Não são apenas as mulheres que podem ficar deprimidas após o nascimento de um filho. Homens também estão sujeitos a apresentar sintomas bem parecidos quando têm de lidar com as mudanças causadas pelo nascimento de uma criança. A ansiedade, muitas vezes acompanhada de falta de preparo e de conhecimento para lidar com as exigências da paternidade, as noites mal dormidas e as atividades incessantes que os pais têm durante os primeiros meses de vida do bebê são fatores que podem levar a quadros de tristeza contínua experimentados pelos papais.
O problema começou a ser identificado a partir de pesquisas feitas com maridos de mulheres que apresentavam sintomas de depressão após o nascimento dos filhos. Num desses estudos, conduzido pela professora da escola de enfermagem do Colégio Carson-Newman (EUA) Molly Meighan, para saber como se sentiam os maridos de pacientes com depressão pós-parto, os pesquisadores concluíram que muitos homens também apresentavam sintomas similares aos das mulheres.
A depressão faz com que os pais sorriam menos e tenham pouco contato visual e físico com a criança, e esse distanciamento aumenta a chance de a criança ter dificuldade para desenvolver as próprias emoções de forma saudável
Mas ainda há muita resistência em reconhecer o problema, tanto na comunidade médica quanto entre familiares e amigos de pacientes. Para Meighan, impera a cultura de que os homens não estão sujeitos à depressão pós-parto e por isso qualquer sinal de tristeza, desânimo ou distanciamento do homem acaba sendo visto como simples “falta de caráter”.
Como acontece com outros tipos de depressão, não é possível estabelecer uma única causa para o problema. No caso da depressão pós-parto feminina, os médicos apontam as flutuações dos níveis hormonais, as mudanças físicas e emocionais causadas pela maternidade como fatores que influenciam o surgimento da doença. Já entre os homens, o aumento das responsabilidades, preocupações financeiras e mudanças na rotina e na vida íntima poderiam desencadear sintomas de depressão. Outro ponto importante é que os homens – e hoje em dia até as mulheres – nem sempre estão preparados para a chegada de um bebê.
“Tipicamente, em nossa cultura os pais não estavam totalmente envolvidos nos cuidados com a criança. Mas agora está acontecendo uma transição e os pais são mais participativos, e começamos a perceber a necessidade de trabalhar [a depressão] em ambos os pais”, explica o professor Sheehan D. Fisher, professor da Northwestern University Feinberg.
Filhos sofrem da mesma forma
Fisher é um dos co-autores de um estudo publicado na revista Couple and Family Psychology: Research and Practice mostrando que a depressão pós-parto, seja na mãe ou no pai, afeta diretamente a criança.
A depressão faz com que os pais sorriam menos e tenham pouco contato visual e físico com a criança, e esse distanciamento, explica o professor Sheehan D. Fisher, aumenta a chance de a criança ter dificuldade para desenvolver as próprias emoções de forma saudável. Crianças cujo pai ou mãe apresenta sintomas de depressão pós-parto são mais propensas a desenvolver maus comportamentos, como agredir outras crianças, ter ansiedade e tristeza nos primeiros anos de vida. “A intervenção precoce, tanto para mães quanto para os pais, é a chave para o tratamento. O quanto antes eles forem tratados, mais rapidamente os sintomas desaparecem e, talvez o mas importante, as crianças não serão afetadas pela depressão dos pais”, finaliza o professor Sheehan Fisher.
Não é possível estabelecer uma única causa para o problema. No caso da depressão pós-parto feminina, os médicos apontam as flutuações dos níveis hormonais, as mudanças físicas e emocionais causadas pela maternidade como fatores que influenciam
Outra pesquisa, conduzida pelo professor Neal Davis, da Universidade de Michigan (EUA), mostrou que pelo menos 7% dos pais americanos com filhos menores de um ano apresenta sinais de depressão e que eles são quatro vezes mais propensos a bater nos filhos do que os pais não-depressivos. O levantamento também mostrou que a depressão faz com que os pais tenham menos vontade de ficar com os filhos. Entre os pesquisados, metade deles estava menos disposto a ler regularmente para os filhos.
Fatores de risco
O psicoterapeuta Will Courteney, criador de um site de discussão sobre depressão pós-parto paterna, alerta que há muitas condições que aumentam as chances de um pai apresentar sintomas de depressão, como a falta de um bom sono, alterações hormonais, casos de depressão anteriores, problemas de relacionamento com a esposa ou familiares, modelo familiar diferenciado (como o caso de pais solteiros ou padrastos), problemas econômicos, falta de apoio e sensação de exclusão.
Mas um dos principais fatores de alerta é a existência de um quadro depressivo na mãe da criança. Courteney estima que até metade dos maridos de esposas com depressão pós-parto também se sintam deprimidos. “A depressão pós-parto paterna é uma doença grave. Mas também é uma condição muito tratável. Se não tratada, no entanto, esse tipo de depressão pode ter consequências sérias para o homem, seus filhos e a família como um todo”, alerta Courteney.
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