Ainda que esteja em tratamento, o paciente oncológico tem a indicação de receber a vacina contra a Covid-19, pois faz parte de um grupo considerado de alto risco para complicações da infecção pelo novo coronavírus.
A mortalidade entre pessoas com câncer, pela Covid-19, chega a ser de 7,6%, de acordo com um estudo publicado em 2020 na revista científica Journal of the American College of Cardiology. Entre pessoas sem câncer ou outras comorbidades, a taxa de letalidade foi de 1,4%, em comparação.
Como o risco de complicações pela doença é maior do que qualquer risco possivelmente associado aos imunizantes, a vacinação é uma indicação dos especialistas, recomendada por entidades como:
- Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC);
- Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular;
- Ministério da Saúde, que listou os pacientes oncológicos como grupos prioritários para a vacinação, ao lado de outras comorbidades, no Plano Nacional de Operacionalização da vacinação contra a Covid-19, divulgado em dezembro;
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Sistema imune comprometido
Parte da culpa pela vulnerabilidade do paciente oncológico se deve à própria doença, que atrapalha o mecanismo de defesa do organismo. Os tratamentos contra o câncer, especialmente as quimioterapias, também podem comprometer o sistema imunológico, e o momento da vacinação deve levar em consideração esse aspecto.
De acordo com Bruno Roberto Braga Azevedo, cirurgião oncológico do Hospital São Vicente, em Curitiba, e presidente da regional Paraná da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), o paciente oncológico em tratamento, ainda que tenha a recomendação para se vacinar, precisa conversar antes com o médico.
"Mesmo recomendado, o paciente tem que sentar com o médico e ver qual seria o melhor intervalo para a vacinação. Porque, em alguns tratamentos quimioterápicos, a deficiência de imunidade pode se estender por mais de 14 dias, e isso pode não ser ideal. Por isso que precisa dessa conversa, para acertar o melhor intervalo", explica.
No caso de pessoas que estão recebendo tratamento radioterápico – outra terapia contra cânceres – não há alteração do sistema imunológico, e a vacinação é indicada.
Imunidade suficiente?
Nos grupos testados nos ensaios clínicos das vacinas contra a Covid-19, não há pacientes com câncer. Isso não significa, porém, que a vacina não será segura ou eficaz entre eles. De acordo com a SBOC, provavelmente as vacinas contra a Covid-19 serão eficazes, visto que outros imunizantes – como os da gripe, doença pneumocócica e herpes-zóster – já são.
"Baseados na extrapolação destes dados e de outras vacinas, associado à interpretação dos mecanismos de ação das vacinas contra a Covid-19 (vacinas com agentes não vivos), pressupõem-se que a eficácia e segurança da vacinação contra o SARS-CoV-2 seja similar à população geral, embora os dados de estudos clínicos sejam escassos", destacam os especialistas da SBOC.
O único cuidado é para as vacinas que utilizam a estratégia do vírus atenuado. Como se trata de um vírus vivo, pessoas com sistemas imunológicos comprometidos devem procurar outras vacinas, para evitar demandar ainda mais do sistema de defesa. As duas vacinas disponíveis, até o início de fevereiro, no Brasil, não oferecem esse risco, segundo a SBOC, pois usam abordagens diferentes.
A vacina Coronavac, da farmacêutica chinesa Sinovac e do Instituto Butantan, por exemplo, usa a abordagem do vírus inativado, ou "morto". Para a sua produção, os pesquisadores cultivam em culturas de células os coronavírus que, na sequência, são inativados por meio de processos físico-químicos, como calor ou substâncias químicas. Uma vez purificados, esses vírus "mortos" são incorporados às vacinas.
Já a vacina da Fiocruz, desenvolvida pela Universidade de Oxford/AstraZeneca, usa outro vírus, o adenovírus (causador do resfriado comum em chimpanzés), como um vetor não replicante. Assim, não sendo capaz de se replicar, é considerado "inativado" também.