O Transtorno Depressivo pode se apresentar tanto em um único episódio quanto em episódios múltiplos, além de quadros persistentes.
Quando a depressão volta pode ser o transtorno recorrente, que dá sinais de que algo não vai bem.| Foto: Bigstock

Muita gente que tem depressão, porém estabilizada, quando se depara com alguns sinais de desconforto, acredita que a doença possa estar "voltando". Como ela não ocorre de maneira igual para todo mundo, a dúvida sobre seu retorno existe mesmo após algum tempo sem episódios depressivos.

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Antes de qualquer coisa, é bom saber que o Transtorno Depressivo pode se apresentar tanto em um único episódio quanto em episódios múltiplos (recorrente), além de poder se manifestar como quadros persistentes, o que leva o nome de Distimia.

Então, a depressão pode voltar e é algo comum, segundo o psiquiatra André Astete. “A maior parte das pessoas que já teve quadro depressivo um dia vai ter outra depressão e, quanto mais depressões a pessoa tiver na vida, maiores as chances de ter novos episódios”, diz.

Isso porque até 80% dos pacientes, segundo pesquisas, vão ter mais de um episódio depressivo (em média quatro episódios na vida), muitas vezes associados a situações gatilhos como a separação conjugal, a morte de um ente querido e problemas no trabalho, exemplifica o psiquiatra Luiz Gustavo Piccoli de Melo, professor da PUCPR e doutor em Ciências da Saúde.

Estudos têm revelado também, segundo Astete, que os primeiros episódios costumam estar mais relacionados à exposição a situações de estresse, tendo um fato relevante associado. “Ou seja, as primeiras depressões costumam ter um ‘motivo’, enquanto a partir daí essa relação se perde e os pacientes passam a perceber que deprimem mesmo em fases em que não atribuem um cenário estressante especial”, diz ele. De certo modo, explica o psiquiatra, é como se houvesse uma espécie de época em que se ativa uma vulnerabilidade espontânea a ficar deprimido. “Quanto mais a pessoa se deprime, mais facilmente isso ocorre por motivadores que passam a ser banais, até o ponto de não haverem mais precipitadores”, diz Astete.

Como a cura definitiva não ocorre para todos, por este motivo, hoje, o Transtorno Depressivo é visto, na maioria das vezes, como uma doença crônica como a hipertensão e a diabete. “O objetivo do tratamento acaba sendo o controle dos sintomas (tanto com psicoterapia quanto com abordagem medicamentosa) buscando restabelecer o funcionamento normal do indivíduo, além de estimular o desenvolvimento de hábitos saudáveis”, diz Piccoli de Melo.

Vai-e-volta

O tipo de depressão que vai-e-volta é a chamada de Transtorno Depressivo Recorrente, quando há dois ou mais episódios depressivos com períodos de eutimia (humor normal) entre os episódios, explica Piccoli Melo. “Um ponto importante nesses casos é diferenciar se realmente ou é um novo episódio depressivo, ou se é o mesmo episódio não tratado corretamente”, diz ele.

Segundo Astete, a depressão recorrente se refere a mais de três episódios depressivos em cinco anos, mas há quem nunca chegue a ficar totalmente bem e cujo humor sempre esteja em oscilação, com períodos de exacerbação e de redução. “Pacientes crônicos tendem a apresentar essa sobreposição: depressão recorrente associada a vulnerabilidades a estresses, podendo desenvolver um quadro crônico de base em que a pessoa não fica totalmente bem e tem temporadas em que piora em intervalos previsíveis”, diz.

Papel da família

Para quem convive de perto com quem tem depressão, perceber mudanças de comportamento ajuda a entender o quadro e auxilia na recuperação. Entre o que vale observar, segundo Piccoli Melo, está se o familiar tem um humor depressivo ou falta de prazer em fazer atividades que anteriormente fazia (ir ao trabalho, se reunir com amigos), um maior isolamento social (a pessoa não quer sair mais de casa, não quer encontrar mais os amigos), alterações no sono (dorme demais ou de menos), alteração no apetite (come demais ou de menos), se fica mais irritado que o normal (briga por coisas banais), fica mais emotivo e chora por qualquer coisa, fica mais desconcentrado (pode ter dificuldade nos estudos e no trabalho), além de não ver mais sentido nas coisas, podendo expressar que a vida não tem mais sentido ou que não deseja mais viver.

Porém, a observação externa não é tão eficaz para perceber detalhes do agravamento de um quadro depressivo, de acordo com Astete, pois que o paciente sente muito mais do que aquilo que demonstra. “De todo modo, o familiar ajuda ao verificar se há mudanças na iniciativa, prejuízos maiores na estabilidade emocional, mais apatia e ineficácia prática vista no hábito da procrastinação e dificuldade de concentração e memória, principalmente em idosos.”

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