Médicos de várias nacionalidades, inclusive do Brasil, perceberam uma possível associação entre a perda do olfato com a Covid-19
| Foto: Helena Lopes/Unsplash

Além dos principais sintomas da Covid-19, que incluem tosse, febre e dificuldade para respirar, e outros menos frequentes, como dor de garganta e coriza, mais dois sinais têm chamado atenção da comunidade médica: a perda do olfato e do paladar.

A anosmia (perda parcial ou total do olfato), que muitas vezes vem acompanhada da ageusia (perda parcial ou total do paladar), foi primeiro percebida em pacientes que testaram positivo para a Covid-19 na Coreia do Sul. Um estudo, publicado no fim de fevereiro na revista científica Nature, apontava que 30% dos quase 2 mil pacientes sul-coreanos com a doença relatavam prejuízo no olfato. Outro estudo, realizado na Alemanha, apresentou resultados semelhantes. Dois terços dos pacientes descreveram uma perda do olfato e do paladar que durou por vários dias.

Com base nesses dados, a Associação Britânica de Otorrinolaringologistas (ENT-UK) apontou esses sintomas como possíveis sinais da infecção do novo coronavírus. A informação foi recebida pelos médicos com surpresa principalmente porque os sintomas não aparecerem apenas junto aos outros, mas também de maneira isolada.

"Irã reportou um aumento repentino nos casos de anosmia isolada, e muitos colegas dos Estados Unidos, França e norte da Itália tiveram a mesma experiência", compartilharam os britânicos em um comunicado.

Os britânicos recomendam ainda que, se houver a possibilidade que o adulto com anosmia, mas nenhum outro sintoma, seja solicitado a se isolar por sete dias, em adição aos critérios atuais para indicar a quarentena, "nós poderemos ser capazes de reduzir o número de pessoas assintomáticas, que continuam a atuar como vetores".

Brasil

A Assosicação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cirurgia Cérvico-Facial (ABORLCCF) divulgou em nota oficial, no dia 22 de março, recomendação que seguem a mesma orientação dos europeus.

"Orientamos que a presença de anosmia súbita (com ou sem ageusia e sem obstrução nasal concomitante) talvez possa sugerir Covid-19 neste cenário de pandemia e transmissão sustentada do vírus SARS-CoV", declarou no aviso divulgado. É necessário ressaltar que os casos podem acontecer com ou sem congestão nasal. A recomendação da ABORLCCF é que o isolamento seja de 14 dias.

A Academia Americana de Otorrinolaringologia seguiu a mesma linha dias antes (20 de março), esclarecendo ainda sobre outras doenças respiratórias. "Anosmia, ageusia e sinusite, na falta de outras doenças respiratórias como rinite alérgica, a rinossinusite aguda ou rinossinusite crônica, devem alertar os médicos para a possibilidade de infecção por Covid-19 e justifica a séria consideração de auto-isolamento e testes dos pacientes", registrou em publicação em seu site.

Perda do olfato e paladar

A anosmia e ageusia são recorrentes em doenças respiratórias e acontecem muitas vezes em conjunto, pelo fato de o paladar ser ligado ao olfato.

Embora ainda haja poucos dados sobra a recuperação de pacientes ao novo coronavírus, a anosmia não deve afetar os sentidos de maneira permanente, conforme explica Carlos Newton de Aquino, médico otorrinolaringologista do hospital VITA, de Curitiba. "Vemos que 90% dos pacientes, em outras viroses, se recuperam. Há a diminuição do olfato e do paladar, mas primeiro do olfato, porque o paladar é ligado ao olfato", afirma.

Durante a quarentena e o período de isolamento, Aquino orienta para os pacientes terem o mesmo cuidado que dedicam aos outros sintomas. "Qualquer sintoma de gripe ou resfriado, a pessoa deve procurar se afastar das outras. Se a pessoa está diminuindo o paladar, o olfato, coriza, febres, cansaço, ou outro sintomas gripais, é melhor procure se isolar", finaliza.

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