A depressão nem sempre tem cura à vista, mas pode ser controlada ou ter seus efeitos atenuados com terapias, inclusive medicamentosas. Para quem vive um episódio do transtorno, é um alívio concluir que, talvez, ele possa estar finalmente passando.
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Não existe uma regra, mas na prática clínica um dos primeiros sintomas que indicam a melhora do quadro é a regularização do padrão de sono, como explica o psiquiatra Luiz Gustavo Piccoli de Melo, professor do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). “Associado a isso, o paciente vai apresentando gradualmente melhora no funcionamento global, diminuição da tristeza, do desânimo, vai ficando menos emotivo e mais ativo até alcançar a recuperação total dos sintomas (meta do tratamento)”, diz ele.
Não há nada que precise ser investigado mais a fundo para compreender essa “saída” da depressão, segundo o psiquiatra André Astete. “O médico não busca nada oculto ou mais complexo do que perguntar ao paciente como ele está sentindo, pedir para descrever como se comportam os sintomas referidos anteriormente, se estão desaparecendo”, diz ele.
Além de deixar de ter sintomas depressivos, segundo Astete, é bastante sugestiva a recuperação das experiências positivas, a sensação de prazer, de alegria. “Então vemos emoções positivas como marcadores de melhora importantes, como o paciente relatar dias em que se sente entusiasmado, mais facilmente alegre, com sensações positivas de otimismo”.
Porém, diz Piccoli de Melo, é importante que o paciente saiba que, muitas vezes para se alcançar a recuperação total dos sintomas, além da abordagem psicoterápica e da mudança de estilo de vida (hábitos saudáveis, melhora da alimentação, atividade física regular), pode se fazer necessária a realização de associações medicamentosas, assim como ocorre no tratamento de outras patologias crônicas como a Hipertensão Arterial e o Diabete. Então, durante o processo de arrefecimento dos episódios depressivos, pode passar na cabeça do paciente o desejo de abandono dos medicamentos psiquiátricos, nem sempre recomendado.
Deixar os medicamentos?
É comum: há pessoas que tomam medicamentos para depressão e que tentam, de tempos em tempos, deixar o remédio ou praticar um intervalo para averiguar se a situação permanece. Segundo os médicos, esse comportamento acarreta riscos. “A adesão medicamentosa é um desafio, visto que até 60% dos pacientes não aderem corretamente ao uso da medicação e, muitas vezes, tentam parar sem orientação médica por diversos motivos, como medo de ficar dependente, por estigma ou orientação errada de amigos ou familiares”, diz Piccoli de Melo.
Os antidepressivos são medicações cujos efeitos terapêuticos demoram a ter início, ao menos duas semanas após se chegar à dose de tratamento, segundo Piccoli de Melo, e necessitam do uso contínuo e prolongado. “A duração do tratamento de um episódio depressivo gira em torno de ao menos um ano, entretanto, a depender da gravidade do quadro e do número de episódios prévios, pode ter um prazo indeterminado”, afirma o psiquiatra.
Segundo André Astete, a maior parte dos tratamentos de depressão tem limite planejado e, depois disso, há um período em que se vai ter condições de retirar o remédio se a pessoa demonstrar que pode permanecer estável sem usá-lo. “Uma pessoa que, pela primeira vez na vida, tem depressão, começa o tratamento com remédio, que leva algumas semanas para funcionar e fica bem nesta primeira fase, que se chama de tratamento da fase aguda. Daí, ela mantém por mais um ano, que é a segunda fase do tratamento, a terapia de continuação. Depois de um ano o risco de recaída de sintomas pode ter diminuído muito, aí sim os médicos estão autorizados a reduzir e até a suspender o remédio”, diz ele.
Por este motivo, segundo Piccoli de Melo, interrupções precoces aumentam o risco de um novo episódio depressivo. “Além disso, o tratamento incorreto com várias interrupções faz com que cada vez fique mais difícil se tratar o episódio depressivo, aumentando o risco de complicações”, afirma o psiquiatra.
Mas ele confirma que após o tratamento de um episódio depressivo, o médico, junto com o paciente, e a depender da gravidade do episódio, o histórico clínico e do momento de vida atual do paciente, pode optar por dar “férias” da medicação, que pode durar de um mês a dez anos”, cita ele, e a iniciar a redução gradual, até a suspensão da medicação. “Entretanto, existem casos em que, devido a gravidade do quadro, o uso da medicação deve ser contínuo”.
Astete afirma que a pessoa pode passar muitos anos sem precisar tratamento, mas se a pessoa já teve muitas depressões ou tem algo mais crônico, pode não ser eficaz suspender medicação. “Quando a pessoa tenta suspender fora desses critérios de segurança, o mais comum é acabar havendo recaída e, às vezes, criando até algum tipo de resistência ao tratamento antidepressivo, algo não muito comum”, diz ele, assinalando que, quando o médico define tecnicamente que a pessoa precisa usar cronicamente um medicamento que previna a depressão é porque realmente acredita-se que a estabilidade sem medicamento não será prolongada, com a tendência de os sintomas voltarem.