O comando da Organização Mundial de Saúde (OMS) foi questionado nesta terça-feira (7) sobre o fato de que alguns cientistas têm pressionado a entidade a mudar as diretrizes para enfatizar que existe o risco de transmissão da Covid-19 por gotículas no ar.
A partir de uma carta aberta, 239 cientistas de 32 países pedem à entidade que reconheça o "potencial significativo" de propagação pelo ar do novo coronavírus. Uma gotícula contaminada pelo vírus, de acordo com os pesquisadores, seria capaz de viajar "dezenas de metros". Essa distância poderia ser maior em ambientes fechados e sem ventilação.
Coordenadora da unidade global de prevenção de infecções da OMS, Benedetta Allegranzi afirmou que a questão é alvo de investigações em andamento, mas lembrou que a entidade já sugere cautela em vários de seus documentos com os riscos de transmissão em locais fechados.
Os pesquisadores, no entanto, reforçam que "existe um potencial significativo de exposição por inalação a vírus em gotículas respiratórias microscópicas (microgotas) a curtas e médias distâncias (até vários metros, em ambientes fechados e sem ventilação), e defendemos a utilização de medidas preventivas para mitigar esta via aérea de transmissão".
Recomendações extras
Das medidas sugeridas pelo grupo de cientistas, está:
- Ventilação suficiente e eficaz de ambientes internos, por meio de ar exterior limpo, de forma a minimizar a recirculação, principalmente em edifícios públicos, ambientes de trabalho, escolas, hospitais e lares de idosos;
- Trocar a ventilação de ar-condicionado por exaustores e filtros de ar de alta eficiência, além de luzes ultravioleta germicidas;
- Evitar aglomeração de pessoas, como em transportes públicos e edifícios públicos.
"Tais medidas são práticas e muitas vezes podem ser facilmente implementadas; muitas não são dispendiosas. Por exemplo, passos simples como a abertura de portas e janelas podem aumentar dramaticamente as taxas de fluxo de ar em muitos edifícios", complementam os especialistas na carta aberta.
Resposta da OMS
Allegranzi disse que a OMS tem insistido na importância de medidas como o distanciamento físico e que se evitem aglomerações, especialmente em locais fechados, que devem ser sempre que possível ventilados. Além disso, ela afirmou que existe um debate sobre a transmissão pelo ar, mas ainda não com evidências sólidas para garantir que isso aconteça.
Também presente na coletiva, a cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, lembrou sobre as etapas do trabalho científico, com produção de estudos, depois revisados pelos pares e publicados ou não.
Como exemplo, ela lembrou que houve inicialmente uma publicação que relatava sucesso no tratamento com a hidroxicloroquina contra a Covid-19, mas ela depois foi retirada diante de inconsistências no estudo. Houve outras pesquisas depois disso sobre o medicamento, lembrou. "Há evidência suficiente para mostrar que ela não tem impacto na mortalidade em pacientes hospitalizados", afirmou Swaminathan sobre a hidroxicloroquina.