Das pessoas que continuam tendo sintomas mesmo após a Covid-19, a maioria relata problemas cognitivos, como perda de memória
Das pessoas que continuam tendo sintomas mesmo após a Covid-19, a maioria relata problemas cognitivos, como perda de memória| Foto: Bigstock

Sentir dificuldade para se concentrar ou para se lembrar de tarefas do dia a dia são distúrbios cognitivos comuns entre pessoas que – apesar de terem passado pelo período agudo da Covid-19 – mantiveram alguns sintomas por mais de seis semanas.

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Chamada de síndrome pós-Covid-19, a condição pode afetar tanto quem desenvolveu uma forma mais grave da doença quanto quem teve uma infecção mais leve. Esse foi um dos achados dos pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Northwestern, nos Estados Unidos.

Em um estudo publicado na revista científica Annals of Clinical and Translantional Neurology, ligada à Associação norte-americana de Neurologia, os pesquisadores descrevem os relatos de 100 pacientes que, apesar do histórico de Covid-19 leve, mantiveram sintomas debilitantes e persistentes.

Entre as reclamações mais comuns, destacam:

  • Problemas cognitivos: relatadas por 81% dos participantes;
  • Cefaleia [dor de cabeça]: 68%;
  • Parestesia [formigamento]: 60%;
  • Ageusia [perda do paladar]: 59%;
  • Anosmia [perda do olfato]: 55%;
  • Mialgia [dor muscular]: 55%;
  • Tontura: 47%;
  • Dores: 43%;
  • Visão turva: 30%;
  • Zumbido: 29%.

O que são problemas cognitivos?

Os demais sintomas podem até ser mais fáceis de identificar, mas como perceber os problemas cognitivos que podem surgir mesmo após a Covid-19? De acordo com os especialistas ouvidos pelo Sempre Família, é preciso ficar atento a alguns sinais, como:

  • Falha na memória;
  • Perda da memória imediata, do dia a dia;
  • Dificuldade em manter a atenção e a concentração;
  • Raciocínio lento.

"A questão cognitiva é muito mais do que só um problema de memória. Tem a função executiva, que é ver se a pessoa consegue abotoar uma camisa, escrever, pentear o cabelo. Essas são tarefas que precisam da formação da memória de curto e de longo prazo, além da atenção. Curiosamente, o que mais apareceu no estudo foi um déficit de atenção", explica Marcela Ferreira Cordellini, médica neurologista e preceptora da residência em Neurologia do hospital INC, em Curitiba.

O problema de atenção, segundo a especialista, não é o mesmo de quem recebe o diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). No entanto, a pessoa com a síndrome pós-Covid pode receber um tratamento semelhante.

"Se você identificar mesmo um déficit de atenção, pode tentar usar medicações dos transtornos de atenção. A Ritalina [medicamento cloridrato de metilfenidato usado para TDAH], por exemplo, é uma possibilidade. Assim como medicamentos antidepressivos e ansiolíticos, que têm um componente que pode ser usado para déficit de atenção", descreve Cordellini.

A médica reforça, porém, que é preciso uma avaliação cognitiva ampla antes da prescrição de um tratamento, para verificar o predomínio daquela queixa.

Tratamento

De acordo com José Renato Felix Bauab, médico neurologista do Hospital Sírio Libanês e do Hospital do Coração, em São Paulo, o tratamento dessas condições prolongadas são ainda "off label", ou fora da bula – visto que não há medicação específica para a síndrome pós-Covid-19.

"Nós nos guiamos por outras doenças para tratarmos essas sequelas. Em um primeiro momento, podemos dar suplementos vitamínicos ou recomendar repouso", explica. Na persistência do problema, especialmente dos sintomas neurológicos, outras medicações entram na lista.

As funções cognitivas de atenção e memória, segundo Bauab, são de domínio da região frontal do cérebro – que, por sua vez, é regida por neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina. "Usamos os mesmos medicamentos indicados aos distúrbios dessa região do cérebro, para agirem nestes neurotransmissores", explica o especialista.

Mas as medidas não farmacológicas, como o descanso, também podem ajudar. "Segundo alguns estudos, esses distúrbios pós-Covid-19 duram entre três a seis meses, de modo geral. Há casos que extrapolam o sexto mês, e isso vai demandar um esforço terapêutico maior. Mas às vezes é uma questão de repouso, atividade física e alimentação", destaca.

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