OMS, CDC norte-americano e cientistas destacam importância de prevenir transmissão entre pessoas e pelo ar| Foto: Bigstock
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No início de 2020, com poucas informações sobre a infecção pelo Sars-CoV-2, as orientações para evitar o vírus incluíam a limpeza constante de superfícies e objetos. Quem ia ao supermercado ou farmácia, voltava sabendo que iria passar boas horas lavando todos os itens comprados, fora as sacolas plásticas ou de pano.

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Hoje, essa tarefa pode ser abreviada, pois está cada vez mais claro que a principal forma de transmissão do coronavírus se dá pelas gotículas respiratórias (espirro, tosse ou fala) expelidas de uma pessoa a outra, sejam gotas maiores ou em formato de aerossóis.

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Em um editorial publicado no início de fevereiro, a revista científica Nature destaca que a prioridade na preocupação deveria ser a transmissão pelo ar do Sars-CoV-2 e, embora as superfícies sejam locais plausíveis de disseminação, os casos de isso ocorrer são também mais raros.

"A gente chama de transmissão eventual", explica Renato Kfouri, médico pediatra e infectologista, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações. "Você tem as vias clássicas de transmissão e as vias eventuais. A via clássica de uma doença respiratória é a aérea. Por superfície não é desprezível. Se você tocar uma superfície recém acometida por um material viral, e na sequência levar a mão para olho, nariz, boca ou garganta, você pode se autoinfectar. Mas ela não é a principal via", completa.

Por isso que a higienização das mãos, ao lado do uso da máscara e o distanciamento social, faz parte dos principais cuidados que devem ser tomados contra o vírus. "Além de lavar, não levar a mão ao rosto, para evitar essa autoinoculação, autoinfecção. Nós tocamos em superfícies potencialmente contaminadas o dia todo. Se você deixar o celular na mesa, alguém pode espirrar nele e se você colocar o aparelho no rosto, pode se contaminar. Mas, no caso da Covid-19, não é a via habitual. É raro pegar a Covid-19 esfregando a mão na mesa e depois no olho. Não é a forma mais comum", orienta o especialista.

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Limpeza de compras?

E a limpeza ostensiva das compras? Segundo Kfouri, essa medida poucos orientavam, mesmo no início da pandemia. "Era muito mais uma crença popular do que uma orientação embasada. Você cortar a barba, ou prender o cabelo, ou limpar a pata do cachorro porque isso pode transmitir, essa não é a via habitual".

Segundo o especialista, os estudos que verificavam a presença do vírus em superfícies inanimadas, como madeira, vidro, entre outros, mesmo horas depois da contaminação nem sempre indicam uma viabilidade daquele vírus. Ou seja, por mais que o coronavírus esteja ali, não significa que ele será capaz de se replicar no organismo depois.

"Infectologicamente falando, trocar tênis da criança quando chega na escola, trocar de roupa, encapar caderno para passar álcool, são medidas adicionais e que não reduzem a transmissão tanto quanto a lavagem das mãos e o não compartilhamento de objetos", explica.

Foco nas vias principais de transmissão

O editorial publicado pela revista científica Nature, que destaca as principais vias de transmissão do coronavírus, alerta também para os riscos de uma maior preocupação com passar álcool em gel nas mesas do que com as outras medidas de proteção.

"Essa falta de clareza sobre os riscos das fômites [objetos ou superfícies capazes de absorver ou transportar organismos] — comparado ao risco muito maior da transmissão via ar — tem sérias implicações. Pessoas e organizações continuam a priorizar esforços na desinfecção, quando poderiam colocar mais recursos em enfatizar a importância das máscaras e investigar medidas de melhoria na ventilação", destacam.

Segundo Kfouri, todas as medidas são válidas, mas é importante que as pessoas não percam de foco aquilo que realmente importa. "As pessoas precisam entender que lavar a caixa da pizza, por exemplo, se for feito como algo a mais, tudo bem, mas não se pode se esquecer de jeito algum da máscara, do distanciamento e da lavagem das mãos, que protegem contra outras doenças também", detalha.

Orientações

Em outubro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) atualizou as orientações sobre a transmissão do vírus, e destacou os cuidados em manter distância de outras pessoas, além do uso da máscara. "As atuais evidências sugerem que a principal forma de transmissão do vírus se dá pelas gotículas respiratórias entre as pessoas que estão muito próximas umas das outras", destaca a instituição no site.

A mesma orientação é divulgada pelo Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos, o CDC, sigla em inglês. No site, o órgão reforça o risco maior na transmissão por contato entre pessoas, e compara com os vírus do sarampo e da gripe.

"O vírus que causa a Covid-19 parece se disseminar de forma mais eficiente do que o vírus da influenza [gripe], mas não tão eficiente quanto o sarampo, que está entre os vírus conhecidos mais contagiosos a infectar pessoas", destaca a instituição.

O CDC alerta ainda para alguns pontos de atenção:

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  • Pessoas que estão fisicamente próximas, menos de dois metros, de alguém com Covid-19 ou que tiveram contato direto com essa pessoa estão em maior risco para a infecção;
  • Quando alguém com Covid-19 tosse, espirra, canta, fala ou respira, ela produz gotículas respiratórias. Essas gotículas podem variar em tamanho: de grandes (algumas são visíveis) a pequenas;
  • Infecções acontecem principalmente pela exposição a essas gotículas respiratórias, quando uma pessoa está em contato próximo com alguém com a Covid-19;
  • As gotículas respiratórias causam infecção quando são inaladas ou depositadas em membranas mucosas, como as do nariz ou da boca;
  • Conforme as gotículas respiratórias saem de uma pessoa contaminada, a concentração dessas gotículas reduz. As maiores gotículas, por serem mais pesadas, acabam caindo pela gravidade, mas as menores podem ficar no ar por minutos ou horas;
  • Os vírus que permanecem no ar por minutos ou horas podem infectar quem estiver mais de dois metros distante da pessoa infectada, ou mesmo depois que ela saia do local;
  • Esse tipo de transmissão é chamado de "airborne" ou pelo ar. Infecções como tuberculose, sarampo e catapora também são transmitidas desta maneira;
  • Há evidências que, mesmo com dois metros de distância, haja transmissão do vírus entre pessoas, dependendo do local em que estejam. Espaços fechados e sem ventilação adequada são locais propícios a esse tipo de transmissão.
  • Nestas circunstâncias, pesquisadores acreditam que a quantidade de gotículas, ainda que pequenas, produzidas pela pessoa infectada se torne mais concentrada e capaz de infectar outras pessoas;
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