Confundida com obesidade e linfedema, o lipedema costuma engordar mais membros inferiores.| Foto: Bigstock
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Ter o culote e ambas as pernas grossas, porém dolorosas e constantemente inchadas pode ser uma condição não associada à obesidade, mas, sim, a uma doença chamada lipedema.

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Caracterizada pela deposição anormal de gordura de forma subcutânea, essa patologia do tecido adiposo é considerada uma condição hereditária, crônica e progressiva.  “Tem alta incidência no sexo feminino (11% dessa população) e costuma ser subdiagnosticada em detrimento de outros estados mórbidos, como o linfedema e a obesidade”, diz o cirurgião vascular Antonio Trigo Rocha, presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular da Regional do Paraná.

O mecanismo do acúmulo, segundo o cirurgião vascular Rodrigo Gomes de Oliveira, ainda é desconhecido, mas além das causas hormonais, suspeita-se de uma causa genética. “Outras possíveis causas de lipedema incluem alterações metabólicas e inflamatórias, e está comprovado que não é causado por dieta inadequada ou ingestão excessiva de alimentos”, diz ele, que é professor de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

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Diferença no acúmulo de gordura

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O lipedema se diferencia da obesidade, pois, nele, o excesso de gordura não se distribui por todo o corpo, o que fica visível ao se fazer dieta e exercícios e não haver emagrecimento na região afetada, gerando uma desproporção. “Por exemplo: a cintura afina, enquanto a área acometida se mantém com pouca redução da gordura depositada”, diz Trigo Rocha, também professor de Angiologia e Cirurgia Vascular do curso de Medicina da Unioeste.

Soma-se ao efeito estético, diz Trigo Rocha, o limite progressivo da mobilidade e, se não houver diagnóstico e tratamento adequado, e sem os cuidados necessários, a evolução para linfedema, (lipolinfedema), que obstrui o sistema circulatório e afeta o sistema imunológico. “Não existem exames específicos, sejam eles de imagem, sejam laboratoriais, para detectar o lipedema, então o diagnóstico exige exame físico e análise do histórico da paciente, além de testes que excluam outras condições, como tomografia, dosagem de gordura, linfocintilografia e exames laboratoriais”, afirma.

O início de tudo

Além de ser quase que exclusivamente uma doença feminina, o lipedema aparece normalmente no fim da puberdade, durante a gestação ou ao longo da menopausa. “Em homens, quando aparece, normalmente está relacionado a doenças hepáticas”, diz Oliveira.

É muito comum que a condição se inicie com o acúmulo localizado de gordura nas pernas e tornozelo; depois envolva as coxas, quadris ou nádegas, podendo ainda afetar os braços, geralmente bilateral e simétrico, sem envolvimento das mãos e dos pés.

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Tratamento possível

O tratamento consiste em várias abordagens terapêuticas que devem ser combinadas, conforme necessário. Não existem ainda medicamentos ou cremes para tratar esta patologia, mas eles ajudam a aliviar os sintomas. “Em geral, o uso de flebotônicos ajuda na drenagem veno-linfática, oferecendo bons resultados. Contudo, é um procedimento que deve ser indicado por um profissional especialista no assunto e de acordo com as particularidades de cada paciente e do problema apresentado”, diz Trigo Rocha.

Meias de compressão elástica reduzem o edema ou o mantêm sob controle e devem ser usadas todos os dias, ou pelo menos três dias por semana, como explica Oliveira, que indica ainda a fisioterapia de drenagem linfática, que ajuda a ativar os vasos e a garantir uma drenagem mais rápida dos líquidos, reduzindo o inchaço.

Manter o peso sob controle e evitar alimentos inflamatórios, segundo ele, também ajuda que a gordura não se acumule mais nas pernas. “Praticar esportes por pelo menos 45 minutos cerca de três vezes por semana, como caminhadas, natação, hidroginástica e bicicleta estimula o sistema linfático, melhorando a circulação e diminuindo o edema”, indica Oliveira.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Cirurgia pode ser indicada

A cirurgia de lipoaspiração é indicada se os sintomas persistirem e o acúmulo de gordura localizada piorar. “Embora possa ajudar pacientes, principalmente nas fases avançadas, poucos cirurgiões têm treinamento específico para as técnicas utilizadas no lipedema”,alerta Oliveira.

Segundo Trigo Rocha, a quantidade de gordura aspirada também deve estar de acordo com as limitações de cada paciente, em geral a intervenção sendo feita por um cirurgião plástico. “Durante o pós-operatório, o uso de meias compressivas e a realização da drenagem linfática para a eliminação de líquidos e redução do inchaço ainda são indicados. São práticas que ajudam na recuperação do paciente durante aquele período, favorecendo o seu retorno às atividades do cotidiano”.

Sinais

Veja quais são os sinais que, em conjunto, podem exigir uma consulta ao médico:

  • O principal é a queixa de “pernas gordas”
  • História familiar positiva
  • Inchaço e sensação de peso nas pernas, principalmente no fim do dia
  • Alteração da aparência, temperatura e textura da pele que fica mais macia e sensação de mais fria, com “furinhos/celulite” em comparação com as áreas não afetadas, com o passar do tempo adquire uma textura de casca de laranja
  • Diminuição da mobilidade dos tornozelos e fraqueza muscular
  • Perda da elasticidade da pele
  • Hematomas frequentes
  • Temperatura diminuída nos membros
  • Dor à pressão dos membros
  • Textura do membro é borrachosa
  • Às vezes ocorrem bolsões de gordura/fluido abaixo do joelho
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Diferenças

Lipedema: doença do tecido adiposo caracterizada pela deposição anormal de gordura de forma subcutânea em ambos os glúteos e pernas, por vezes com inchaço nas pernas

Linfedema: se caracteriza pelo acúmulo intersticial de líquido rico em proteínas, podendo possuir etiologia primária ou secundária

Obesidade: é definida, em adultos, pela Organização Mundial de Saúde, como um índice de massa corpórea (IMC = peso/altura ao quadrado) igual ou maior do que 30