Terceira idade é péssimo momento para exceder no consumo de álcool, assim como, principalmente, em duas outras fases da vida.| Foto: Bigstock
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Há muito se fala sobre os efeitos nocivos do álcool, quando consumido em excesso. Tanto que pesquisadores da Austrália e do Reino Unido realizaram um estudo que aponta evidências de maiores prejuízos do álcool ao cérebro, principalmente em três períodos da vida, nos quais há mudanças cerebrais dinâmicas, sendo eles: gestação, adolescência e terceira idade. Eles afirmam que as mudanças no neurocircuito acarretadas nesses três períodos tendem a aumentar a sensibilidade aos efeitos neurotóxicos do álcool.

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Na gestação, período que possui extensa produção, migração e diferenciação de neurônios, a ingestão de álcool pela mãe pode ocasionar a síndrome do Alcoolismo Fetal (FAS), tendo no Brasil de 1,5 a 3 mil casos por ano. As consequências disso são a redução generalizada no volume cerebral e o prejuízo cognitivo, a interrupção da criação de novos neurônios que acarreta lesões ligadas a funções cognitivas como a consolidação de novas memórias e ao processo de criação.

E mesmo o consumo baixo ou moderado de álcool durante a gravidez está significativamente associado a piores resultados psicológicos e comportamentais em crianças, observam os pesquisadores. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde 11,2% das gestantes, consomem bebidas alcoólicas nas américas.

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Já durante a adolescência, o consumo de bebidas alcoólicas promove a poda sináptica, ou seja, as conexões neurais são eliminadas. No Brasil, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que 26,8% dos jovens entre 15 e 19 anos relatam que consomem, ocasionalmente, bebida alcoólica em excesso. "Esse comportamento está ligado à redução do volume cerebral, desenvolvimento de substância branca mais pobre e déficits em uma faixa de funções cognitivas" acrescentam os especialistas.

Na terceira idade, a partir dos 65 anos, inicia-se a atrofia cerebral, na qual há diminuição no tamanho dos neurônios e redução no número de sinapses. Em todo o planeta, 50 milhões de pessoas vivem com demência, número que pode triplicar em 30 anos, de acordo com o Relatório Mundial sobre Alzheimer, de 2017. Em julho do ano passado, em um update da Comissão de Demência da Lancet, publicado pela revista, foram incluídos três fatores (aos sete já sinalizados anteriormente) que podem evitar os casos de demência. Entre eles, está a redução no consumo de álcool.

"Os distúrbios por uso de álcool são relativamente raros em adultos mais velhos, mas mesmo o consumo moderado de álcool durante a meia-idade tem sido associado a uma perda de volume cerebral 'pequena, mas significativa'", avaliaram os pesquisadores.

Demografia e pandemia

Além destes períodos de vida, os especialistas apontam que as tendências demográficas podem agravar o efeito do uso do álcool na saúde do cérebro, como também se prevê que o consumo global aumente ainda mais na próxima década. E embora os efeitos da pandemia da Covid-19 na ingestão de álcool e danos relacionados permaneçam obscuros, o uso de álcool aumentou a longo prazo após outras grandes crises de saúde pública.

Com os dados apresentados eles pedem então "uma abordagem integrada" para reduzir os danos do consumo de álcool em todas as idades: "Uma perspectiva de curso de vida sobre a saúde do cérebro apoia a formulação de políticas e intervenções de saúde pública para reduzir o uso e abuso de álcool em todas as idades", disseram eles em editorial publicado no portal BMJ.

"Intervenções baseadas na população, como orientações sobre consumo de álcool de baixo risco, políticas de preços de álcool e limites mais baixos para dirigir alcoolizado, precisam ser acompanhadas pelo desenvolvimento de treinamento e caminhos de cuidados que considerem o cérebro humano em risco ao longo da vida”, finalizam eles, reforçando que essas medidas devem ser tomadas afim de preservar o crescimento e envelhecimento de cada cidadão.