Em meio ao isolamento social, muita gente foi às redes sociais criticar o comportamento de idosos que saíam às ruas, muitos deles sem máscaras. A preocupação maior é que, no centro do grupo de risco de óbito estão pessoas acima de 60 anos de idade, quase 70% dos mortos pela Covid-19.
Uma explicação para esse panorama, segundo o geriatra Clovis Cechinel, é de que os fatos relacionados à pandemia ocorreram muito rapidamente, o que fez com que diversos idosos não tivessem sido capazes de assimilar a quantidade de informações e a mudança dos contextos. “Pense que, antes, a orientação médica era de que os mais velhos encontrassem atividades prazerosas: saíssem de casa, fizessem exercícios físicos, socializassem, fizessem novos amigos, criando uma rede de apoio e preenchendo seu tempo. De uma hora para outra, mudamos o discurso radicalmente e muitos idosos não conseguiram entender isso”, diz.
“Não há como generalizar”, diz José Mário Tupiná Machado, professor de geriatria na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Segundo ele, a vontade, a necessidade e o ímpeto de sair dependem da situação em que cada idoso se encontra. “O idoso pode se sentir só residindo com familiares e não se sentir só residindo sozinho”, diz. Aliás, o geriatra alerta para que a família tenha, agora, atenção redobrada com idosos que moram sozinhos e que são ativos socialmente, pois que a socialização se dá, tradicionalmente, fora de casa. “Estes idosos independentes também precisam de suporte para adequar sua rotina, usando recursos até então desconhecidos e nem sempre acessíveis.”
Como conscientizar
Cechinel diz que, uma das formas de conscientizar idosos, principalmente os de idade avançada, é tratar o distanciamento físico não como um abandono, mas como uma forma de carinho, inclusive deles com os que o cercam. “Quando você vira e fala apenas ‘não faça’, eles acabam fazendo e dizendo ‘você não manda em mim’. Algo que dá certo é dizer: ‘quando você sai na rua, você deixa de se cuidar e expõe alguém que você ama e que mora na mesma casa’”, diz ele.
Preconceito à tona
Além da discussão sobre isolamento vertical e a liberação do restante da população, o desconforto dos mais jovens ao verem um idoso na rua também pode estar ligado a um preconceito enraizado na sociedade brasileira. “Muitos olhares tortos e comentários inconformados são a expressão de um sentimento abafado socialmente, o de que o lugar dos velhos é em casa e não em calçadas, restaurantes, caixas de supermercado, desfrutando de uma fila exclusiva e locais preferenciais para estacionar”, assinala o geriatra Clovis Cechinel.
Doenças de base
Uma grande preocupação dos geriatras é que, além de tomarem medidas para não se infectarem, os idosos mantenham doenças de base controladas. “Tem que ter a pressão arterial cuidada, diabete controlado, sem dor, como por osteoartrose, que não suspendam tratamento oncológico, tratamento de depressão e que se atentem à situação vacinal, principalmente imunizações relacionadas a infecções respiratórias”, diz Ivete Berkenbrock, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Ela também assinala que a família deve se fazer presente e ficar atenta para que não haja abuso de álcool, que os idosos não fiquem muito sedentários e que não ocorram ou saibam observar episódios de violência doméstica.
Mantenha a saúde emocional no isolamento
- Não fique vendo notícias sobre a epidemia em diversos meios e o dia inteiro, inundando-se de más notícias. Escolha uma forma única para suas atualizações diárias.
- Crie uma rotina diária que tenha trabalho, atividades físicas, refeições, lazer dentro de casa e atividades de autocuidado, como respiração e relaxamento. Evite fazer tudo em um único dia.
- Mantenha horário para dormir e acordar, para ligar para os amigos, para tarefas domésticas.
- Distancie-se fisicamente, mas não se isole: faça contatos pessoais diários com familiares e amigos por telefone e transmissões com imagem (o contato visual é muito importante) e em conversas em grupo. Idosos relatam que se sentem protegidos sabendo que família liga todo dia.
- Seja solidário, ajude quem precisa e peça ajuda quando necessário. Esse pode ser um dos grandes aprendizados dessa pandemia.
- Tenha mais tolerância a alterações comportamentais e de humor, inclusive do próprio cuidador.
- Não negligencie outros problemas de saúde com medo de se expor ao novo coronavírus.
- Siga seu acompanhamento médico e tome seus remédios normalmente, pois talvez esta situação seja mais duradoura do que muitos imaginam.
- Não negue a ansiedade, mas compartilhe-a e apoie quem precisa de apoio.
- Escolha uma atividade: organize o ambiente doméstico, escreva um diário (um inventário da vida), cuide das plantas, costure, leia, pinte, medite, aprenda uma nova língua, jogue cartas, dance, execute novas receitas. Quem sabe busque algo novo: toque um instrumento, aprenda a usar melhor as comodidades do computador e do smartphone.
- Recorra a serviços online diversos, como educador físico, fisioterapeuta, psicólogos e fonoaudiólogos.
- Faça e receba visitas praticando o distanciamento protegido como o visto na visita do Dia das Mães: ir até o portão da casa ou portaria, de máscara, sem contato.
- Ligue aos netos para contar histórias, disponibilize fotos online para conversar sobre elas, crie novas formas de aproximação.