Tirar a bebida da rotina por conta própria pode gerar reação na reinserção do alimento
Tirar a bebida da rotina por conta própria pode gerar reação na reinserção do alimento| Foto: Bigstock

Em tempos de proliferação acelerada de fake news na área de saúde, uma delas envolve uma doença de alta prevalência no Brasil e um dos hábitos mais comuns entre os brasileiros. Mas tomar leite de vaca pode mesmo desencadear crises asmáticas? Para a alergologista Renata Cocco e a pneumologista Ana Luísa Godoy Fernandes, a resposta é um taxativo “não”.

A realidade, sim, é que pode haver alergia e intolerância ao leite. Muito mais comum em crianças do que em adultos, a alergia se dá às proteínas da bebida, enquanto a intolerância se dá à lactose, açúcar natural que pode não ser digerido, causando distensão abdominal (barriga estufada), excesso de gases e diarreia.

Exceto no caso de o indivíduo apresentar uma dessas condições, de modo geral pessoas normais não apresentam qualquer problema para digerir o leite. “Consumi-lo não acarreta processo inflamatório no sistema respiratório”, diz Renata, que coordena o Departamento Científico de Alergia Alimentar da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai).

Retirar o leite de vaca da rotina não reduz casos de crises respiratórias. Isso porque a asma que provoca tosse, chiado e falta de ar é comumente desencadeada por aero-alérgenos: poeira doméstica, pólen, pelo de animal, fumaça de cigarro e outros provenientes de queima de material como lareira ou fogão a lenha. “Os alérgenos alimentares em geral não provocam asma”, diz Ana Luísa, pneumologista da Comissão Científica de Asma da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) e professora da Escola Paulista de Medicina (Unifesp).

Segundo Renata Cocco, sintomas respiratórios só podem ser considerados parte de uma reação alérgica ao leite caso estejam associados a outros sintomas da alergia, que são vários, individuais e variáveis. “Ela pode se manifestar como urticárias, inchaço de olho e boca e até como anafilaxia, um comprometimento mais sistêmico que pode levar a óbito. Outras manifestações, não mediadas pelo igE, acometem principalmente crianças até os 2 anos, como diarreia, com ou sem presença de sangue e muco, vômito e refluxo exacerbado”, diz ela.

Tirar ou não?

As especialistas dizem que o leite não produz mais muco e que excluir em definitivo um alimento por suposição de que ele produz alergia pode causar problemas no futuro, em uma nova tentativa de consumi-lo. “É uma prática equivocada. Há evidências de que, quanto mais regular a ingestão de determinado alimento, menor a chance de se tornar alérgico a ele. Alguns pacientes com anticorpos – exames laboratoriais positivos para determinada proteína de algum alimento – mas sem reação clínica, podem vir a apresentar alergia caso haja um período sem consumo e, depois, uma reexposição ao alimento”, diz a alergologista .

Segundo as especialistas, não há alimento que possa realmente induzir a mais crises asmáticas. “Nenhum alimento deve ser relacionado a reações do tipo respiratórias, como crises de asma; assim como as crises asmáticas não podem ser tomadas como uma manifestação isolada de qualquer tipo de alergia alimentar. A asma é um sintoma raro, e que tem como principais fatores associados alérgenos ambientais e infecções virais”, finaliza Renata.

Desequilíbrio

Processos alérgicos têm relação com o intestino, um órgão repleto de bactérias, segundo Renata. “Se houver desequilíbrio, com predomínio das mais deletérias, existem indícios de que pode haver alteração tanto das funções do sistema digestivo quanto do sistema imunológico. A esse desequilíbrio se dá o nome de disbiose, que pode estar relacionada à alimentação, a hábitos de vida, uso de medicamentos, mas não diretamente relacionado ao leite de vaca”.

A quem tem asma é recomendado:

  • Identificar fator desencadeante: poeira, pólen, pelo de animal, fumaça de cigarro e evitá-lo
  • Usar corretamente medicamentos indicados para controle, de preferência por via inalatória
  • Saber a dose e a ação dos medicamentos que você usa: anti-inflamatórios e broncodilatadores
  • Procurar contato com o médico quando a asma estiver saindo do controle
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