Ainda longe das escolas, com o lazer e o contato com amigos limitados ao uso de dispositivos eletrônicos, a visão das crianças pode estar em risco caso algumas medidas não sejam tomadas pelos pais.
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Além da influência genética no desenvolvimento da miopia –aquela dificuldade de se enxergar para longe –, aspectos ambientais também estão por trás do desenvolvimento desta condição, entre elas a falta da exposição à luz solar, como levantado em estudo feito pela Universidade Nacional Australiana de quase uma década e que, hoje, com a pandemia e o confinamento, volta à tona.
A miopia é uma alteração visual que inicia na infância e progride durante a fase de crescimento, tendendo a estacionar no fim da adolescência, quando o globo ocular para de crescer, como explica Pérola Iankilevich, professora e oftalmologista pediátrica que trabalha com foco principal em estrabismo, córnea e transplante, do Hospital Pequeno Príncipe.
Sabe-se por aquele estudo de 2012 que, na Ásia, até 90% das crianças são míopes, e que na África não chega a 5%, de acordo com o oftalmologista Leon Grupenmacher, professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). “Em países em que as crianças não ficam tão confinadas, vão a pé para o colégio, viu-se que a miopia atinge menos. Então, além da genética, concluiu-se também que a luz solar influencia no desenvolvimento da miopia. Isso porque a luz regula a produção da dopamina, que interfere no tamanho final que o olho adquire. E a gente sabe que quanto maior o olho, mais míope a pessoa será”, diz ele.
A miopia ambiental se desenvolve até o 8° e 9° ano de vida, de acordo com Grupenmacher, e se relaciona também ao fato de não se abrir e fechar tanto a pupila (menina do olho), forçando sempre a visão e dilatando pouco essa estrutura. “Menos piscagens e muito uso do poder de focalização, como ao usar eletrônicos, também influencia na produção de dopamina”, diz ele.
Segundo Pérola, além da falta de luz solar, deficiência de Vitamina D, excesso de uso de eletrônicos e falta de atividades físicas também acabam interferindo no desenvolvimento da miopia, segundo estudos recentes.
Na pandemia
Além da possibilidade de aumentarem os graus de miopia, há uma preocupação, segundo Pérola, de que o excesso de tempo dentro de casa usando muito os eletrônicos possa trazer ainda outras queixas oculares. “Entre elas estão olhos secos, com ardência ocular, sensação de areia, prurido, dores de cabeça e piora de alguns casos de estrabismo”, diz a oftalmologista.
A recomendação, segundo Grupenmacher, é de os pais promoverem a exposição de sol diária, de 2 a 3 horas, seja levando o filho para caminhar ou andar de bicicleta, seja fazendo passeios no parque e até mesmo ao levar o cachorro para dar uma volta.
“O ideal é levar as crianças para fora e fazer com que usem a visão de longe e trabalhem o metabolismo, porque a visão precisa de exposição ao sol e da Vitamina D”, diz Pérola.
Orientações
A oftalmologista Pérola Iankilevich indica algumas atitudes para se tomar imediatamente:
- Ao assistir às aulas no online, evite tablets e celulares. Nos intervalos de aula, descanse a visão fazendo outras atividades;
- Não traga tablets/celulares perto do rosto, deixe-os sobre a mesa ou use-os com os braços esticados, dando preferência para assistir filmes/séries na tevê ou no computador, pois a distância dos olhos é maior;
- Regule o tempo de uso e faça intervalos frequentes, valendo a regra dos 20 minutos de uso X 2 minutos de descanso olhando para longe ou “dando uma voltinha” para tomar uma água, por exemplo;
- Faça uso de colírios lubrificantes com frequência, e se hidrate bastante (vale também para os adultos!);
- Faça atividades ao ar livre, pelo menos duas horas por dia, de preferência nos horários de sol, como caminhar, brincar no parquinho, praticar esportes, passear com o cachorro, deixando de lado eletrônicos,
- Evite o uso de eletrônicos pelo menos 1 hora antes de dormir, o que melhora a qualidade do sono e do descanso e não deixe adolescentes “vararem” a noite em jogos on-line.