Nos dias mais frios do inverno, a preocupação de boa parte das pessoas pode passar longe da saúde ocular. Mas alguns sintomas devem chamar atenção, como a sensação de olhos secos e irritados.
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De acordo com o médico oftalmologista Peter Alexander von Harbach Ferenczy, as massas de ar frias do inverno reduzem a umidade do ar e promovem uma instabilidade do filme lacrimal. "Essa instabilidade da lágrima faz com que ela evapore mais rápido. Isso gera uma inflamação, uma sensação de ardência nos olhos e uma irritação nas terminações nervosas", explica o especialista em Cirurgia Refrativa e superfície ocular do Hospital de Olhos do Paraná.
Pessoas que tendem a usar mais telas – dos computadores aos smartphones –, quem trabalha em ambientes com ar condicionado ou com uma fonte de vento que esteja muito próxima tendem a sentir mais essa sensação de secura ocular. "Usuários de lentes de contato também sofrem mais. Por isso que essas pessoas acabam usando mais as lágrimas artificiais", explica Ferenczy.
Contraindicado: coçar os olhos
Uma vez que o olho esteja sentindo a secura das massas de ar frias, é normal que a primeira reação seja querer coçar. Caso a pessoa esteja com as mãos sujas, o risco de desenvolver uma conjuntivite aumenta.
"As mãos podem ter microorganismos, porque nem sempre estão limpas, e coçar os olhos pode levá-los para a superfície ocular. Isso estimula o aparecimento das conjuntivites bacterianas ou virais", explica o especialista, que também é mestre em Oftalmologia pela Unifesp.
Apesar de a pandemia ter distanciado as pessoas, e diminuído doenças infectocontagiosas em geral, a coceira e irritação ocular podem surgir por causa do frio. "Se não mantivermos as mãos limpas, inevitavelmente levamos esses microorganismos para os olhos. Esse é um período que aumenta muito a procura por consultas oftalmológicas por essa queixa de ardência e secura ocular, e as conjuntivites", reforça Ferenczy.
Prevenção dos olhos secos
Além da higiene das mãos, o especialista indica como medidas de prevenção a busca por orientação médica e o uso de lágrimas artificiais ao sinal de irritação ocular. "Se os sintomas persistirem, é fundamental procurar um oftalmologista, para que possa orientar o melhor tratamento", alerta.
No caso de uma irritação contínua, o tratamento pode ser medicamentoso, como o uso de remédios anti-inflamatórios. "Para casos leves, [é indicado] o uso de lágrimas artificiais ou lubrificantes. Anti-inflamatórios são para quando a pessoa tem a sensação de queimação ou olhos vermelhos. E, em casos mais severos, pode ser considerada até a inserção de um plug lacrimal, para manter a lágrima por mais tempo", explica o especialista.
Segundo Ferenczy, o plug lacrimal é um ponto de silicone que pode ser colocado nos pontos lacrimais para evitar que as lágrimas sejam drenadas muito rapidamente. Como há dois pontos em cada olho, ao ocluir um deles, a lágrima se acumula e diminui a secura. "É um procedimento bem simples, realizado no consultório mesmo."
Não vale qualquer colírio
As lágrimas artificiais são colírios sem conservantes e que podem ser usados sem muitos problemas. Mas é preciso que a pessoa tenha certeza de se tratar de um lubrificante sem substâncias vasoconstritoras ou corticoides.
"Muitas pessoas usam colírios com corticoides porque eles têm um efeito anti-inflamatório muito bom. Mas, se forem usados por um período prolongado, podem elevar a pressão intraocular e levar ao glaucoma, e também estimular o aparecimento precoce da catarata", explica Ferenczy.
O especialista destaca que, embora com riscos, esse tipo de situação é bastante comum. "Atendi essa semana dois pacientes que usavam há um ano corticoide. Eles não tiveram orientação e, durante a pandemia, com a redução na procura por consultas de rotina, acabaram se automedicando", exemplifica.