Bastava a filha Luíza informar que estava com fome para que o coração da cirurgiã-dentista Lilian Pastore acelerasse. “Eu sabia que ela poderia ter complicações agudas e até perda de consciência, convulsões e coma”, conta a paulista de 42 anos, que viu a menina ser diagnosticada com diabete tipo 1 aos 8 anos de idade. “Foi muito difícil saber que minha filha tinha uma condição de saúde tão complexa e sem cura”.
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De acordo com Lilian, a descoberta ocorreu em 2016, após a garota realizar um exame de urina e apresentar glicose positiva. “A médica que a atendeu não deu atenção, mas resolvi fazer um teste de ponta de dedo, e percebi que o resultado estava acima dos parâmetros para tanto tempo em jejum”, recorda. “Então, liguei para a pediatra e foi uma correria para exames e decisões, o início de um processo bem doloroso”.
Entre as necessidades do tratamento estavam frequentes medições da glicemia, injeções de insulina e cálculos na hora da alimentação para oferecer a quantidade segura de carboidratos que a pequena poderia ingerir. Além disso, Lilian e seu marido foram obrigados a buscar muita informação em pouco tempo, e explicavam para Luiza as mudanças de forma lúdica e com paciência para que ela compreendesse. “Nossa rotina mudou radicalmente e abri mão de boa parte da minha carga horária de trabalho”, relata. “Parei minha vida para que a da minha filha continuasse".
E essa é a realidade de muitas famílias com crianças diabéticas. Segundo a médica endocrinologista Denise Franco, o paciente que apresenta essa condição autoimune – comum durante a infância e adolescência – precisa de muitos cuidados para controlar a taxa de açúcar no sangue e evitar quadros graves da doença. “E esses cuidados vão muito além das aplicações diárias de insulina”.
Isso porque, de acordo com a especialista, para manter a glicemia dentro de valores aceitáveis, é fundamental que os pais adotem junto com a criança uma alimentação saudável e equilibrada, e que também realizem atividades físicas regularmente. “Sem contar que os exercícios também ajudarão a manter a saúde mental, trarão melhora nas condições cardiovasculares e no desenvolvimento motor”, garante a endocrinologista, ao lembrar que a família também precisa de suporte psicológico e do acolhimento de amigos e familiares.
Programa Correndo Pelo Diabetes
Inclusive, foi pensando nisso que o jovem Bruno Helman, de 26 anos, decidiu criar uma rede de apoio para atender essas pessoas: o programa Correndo Pelo Diabetes (CPD), fundado em 2017. “A ideia é proporcionar um ambiente acolhedor, onde pais e cuidadores compartilhem angústias, medos e desafios, além de serem estimulados a se movimentar”, explica o rapaz, que também é diabético.
Segundo ele, o projeto é totalmente online, gratuito, e oferece rodas de conversa, encontros com especialistas e diversas opções de caminhadas, corridas e outras atividades para promover a saúde física e emocional de quem lida com a diabetes. “Lembrando que o programa é aberto para qualquer indivíduo que integre a rede de apoio de alguém com a condição”.
No caso de Lilian Pastore, por exemplo, toda a família ingressou no projeto e tem aproveitado as reuniões online e sugestões de atividades físicas para manter a saúde em dia. “Como acabei esquecendo de mim mesma depois do diagnóstico da minha filha, o programa me ajudou a ser ativa novamente e a cuidar da minha saúde”, relata a paulista, que hoje é pós-graduada em Educação em Diabetes e atua como uma das diretoras do CPD. “Eu e meu marido fazemos todas as aulas gravadas, seguimos as planilhas, e minha filha – que hoje está com 13 anos – já faz yoga e caminhada conosco. Isso tem nos ajudado muito no elo familiar”.