Escorregar no piso da cozinha ou tropeçar naquele degrau baixinho entre um cômodo e outro da casa pode parecer algo inofensivo. No entanto, se a vítima é idosa, essa queda pode trazer perda severa de mobilidade, fraturas, internações e até o agravamento de outros quadros clínicos. Por isso, “é essencial pensar em precauções para evitar esses acidentes”, afirma o médico especialista em saúde do idoso, Gilberto Berguio Martin.
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Segundo ele, isso acontece porque o processo de envelhecimento reduz a funcionalidade muscular do indivíduo, além de aumentar suas chances de desenvolver doenças relacionadas à visão, audição, perda de equilíbrio e tonturas. “Então, um obstáculo no caminho, escadas ou pisos muito claros e lisos, por exemplo, podem se tornar um problema”.
Foi pensando nisso que a técnica de enfermagem Cláudia Maria Favretto de Oliveira incentivou seus pais a tomarem precauções já durante a construção da casa. “Os dois tinham 68 anos na época e decidiram que a residência seria térrea e com portas mais largas que o padrão”, relata a curitibana, ao citar como isso fez diferença anos depois. “Eles passaram a usar cadeiras de rodas e de banho, então a acessibilidade da casa tornou essa situação um pouco mais leve”.
Nesse período, a família também mudou móveis de lugar para abrir espaço dentro da casa, aumentou a luminosidade dos cômodos e facilitou o acesso ao banheiro principal. “Sem contar que uma luz ficava acesa durante a noite e o abajur estava sempre ao alcance das mãos”, recorda Cláudia.
De acordo com Gilberto Berguio Martin, esses são alguns dos cuidados que previnem quedas graves e que devem ser levados em consideração na moradia de qualquer pessoa com mais de 50 anos. “Afinal, em uma ou duas décadas, eles também perderão funcionalidade muscular devido à idade”, alerta o especialista, ao citar algumas dicas para a segurança dos idosos dentro de casa.
- Cuidado nas escadas
O ideal, segundo o médico, é evitar escadarias na residência. No entanto, se isso não for possível, é importante certificar-se de que os degraus têm largura suficiente para os pés, com piso antiderrapante e faixas coloridas na parte dianteira para facilitar a identificação visual. “Além disso, coloque corrimões, luminárias de rodapé que acendam a noite em cada degrau, e avalie a instalação de um elevador interno futuramente”. - Evite pisos lisos ou muito claros
Dar preferência aos pisos antiderrapantes e com cores mais escuras reduz a chance de escorregões, principalmente devido às alterações visuais decorrentes do envelhecimento. - Adapte o banheiro
O ambiente mais crítico da residência costuma ser o banheiro, já que o indivíduo pode escorregar no piso molhado e não ter nada firme para se segurar. “Então, além de preferir os pisos antiderrapantes, coloque um box fechado com vidro forte para prevenir que a pessoa acabe quebrando o vidro e se machuque ainda mais”, orienta o médico, ao sugerir também que cortinas sejam evitadas nesse cômodo. “Mas, se precisar mesmo usá-las, elas precisam estar bem presas”.
Outra necessidade nessa parte da casa é a instalação de barras de apoio perto do chuveiro e ao lado do vaso sanitário, pois o idoso perde força muscular e sente dificuldade para levantar. “Inclusive, a patente não pode ser muito baixa devido à mesma razão”, pontua. - Facilite os acessos
Como a perda de mobilidade é comum nessa faixa etária, é importante que o quarto do idoso seja próximo ao banheiro e que a casa tenha acessibilidade para cadeira de rodas, caso ela seja necessária. Para isso, é importante ter rampas com corrimões na área externa, portas mais largas em toda a residência e corredores livres para passagem. “E, claro, evite degraus entre um cômodo e outro, porque a pessoa não vê e acaba tropeçando com facilidade”, orienta Gilberto. - Luzes durante a noite
Também é necessário deixar a casa bem iluminada para evitar quedas no período noturno. Para isso, vale deixar a cama e o sofá próximos aos interruptores de luz, manter uma luminária sempre acesa e instalar luzes de rodapé, principalmente onde há escadarias e no caminho até o banheiro.
- Mantenha a casa organizada
Nada de deixar objetos espalhados pelo chão do quarto ou da sala, e nem guardar as roupas favoritas nas áreas mais altas do armário. Além disso, itens de cozinha também devem ficar em gavetas e portas mais baixas para evitar que o idoso se machuque ao tentar alcançá-los.
Além das mudanças estruturais da residência, que podem ser supervisionadas pelo próprio idoso, mas que muitas vezes ficam sob os olhares cuidadosos dos filhos e netos, Martin sugere duas outras questões importantes, que aí sim têm de ser administradas pelos familiares:
- Orientações frequentes
Incentive o idoso a pedir ajuda sempre que precisar, a ter telefones de emergência em local de fácil acesso e a manter cuidados básicos, como não levantar rápido da cama, por exemplo. “Isso evitará que ele faça uma hipotensão postural, tenha tontura e caia”, alerta o médico. - Atividades físicas
Por fim, é importante sempre realizar atividades de fortalecimento muscular com exercícios de resistência, alongamento e equilíbrio. Segundo o especialista, o ideal é duas vezes por semana com acompanhamento de um educador físico. “E, se possível, intercalar com uma caminhada, pois isso fortalece as pernas, auxilia na saúde pulmonar e previne doenças como hipertensão arterial e diabetes”.