É importante enfatizar para o paciente e a família que a enxaqueca não é uma doença imaginada ou psicológica| Foto: Bigstock
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Muitas vezes o caminho até o diagnóstico da enxaqueca na criança é longo e passa por oftalmologistas, otorrinolaringologistas e gastroenterologistas, até chegar a um neurologista.

Em crianças, enxaquecas são confundidas pelos pais com situações mais simples, como sinusite, cólicas abdominais, dor de cabeça tensional, sintomas psicológicos (somatização) ou, ainda, com mais complexas, como tumores cerebrais e aneurismas.

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“Ele ganha prescrição de óculos, diagnóstico de sinusite ou tratamento para o fígado, mas não resolve a dor”, diz o neuropeditara Paulo Faro, do Instituto de Neurologia de Curitiba. “A enxaqueca faz enxergar pior, o paciente pode ter náusea e vômito, isso acontece porque ela é uma doença multissistêmica, que ocorre no cérebro, mas mexe no organismo todo”, explica ele.

Segundo os especialistas, muitas vezes os pais minimizam as dores de crianças e adolescentes como se fossem manha, mesmo eles não querendo ir ao colégio, não fazendo tarefa de casa, não querendo obedecer.  “É importante enfatizar para o paciente e a família que a enxaqueca não é uma doença imaginada ou psicológica”, comenta o neuropediatra Antônio Carlos de Farias, do Hospital Pequeno Príncipe.

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Sem diagnóstico

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Ter diversos episódios de enxaqueca e demorar a buscar o tratamento pode gerar, na criança e adolescente, ansiedade, depressão e uso crônico de analgésicos, induzindo à tolerância a esses remédios, o que exige mais vezes de uso e maiores dosagens. “Pode haver ainda prejuízo funcional e relacional com faltas escolares, mudanças de comportamento e isolamento”, fala.

Qualquer doença, quando não tratada, evolui, diz Faro. No caso da enxaqueca, frequência, intensidade e duração das crises podem aumentar. “A criança pode se tornar “chata”, pois reclama de tudo, pode desenvolver depressão, ansiedade e ser vítima de bullying”, diz.

Tomografia e ressonância

Por pressão da família ou para reduzir a ansiedade dos pais, muitas vezes tomografia e ressonância são realizadas, apesar de uma boa anamnese e exame físico serem suficientes para maior parte dos diagnósticos. “Tumores e aneurismas envolvem sintomas de hipertensão intra-craniana (dor de cabeça intensa que motiva despertar noturno, vômitos) e alterações no exame neurológico. Nesses casos, sim, há a necessidade de exames de imagem”, recomenda Farias.

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O que fazer

Com o diagnóstico de enxaqueca, caso um episódio ocorra, leve seu filho a um quarto escuro e silencioso, para que adormeça. Usar gelo ou pressionar a área dolorosa pode aliviar temporariamente. Veja o que fazer de acordo com o ataque:

  • Dores leves e pouco frequentes: repouso, prevenção de gatilhos, e analgésicos. Sono adequado, refeições regulares, hidratação adequada e evitar sobrecarga na agenda são importantes.
  • Dores leves a moderadas: analgésicos (Dipirona) ou medicamentos anti‐inflamatórios (Ibuprofeno) são eficazes se dados durante a fase de aura ou dor de cabeça precoce. A cafeína pode ajudar a potencializar o efeito do analgésico. Náuseas e vômitos ocorrem frequentemente durante as crises e são decorrentes de estase gástrica, podendo interferir na absorção de medicamentos orais. O uso precoce de um antiemético pode ajudar a aliviar os sintomas e facilitar o sono.
  • Dores moderadas a graves: os analgésicos podem ser eficazes, principalmente se usados pela via intravenosa. Também podem ser usadas drogas mais específicas como os triptanos.
Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Tratamento

O tratamento da enxaqueca na infância é categorizado como profilático (medicação preventiva para evitar a dor e estratégias para identificar e evitar os potenciais gatilhos das crises) e abortivo (controle da dor de cabeça no momento em que ela ocorre). “Considerando-se uma contraindicação ou outra e o ajuste das doses em função do peso, os medicamentos geralmente são os mesmos utilizados para o adulto”, aponta Farias.

Nesta idade é possível lançar mão de tratamentos não-medicamentosos, pois muitas crianças respondem bem a eles. Em fase pré-vestibular; acompanhamento psicológico pode ajudar; assim como fisioterapeuta caso haja dores musculares e no pescoço; acompanhamento nutricional se a criança for obesa.

Se ela tem uma disfunção temporo mandibular, o cirurgião dentista pode tratar, diz Faro. Outros tratamentos não farmacológicos, como autorelaxamento, biofeedback e auto-hipnose podem ser alternativas razoáveis ao tratamento farmacológico no manejo da enxaqueca infantil, particularmente em adolescentes, segundo Farias. Remédios nutracêuticos também podem ser usados, como doses alimentares ajustadas que são terapêuticas, como magnésio, vitamina B12, B6 e algumas enzimas, complementa Faro.

Como é feita a profilaxia

Tratamentos profiláticos da enxaqueca envolvem uso diário de medicamentos para reduzir a frequência e intensidade das crises, por pelo menos 12 meses. Destacam-se a ciproheptadina, propranolol, amitryptilina e anticonvulsivantes.

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