O primeiro caso documentado de reinfecção pela Covid-19 foi anunciado nesta segunda-feira (24) por pesquisadores da Universidade de Hong Kong. O paciente, um homem de 33 anos, profissional de Tecnologia de Informação (TI), foi infectado pelo Sars-CoV-2 pela primeira vez em abril. Ao voltar da Espanha no começo de agosto, o homem foi testado positivo novamente para o vírus.
Para confirmar se seria uma nova infecção, os pesquisadores do departamento de Microbiologia da instituição fizeram o sequenciamento genético do novo coronavírus que o paciente apresentava pela segunda vez. Nos resultados, viram que se tratava de uma cepa (uma variação genética do vírus) diferente daquela da primeira infecção.
"Genomas virais do primeiro e segundo episódios pertencem a diferentes clados/linhagens. Um total de 24 nucleotídeos se mostraram diferentes entre a primeira e segunda infecção. Diferenças de aminoácidos podem ser encontradas em nove proteínas, inclusive no truncamento do aminácido-58, da proteína ORF8, que estava presente somente nos vírus da primeira infecção", destacam os pesquisadores em um comunicado à imprensa.
Com isso, o caso se diferenciaria de outros possíveis reinfectados, pois haveria comprovação da variação genética de uma infecção para outra. No Brasil, a Universidade de São Paulo investiga um possível reinfectado. Uma mulher de Ribeirão Preto testou positivo para a doença um mês depois de ter sido infectada pela primeira vez.
"Esta é a primeira documentação mundial de um paciente que se recuperou da Covid-19, mas teve outro episódio da Covid-19 depois. O trabalho foi aceito pelo jornal médico internacional Cinical Infectious Disease no dia 24 de agosto de 2020", completam os pesquisadores de Hong Kong.
"Com mais de três milhões de casos da Covid-19 no mundo todo, o primeiro caso reportado de uma potencial reinfecção com Sars-CoV-2 precisa ser contextualizado. Aparentemente, o jovem e saudável adulto foi infectado com uma leve variação do Sars-CoV-2 da infecção inicial, três meses antes. É esperado que o vírus naturalmente sofra mutações com o tempo. Esse é um exemplo muito raro de reinfecção e não deve negar o impulso global de desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19", argumenta Brendan Wren, professor de Patogênese Microbiana da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, em comunicado à imprensa distribuído pelo Science Media Centre.
Impacto nas vacinas
O achado dos pesquisadores afeta não apenas o entendimento do vírus, e de como o organismo humano reage ao novo coronavírus meses após a infecção, mas também a produção das vacinas em andamento.
No mesmo comunicado, os cientistas destacam que, como a imunidade pode permanecer por um período de tempo curto após a infecção natural, mesmo quem já passou pela doença deve ser incluído nos programas de vacinação – quando as vacinas estiverem prontas. Da mesma forma, essas pessoas também devem continuar com os cuidados de uso da máscara e distanciamento social.