Desde o começo da pandemia da Covid-19 no Brasil, morrem mais homens do que mulheres pela doença. Para cada dez pessoas que vão à óbito pelo novo coronavírus, seis são homens, quatro são mulheres, assim como ocorre na Espanha.
Na Itália, que se tornou o epicentro na Europa, os homens representam 65% das mortes. Na China, a taxa de letalidade entre homens foi de 4,7% nos homens, em comparação com 2,8% encontrados nas mulheres. Mas por que a nova doença atinge mais eles do que elas?
Segundo o informe recente do Istituto Superiore di Sanità, da Itália, há evidências de que existam diferenças de gênero na infecção, no tratamento e na gravidade dos casos em relação à Covid-19.
A publicação italiana aponta três hipóteses para essa diferença significativa:
- Maior tendência dos homens a fumar (fator de risco para contrair a infecção e desenvolver um quadro clínico mais sério da doença);
- Mulheres têm como hábito dedicar um tempo significativo da rotina à higiene pessoal;
- Possível resposta imune, inata e adaptativa, mais rápida e eficaz em mulheres do que em homens.
Diferença nos hormônios
Se forem analisados os mecanismos subjacentes à infecção, as diferenças podem ocorrer em nível hormonal. Em mulheres na idade fértil, os estrogênios podem aumentar a presença do receptor ACE2 (enzima conversora de angiotensina 2, que é usada como porta de entrada do vírus e que tem expressão reduzida quando em contato com ele). A hipótese é que, mesmo infectadas, esta enzima ainda consiga proteger o organismo das mulheres, principalmente os pulmões.
No caso dos homens, parece ocorrer o oposto. A hipótese é que os hormônios androgênicos, como a testosterona, favoreçam as fases subsequentes da infecção das células pulmonares ao influenciarem a presença de enzimas envolvidas depois do vírus.
Cromossomos contam
Ainda segundo o documento do ISS, a presença de dois cromossomos semelhantes (os XX) nas mulheres pode ser fator de proteção para elas diante do novo coronavírus. Mesmo com a inativação fisiológica natural de um dos cromossomos "repetidos", algumas porções cromossômicas ficam de fora dessa inativação. A hipótese é que seja ali que a proteína ACE2 passe a ser codificada, fazendo com que haja maior expressão dessa proteína nos pulmões das mulheres, protegendo-as de quadros mais graves do novo coronavírus.
De acordo com o documento, em um futuro próximo deverão ser realizados outros estudos específicos para avaliar o papel dos hormônios sexuais nas diferenças de gênero encontradas durante a pandemia e compreender o papel dos genes na progressão da doença.