A agência reguladora de medicamentos norte-americana Food and Drug Administration (FDA) emitiu um alerta para o risco potencial de um remédio emagrecedor — também vendido no Brasil — estar associado ao desenvolvimento de câncer.
A lorcasserina, cujos nomes comerciais são Belviq e Belviq XR, é um remédio emagrecedor com ação na região do hipotálamo do cérebro, diminuindo a sensação de fome. É indicado a pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) 30 ou maior, categoria de obesidade, ou IMC 27 em pacientes com sobrepeso, com comorbidades associadas ao peso, como hipertensão e diabetes tipo 2.
No Brasil, a medicação foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2016 e passou a ser comercializada em outubro de 2019. Na época, o Belviq foi destacado pela comunidade médica pelo menor risco cardíaco associado — fator associado aos antigos medicamentos emagrecedores.
Quando aprovado nos Estados Unidos, em 2012, a agência solicitou ao fabricante Eisai Inc. um estudo clínico que avaliasse o risco cardíaco associado ao uso da medicação. Durante esse estudo, que acompanhou 12 mil pacientes em um período de cinco anos, percebeu-se que mais pessoas que fizeram uso do medicamento haviam recebido o diagnóstico de câncer em comparação aos participantes que não tomaram o Belviq.
“Nossa avaliação desse sinal potencial está em andamento, e nesse momento é incerto se a lorcasserina aumenta o risco de câncer”, alerta a agência norte-americana, em comunicado publicado no site. “Pacientes que atualmente fazem uso da lorcasserina devem falar com seus profissionais de saúde sobre o aumento no risco potencial de câncer com o uso da lorcasserina, de forma a tomar a melhor decisão sobre o próprio tratamento médico”, completa.
O FDA afirma que ainda está avaliando os resultados do estudo clínico e que comunicará as conclusões e recomendações quando as revisões forem finalizadas.
Belviq no Brasil
No Brasil, a lorcasserina recebeu a aprovação da Anvisa em 2016 e a empresa Eurofarma Laboratórios S.A mantém o registro do medicamento. Após o alerta do FDA, a agência brasileira emitiu um comunicado, disponível no site, em que alerta para a reavaliação de segurança do remédio.
A Anvisa comunica ainda que a comercialização e a distribuição do remédio foram suspensas de forma ativa pela empresa, até que a segurança do mesmo seja assegurada.
“Com isso, e considerando a missão central da Anvisa de promover e resguardar a saúde da população, bem como alicerçada no princípio da precaução, a Agência decidiu reavaliar os dados de segurança do medicamento, para subsidiar a decisão sobre a permanência ou não do produto no mercado brasileiro”, comunica a Anvisa.
Para a comunidade médica, a suspensão do medicamento mistura uma preocupação da segurança dos pacientes com tristeza.
“No final, quase não temos remédios para dar hoje [ao paciente com obesidade]. A gente vê com tristeza [a suspensão do medicamento], porque é mais uma droga que vai sair, mas eu não vejo como o FDA poderia se posicionar diferente. Isso porque havia mesmo um aumento, e não se poderia esperar as pessoas terem câncer”, comenta Rosângela Réa, médica endocrinologista do Serviço de Endocrinologia e Metabologia do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (SEMPR/HC/UFPR).
Ainda segundo a médica, o risco demonstrado pelo estudo ocorreu depois de um ano de uso e os pesquisadores não sabem apontar o mecanismo por meio do qual a medicação poderia causar a doença.
“A droga age só no hipotálamo. Não tem um mecanismo muito facilmente detectado para saber se está relacionada [ao câncer]. E foram câncer pancreático, de pulmão, colorretal, que não são esperados. Precisamos pensar também que nesse grupo [que fez uso da medicação] eram todos obesos”, explica a médica, que reforça o risco associado e comprovado entre obesidade e o desenvolvimento de câncer.
Antes de a medicação ser aprovada tanto pelo FDA quanto pela Anvisa, três estudos que somavam oito mil participantes foram feitos e nenhum risco para câncer havia sido detectado.
O que fazer?
Quem fizer uso do medicamento deve, primeiramente, buscar orientação médica. O risco, porém, não deve ser alto na avaliação da médica Rosângela Réa. Isso porque o Belviq só foi lançado no Brasil em outubro de 2019, embora tenha recebido a aprovação da Anvisa em 2016.
“A princípio só teriam alguma orientação os pacientes que tivessem tomado há mais de um ano. O desequilíbrio [observado no estudo clínico] começa a acontecer com uso prolongado”, explica a endocrinologista.