Vacinas contra a Covid-19: quando estarão prontas?| Foto: Bigstock
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No dia 11 de janeiro, o novo coronavírus, ou o Sars-Cov-2, teve o seu genoma sequenciado pela primeira vez. Com a descoberta, pesquisadores de diversas partes do mundo puderam dar início à busca por uma vacina que prevenisse a Covid-19. Até o começo de abril, o número de estudos em desenvolvimento chegava a 115, de acordo com dados divulgados pela revista científica britânica Nature.

Setenta e oito estão ativos e, entre estes, a maioria (73) está em fase exploratória ou em estágio pré-clínico. Nessas etapas, os pesquisadores buscam quais são as moléculas mais adequadas para compor as vacinas e, na sequência, as aplicam em animais para perceberem os efeitos.

Mas há candidatos mais avançados, que começaram a testar os potenciais imunizantes em seres humanos. Segundo uma lista da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicada no dia 20 de abril, há cinco estudos em fase clínica 1 (na qual a substância é aplicada em poucos adultos saudáveis, entre 20 a 80 pessoas) e um em fase clínica 2, que aumenta o número total de participantes a mais de uma centena.

Fazem parte dessa lista as vacinas da Inovio Pharmaceuticals; Sinovac; Instituto de Produtos Biológicos de Beijing/Instituto de Produtos Biológicos de Wuhan; Moderna Therapeutics /Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (NIAID); Universidade de Oxford e CanSino Biological Inc./Instituto de Biotecnologia de Beijing.

Esse último laboratório, em parceria com a instituição de biotecnologia chinesa está, na opinião do químico medicinal Derek Lowe, um passo a frente das demais vacinas, por ter dado início à segunda etapa nos testes em seres humanos, conforme divulgou pelo seu blog "In The Pipeline", na revista Science.

Integram ainda, no rol das vacinas em desenvolvimento, laboratórios farmacêuticos conhecidos, como a Pfizer, a Sanofi que se uniu a GSK para o estudo de um imunizante e a Johnson&Johnson. No último dia 22, a Pfizer recebeu a liberação na Alemanha para dar início aos testes em seres humanos. As demais estão em fases pré-clinicas, de acordo com a listagem da OMS.

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Como as vacinas vão funcionar?

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Todas as vacinas têm um mesmo objetivo: expor o organismo ao agente patogênico (seja ele um vírus ou bactéria) atenuado ou inativado, que não causará a doença, mas "ensinará" as células do sistema imunológico a se defenderem dela no futuro. A forma como cada vacina repassa essas informações ao corpo varia, e há pelo menos oito tipos diferentes sendo testados, que usam partes do novo coronavírus ou de outros vírus.

De acordo com informações divulgadas pela revista Nature, sete estudos, pelo menos, estão desenvolvendo imunizantes que fazem uso do Sars-Cov-2 em uma forma enfraquecida ou mesmo inativada. As vacinas contra o sarampo e a poliomielite são desse tipo, e elas exigem uma testagem mais rigorosa. A empresa de biotecnologia chinesa Sinovac e o Instituto de Produtos Biológicos de Beijing juntamente com o Instituto de Produtos Biológicos de Wuhan, por exemplo, começaram os testes em humanos com uma versão inativada do vírus.

No caso da CanSino Biological Inc e da Universidade de Oxford, trata-se de uma vacina que faz uso de outro vírus para atingir o objetivo (vacinas de vetor recombinante). O que eles fizeram foi utilizar um vírus completamente diferente, no caso o adenovírus, para entregar às células humanas o DNA de uma proteína do novo coronavírus.

Esse tipo de abordagem está sendo testada por 25 grupos no total, segundo a Nature, e também para outras doenças, de acordo com o químico Derek Lowe, como para o HIV, influenza (gripe), Ebola, tuberculose e malária. Nenhum deles, no entanto, chegou ao fim dos estudos ainda.

Há ainda outra abordagem, chamada de vacina de DNA (ou ADN, ácido desoxirribonucleico). Há, segundo a revista Nature, pelo menos 20 grupos testando essa abordagem. Os pesquisadores usam a informação genética do vírus, e não ele por completo, para instigar a resposta imunológica do corpo. O ácido nucleico do vírus é inserido nas células humanas, que produzem cópias dessas proteínas virais.

É a abordagem que testam a Inovio Pharmaceuticals e a Moderna, embora esta use o RNA do vírus (ácido ribonucleico responsável por levar as informações do DNA até a área do citoplasma na célula). Essa é uma tecnologia nova e que não foi aprovada em nenhuma outra vacina ainda.

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Rápido, mas devagar

Todo o processo experimental e pré-clínico do desenvolvimento de uma vacina pode ser bastante rápido, segundo explica Flavio da Fonseca, virologista e pesquisador do Centro de Tecnologia em Vacinas (CT Vacinas) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O problema está nas fases de testes em seres humanos, que tendem a demorar por um processo natural.

"O desenvolvimento de uma vacina, do produto em si, é rápido. Nós estamos trabalhando em uma vacina [contra a Covid-19] e esperamos desenvolvê-la rápido. O grande problema é o tempo que leva para testar. Mas faz parte do tipo de ensaio que se faz, é um teste naturalmente lento", explica o virologista.

Das fases de desenvolvimento de uma vacina, destaca-se, de acordo com informações do Instituto Butantã:

  • Fase exploratória e a pré-clínica: etapa em que os pesquisadores avaliam as propostas das vacinas e, na segunda etapa, partem para os testes pré-clínicos (sejam eles in vitro, ou em animais) para verificar a segurança e o potencial imunogênico daquela vacina.
  • Fase clínica: o possível imunizante é testado em seres humanos em ensaios clínicos, depois de passar por testes, e ser aprovado, em laboratório e nos animais. Essa etapa é dividida entre as fases I, II, III e IV.
  • Fase I: por ser o primeiro estudo com essa vacina em seres humanos, o principal objetivo é demonstrar a segurança do imunizante. São testados poucos participantes, em geral pessoas saudáveis.
  • Fase II: uma vez demonstrada a segurança, a segunda fase visa verificar a imunogenicidade do imunizante, ou a capacidade de ele provocar a resposta do sistema de defesa do corpo que se espera. Nessa etapa, um número maior de pessoas pode participar.
  • Fase III: a última fase do estudo antes que ele receba o registro sanitário. Aqui, a população-alvo da vacina é testada e milhares de pessoas podem receber o imunizante.
  • Fase IV: a vacina é ofertada à população. Ainda assim, continuará a ser monitorada para avaliação de efeitos adversos.

"Sabemos que alguns testes estão mais adiantados hoje, na China, Reino Unidos, Estados Unidos, Alemanha. Mas apesar disso, não vemos com muita chance termos uma vacina em 2020 ainda. A não ser que os ritos sejam abreviados, que se diminua o nível de exigência para que as vacinas sejam liberadas mais rapidamente", explica Flavio.

No fim de abril, a farmacêutica Pfizer anunciou que teria uma vacina disponível ainda em 2020, embora tenha recebido há pouco tempo a liberação para os testes clínicos, em humanos. "Não temos a menor ideia [de qual etapa está cada vacina em desenvolvimento]. Em uma situação real, uma vacina leva tempo para ser desenvolvida e, enquanto isso, os órgãos e laboratórios vão publicando os resultados parciais, que podemos acompanhar. Mas dessa vez não achamos as publicações técnicas a respeito", afirma o especialista.

Ainda assim, um fato reforçado pelo virologista é: uma vacina só chega à fase de testes em seres humanos se mostrarem resultados promissores nas etapas in vitro e em animais, o que dependem da aprovação dos comitês de ética de cada país e das instituições.

Vacinas brasileiras

No país, há pelo menos dois laboratórios empenhados na formulação de uma vacina contra a Covid-19. Um deles é o CT Vacinas, da UFMG, da qual faz parte o virologista Flavio da Fonseca.

"A nossa está em fase inicial, e não vai ser uma fase muito longa. Mas as etapas subsequentes serão mais demoradas. Nós trabalhamos com um horizonte de seis meses, mas a pesquisa biológica não permite promessas de data. Se der tudo certo, seis meses", diz.

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