Estudo indica facilidade de transmissão do coronavírus em voos, mas medidas de segurança reduzem o risco de infecção| Foto: Bigstock
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Quatro pessoas foram infectadas com o novo coronavírus durante um voo entre Dubai, nos Emirados Árabes, e Auckland, na Nova Zelândia, em setembro do ano passado. No mesmo voo, havia mais duas pessoas que, sem saber, embarcaram com a doença e uma que desenvolveu a Covid-19 depois, durante a quarentena no destino.

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Todos esses casos foram analisados com atenção por uma equipe de pesquisadores do Instituto de Pesquisa e Ciência Ambiental, na Nova Zelândia, para verificar possíveis pontos de infecção durante um voo prolongado. Na avaliação dos especialistas, o Sars-CoV-2 é capaz de se propagar facilmente durante um voo.

Isso não significa, porém, que os aviões sejam os culpados, ou que não há nada a se fazer.

Publicado na revista científica Emerging Infectious Diseases no fim de fevereiro, o estudo destaca que nem todos os passageiros fizeram uso da máscara, visto que não era uma medida obrigatória. Além disso, durante uma parada de duas horas para que a aeronave fosse abastecida em Kuala Lampur, o sistema de ventilação foi interrompido.

Esses detalhes importam, segundo Mauro Tamessawa, médico infectologista e professor do curso de Medicina da Universidade Positivo, em Curitiba. "O sistema de renovação do ar dos aviões é eficiente. Metade do ar que entra é novo, vem da parte externa do avião, e a outra metade é filtrada por um filtro HEPA, que segura as partículas. Seria como usar uma [máscara do tipo] N95. O avião, teoricamente, fica com o ar relativamente seguro", explica.

Uma vez que todo o sistema de renovação do ar esteja desligado, o risco de transmissão dentro da aeronave aumenta — e piora dependendo do tempo que os passageiros permaneçam nessa situação. "O que é bem claro e evidente hoje: quanto maior o tempo de exposição, maior o risco. Em voos super longos, o risco será maior. Tomando todas as medidas de cuidado, o risco diminui, mas nunca será zero", destaca o especialista.

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Ameaça ao lado

Locais apertados, como os aviões, invariavelmente promovem a aglomeração de pessoas, de acordo com David Urbaez, médico infectologista do laboratório Frischmann Aisengart. Se o passageiro ao lado retira a máscara por qualquer motivo, e troca meia dúzia de palavras com o colega de viagem, um litro de ar entra e sai a cada respiração, e que pode estar contaminado pelo coronavírus.

"Antes da pandemia, vivíamos, e ainda vivemos, nas secreções dos outros. É uma nuvem de saliva que está o tempo todo nos outros, e em nós. Em um momento de pandemia, como o Sars-CoV-2, isso é crítico", desenha o especialista.

Por isso a importância de usar máscaras mais eficazes durante todo o trajeto, e dessa ser uma das exigências das companhias aéreas. "Se uma pessoa ao lado está doente, é bem difícil você escapar se não tomar cuidados extremos. Por exemplo, usar uma máscara N95, óculos de proteção, lavar bem as mãos e não comer no voo porque, se a pessoa ao lado fizer a refeição no mesmo momento, é o risco que você vai correr", acrescenta Tamessawa.

O professor lembra ainda como o fator "tempo de voo" também influencia. "Quanto mais tempo você passar ao lado de alguém infectado, mais chances você vai ter de cometer erros, e o ser humano erra. Você vai colocar a mão no rosto, olho, nariz ou boca, vai tirar a máscara para comer, e vai acabar se expondo", destaca o infectologista.

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Cuidado com as superfícies

Embora no dia a dia as superfícies e objetos não sejam a principal via de transmissão do coronavírus, em um ambiente fechado como os aviões esse é um risco a ser considerado.

"Ali você tem inúmeras superfícies e que ficam muito próximas, o tempo todo em contato com secreções. É uma ponta importante", alerta Urbaez.

Testagem antes e depois

Dos sete passageiros contaminados e avaliados no voo para a Nova Zelândia, cinco tinham recebido um resultado negativo para o novo coronavírus antes de viajarem. Isso se explica porque, caso o teste tenha sido feito muito no início da doença, não seria possível detectar a presença do vírus — embora ele estivesse lá.

Para aumentar a confiança nos resultados, a orientação do infectologista David Urbaez é para que se teste antes e depois da viagem, em um intervalo de 72 horas entre cada testagem. "No mundo ideal, todos teríamos autoteste e, testando todos os dias, aumentaríamos a sensibilidade [do resultado]. Mas, por ora, a testagem única não consegue ser suficiente. Ela não tem o poder para dizer que a pessoa não tem o vírus", explica.

Segundo o infectologista Mauro Tamessawa, a dupla testagem teria outro papel: alertar as pessoas que estiveram próximas do indivíduo com o resultado positivo. "Assim como medir a temperatura, o teste não é algo que garante 100% de eficácia [para prevenir a disseminação do vírus], mas reduz o risco. Com o teste você sabe que só terão pessoas no avião no início do quadro da doença, no máximo. Ninguém no meio, ou em uma fase com sintomas, em que estarão tossindo e espirrando, que facilita a transmissão", explica o especialista.

Some os cuidados

Nenhuma medida, sozinha, será 100% eficaz contra a disseminação do coronavírus, mas é importante olhar para a somatória dos cuidados. Confira abaixo algumas sugestões de medidas de proteção que podem ser agregadas ao uso da máscara corretamente, ao distanciamento e à higienização das mãos, de acordo com os especialistas, para viagens de avião:

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  • Não viaje, se não precisar. A primeira orientação dos infectologistas é para que, caso não seja absolutamente necessário, não viaje. Com isso, reduz o número de pessoas em cada aeronave e, consequentemente, a aglomeração.
  • Use um óculos de proteção ou face shield. Além da máscara, usar uma camada extra de proteção evita que você coloque a mão no rosto sem perceber. Valem óculos de proteção ou aqueles escudos faciais, os face shields.
  • Evite se aglomerar no aeroporto. Embora os cuidados dentro das aeronaves sejam importantes, vale também ficar atento já no aeroporto. Evite aglomerações e, se puder, não tire a máscara.
  • Sente na janela. A vantagem de sentar-se em um assento perto da janela é ter apenas uma pessoa ao lado. Mas não é uma medida totalmente à prova de falhas, visto que há relatos de infecção até três fileiras de distância.
  • Álcool em gel sempre disponível. Carregar um álcool em gel é essencial para a higienização frequente das mãos durante o voo.
  • Evitar voos longos, sempre que possível. Quanto menor tempo de exposição, menor o risco.
  • Ligue o ventilador do teto. O vento gera uma pressão para que as gotículas cheguem mais rapidamente ao chão, diminuindo o risco.