante a um possível dano no DNA do vacinado - o que é simplesmente impossível de ocorrer, conforme explica Jordana Coelho dos Reis, microbiologista do Laboratório de Virologia Básica e Aplicada do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais.
"Nem essa, nem qualquer outra vacina produzida tem a capacidade de mudar o nosso genoma. Não são usadas estratégias como a que realiza o vírus do HIV, que se integra ao nosso genoma. As vacinas não têm nada disso", alerta a especialista.
O RNA mensageiro que é entregue pela vacina, vale lembrar, também é produzido pelas células humanas, para a produção de proteínas para o nosso corpo, como a insulina - hormônio responsável pela captação do açúcar no sangue.
"Quando a gente vai produzir alguma proteína, isso é feito pelo RNA mensageiro. As nossas células produzem esse RNA o tempo todo. O que a vacina faz é usar esse RNA para que as células codifiquem a proteína do vírus, e o sistema imunológico aprenda a nos proteger", reforça Jordana.
O mesmo processo é feito pelo vírus, quando desenvolvemos uma doença. A diferença para as vacinas, porém, é que todo o processo é controlado - sem o desenvolvimento dos sintomas da doença.
"[As vacinas entregam ao corpo] apenas os componentes que induzem a resposta imunológica, não os componentes que induzem a doença. Mesmo que a vacina entregue o vírus inteiro, inativado ou atenuado, ele não teria o maquinário para alterar o nosso DNA, pois são necessárias enzimas específicas para isso, que não estão presentes em nenhuma das vacinas que estão sendo estudadas", explica.