Mesmo sendo especificado um determinado grupo de risco para a Covid-19, presenciamos casos como do italiano de 101 anos e da moradora do Recife com 97 anos que foram curados da doença. E de outro lado, a morte de uma francesa com 16 anos e da jovem de 21 anos de São Paulo, ambas sem nenhum problema de saúde e com hábitos saudáveis de vida, assim como o ex-atleta Santiago Llorente.
O mundo todo trabalha na investigação das características do vírus SARS-CoV-2, buscando encontrar padrões de proteção contra o mesmo. Nesta busca é possível identificar também que há divergência epidemiológica regional, sendo alguns países mais afetados que outros, mesmo adotando estratégias semelhantes de combate. A mesma variabilidade se identifica para a manifestação dos sintomas de quem é infectado por esse novo coronavírus.
Essa diversidade na manifestação dos sintomas, desde assintomático até a morte, resulta de uma série de interações. Primeiramente deve-se considerar que os vírus têm taxas de mutação e recombinação genética muito alta. Isso faz com que sua capacidade de infecção também possa diferir de acordo com as alterações.
Além da diferença entre o vírus, existe a diversidade genética individual, assim como um repertório imunológico que é único de cada pessoa. O sistema imune humano constrói uma memória imunológica a partir de cada infecção. Como o coronavírus é um gênero de vírus, o Cord-19 é um dos tipos, e é possível que já tenhamos tido contato com outros vírus do mesmo gênero em algum momento da vida, apresentando os sintomas típicos de uma gripe.
Esse histórico de infecção produz anticorpos que ficam disponíveis para atacar futuras invasões virais. E o repertório imunológico que construímos ao longo da vida é particular e pode trazer diferentes manifestações ao contato com uma nova doença. A forma como atua nosso sistema imune será bastante relevante na forma de manifestação da doença e é por isso que estudos como da biodisponibilidade de vitamina D e do zinco estão circulando. Esses micrornutrientes são imunomoduladores que atuam principalmente no mecanismo de comunicação entre as células do sistema imune, proporcionando a resposta adequada ao ataque viral.
Além do repertório imunológico prévio, outro fator muito importante na resposta ao vírus é a sua genética. Os pesquisadores têm buscados variáveis nos genes do nosso sistema imune, em especial do HLA, assim como de genes que estão envolvidos no controle da pressão arterial como ACE-2, por exemplo, que podem ser cruciais para entrada do vírus SARS-CoV nas células humanas. Assim, a resposta ao ataque viral será uma combinação entre fatores ambientais e imunogenéticos, aos quais não somente um histórico de atleta ou de boa alimentação poderá predizer a manifestação assintomática ou um quadro de síndrome respiratória grave.
Daiane Priscila Simão-Silva é doutora em Genética pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), com pós-doutorado em Bioética pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).