Algumas doenças são fatores de risco conhecidos para complicações da Covid-19, e a maioria dos brasileiros apresenta pelo menos uma delas| Foto: Cameron Casey / Pexels
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Dos fatores de risco associados a quadros mais graves da Covid-19, como doenças crônicas e idosos, mais da metade dos brasileiros adultos (54,4%) apresenta pelo menos um item dessa lista. São, ao todo, 86 milhões de pessoas em risco no país.

A informação foi compilada por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com dados de 51.770 participantes da Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo IBGE. Os resultados do estudo foram divulgados pela Agência Brasil.

Além da população idosa (considerada no estudo como aqueles acima de 65 anos), a pesquisa considerou também, como fator de risco para complicações da Covid-19, as doenças cardiovasculares, o diabetes, a hipertensão e a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Ainda, pacientes com cânceres diagnosticados há menos de cinco anos, quem passa por diálise ou por outro tratamento para doença renal crônica e pessoas com obesidade, asma moderada ou grave e tabagismo completam a lista.

Na última segunda-feira (11), inclusive, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu uma declaração sobre a relação entre o uso do tabaco e o risco de complicações pela Covid-19. Em nota divulgada pelo site da instituição, pede-se que quem ainda fizer uso do cigarro, busque medidas para cessar o tabagismo.

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Riscos entre adultos

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Excluindo dos dados a população acima dos 65 anos, a proporção de pessoas com fatores de risco para o novo coronavírus, segundo o estudo, ainda é significativa: 47%, ou quase a metade. Já entre os idosos, 75,9% deles têm ao menos outro fator de risco, como os listados acima.

"Ainda temos poucas informações da parcela da população que já foi infectada pelo vírus e, portanto, quando observamos em um estudo populacional, de amostra representativa da população brasileira, que mais de 50% dos adultos apresenta pelo menos um fator de risco para Covid-19 – desses que têm sido relatados na literatura – é bastante preocupante a tentativa de flexibilização. Não nos parece a melhor alternativa para esse momento", afirma Leandro Rezende, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina (EPM-Unifesp), coordenador da pesquisa, em entrevista para a Agência Brasil.

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Impacto da escolaridade

Os pesquisadores perceberam ainda que, entre as pessoas que completaram apenas a primeira etapa do ensino fundamental, os fatores de risco era mais frequente. Entre os adultos com esse perfil, 80,2% apresentavam pelo menos uma doença crônica associada a quadros mais graves da Covid-19. Já entre pessoas que concluíram o ensino superior, a proporção foi de 46%.

De acordo com o coordenador da pesquisa, a diferença se destaca pelas desigualdades econômicas e de acesso à saúde no país. Além de terem mais doenças que colaboram com complicações pelo novo coronavírus, são pessoas que não conseguem manter as medidas de isolamento, devido à vulnerabilidade social.

Esse também é o grupo que recebe menos diagnósticos das condições que são fatores de risco. "É possível que esse grupo ainda tenha um menor diagnóstico de doenças comuns como, por exemplo, diabetes, hipertensão e, portanto, ficamos bastante preocupados com esse resultado, o que sugere que a medida de isolamento social, especialmente para esse grupo, é bastante importante", explica o pesquisador à Agência Brasil.

"Novamente a pandemia vem ressaltando a importância do SUS nesse contexto. Com o SUS, a atenção primária foi altamente expandida no Brasil e, portanto, permite para essas pessoas terem, pelo menos, o mínimo de cobertura para assistência à saúde. É possível que seja subnotificado, mas o que vale ressaltar é que, se não fosse o SUS, certamente essa subnotificação seria maior ainda", completa Rezende.

Estados em maior risco

Ao analisar as informações divididas por estados, a pesquisa também foi capaz de demonstrar quais teriam uma proporção populacional em maior risco para complicações da Covid-19. Assim, o Rio Grande do Sul encabeça a lista, com 58,4% da população apresentando pelo menos um fator. Na sequência, São Paulo (58,2%) e Rio de Janeiro (55,8%). Nos estados com menor proporção, estão Amapá (45,9%), Roraima (48,6%) e Amazonas (48,7%).

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