Pessoas infectadas pelo novo coronavírus, e que passaram pela doença, podem sair dela com sequelas. O alerta foi dado por autoridades de saúde de Hong Kong, que identificaram uma redução na função pulmonar de até 30% em alguns pacientes.
Os dados foram divulgados na metade de março, quando o primeiro grupo de pacientes recuperados da Covid-19 foi liberado pelos médicos, o que somava cerca de 12 pessoas. Até o dia 20 de março, Hong Kong tinha 256 casos confirmados e 98 recuperados.
Dos pacientes desse primeiro grupo, o diretor médico do Centro de Doenças Infecciosas do Hospital Princesa Margaret, Owen Tsang Tak-yin, disse à imprensa local que dois a três não conseguiam manter as mesmas atividades que costumavam ter antes da doença. "Alguns pacientes tiveram uma redução de 20% a 30% na função pulmonar. Eles sentem falta de ar quando caminham com mais velocidade", disse o diretor médico.
Exames de imagem dos pulmões dos pacientes mostraram que, em nove deles, havia um padrão de inflamação de vidro fosco, o que poderia sugerir danos ao órgão. No entanto, danos mais severos, como fibrose pulmonar, não poderiam ser confirmados ainda.
Sequelas da Covid-19
Devido a diferença de tempo da doença, o Brasil é um dos países em que questões de sequelas ainda não estão sendo discutidas. Isso, porém, tende a mudar conforme o avanço da Covid-19. "É uma coisa meio esperada, que não está se falando muito por causa de outros aspectos. Falamos mais da parte epidemiológica agora, mas temos a experiência de outras épocas, como do H1N1, de 2009", explica Irinei Melek, médico pneumologista, presidente da Associação Paranaense de Pneumologia e Tisiologia, e preceptor de Pneumologia do Hospital Angelina Caron.
O médico lembra que, dos pacientes que tratou com H1N1, há dois que ele ainda acompanha, pois desenvolveram a fibrose pulmonar. "O que a Covid-19 grave faz é uma inflamação do vidro fosco, de parte do pulmão chamado de interstício, e faz o que se chama de bronquiolite. Toda inflamação pode ter uma recuperação total ou parcial e alguns casos podem desenvolver fibrose", reforça Melek.
O médico lembra ainda que não se sabe como a doença vai evoluir aqui no Brasil, e os danos que poderá causar. "Se será 20% ou 30% [de dano pulmonar], não conseguimos quantificar isso, porque estamos muito no início da crise. Temos que olhar para esse paciente daqui seis meses, um ano, com uma sequência de tratamento. Mas é algo esperado", argumenta.
Doenças crônicas
Com relação a pessoas que já tenham doenças crônicas pulmonares, como a DPOC ou asma, o médico pneumologista disse que os dados atuais não apresentam essa informação. "Claro que, se tiver DPOC, com metade do funcionamento pulmonar, e desenvolver um quadro grave de Covid-19, provavelmente seguirá a uma pneumonia e pode ser fatal", explica.
No caso dos tabagistas, o especialista diz que, a partir de um raciocínio lógico, mas não baseado em dados concretos, esse seria um grupo também em risco para complicações pela Covid-19. "A impressão é que tenha uma piora, mas geralmente porque são pessoas que já têm outras doenças", completa.