Dos dados ainda recentes das pessoas infectadas pelo novo coronavírus, especialmente em países como China e Itália, médicos e pesquisadores conseguem chegar a poucas conclusões. Uma delas é que um dos grupos de maior risco para a infecção é o dos idosos.
Entre esse grupo específico, o Covid-19 tem se mostrado mais grave, com maior número de complicações, com necessidade de internamento, e maior número de mortes. Embora a taxa de mortalidade da doença, entre a população em geral, esteja de 3% a 4%, conforme informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), o número tende a aumentar conforme o avanço da idade.
Dos 70 aos 79, o risco de a doença evoluir para a morte é de 8% e, entre as pessoas de 80 a 89 anos, esse proporção chega a 14,8%.
Enquanto a taxa de mortalidade entre pessoas de 10 a 39 anos infectadas pelo novo coronavírus está em 0,2%, o número cresce a 0,4% para o público de 40 a 49 anos. Na sequência, a taxa pula para 1,3% na população dos 50 aos 59 anos e 3,6% entre os 60 a 69 anos. Acima dessa idade, dos 70 aos 79, o risco de a doença evoluir para a morte é de 8% e, entre as pessoas de 80 a 89 anos, esse proporção chega a 14,8%.
"Essa é a população que deve ficar mais atenta se tiver quadro respiratório e os critérios clínicos e pneumológicos, como o contato com pessoas suspeitas. É o paciente que temos que ficar mais atentos para os sinais de gravidade, como falta de ar, cansaço importante, com esforços respiratórios, alteração nos níveis de consciência", explica Sonia Raboni, médica infectologista chefe do serviço de Infectologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Doenças associadas
Um dos motivos que levam ao maior risco do novo coronavírus entre os idosos está o fato de que, entre esse grupo, há maior prevalência de doenças crônicas associadas. Ao desenvolverem os sintomas do coronavírus, o risco de que isso possa impedir o tratamento adequado de doenças pré-existentes é grande.
"O paciente que não consegue se hidratar, que tem muito vômito ou não se alimenta, acaba gerando a descompensação da doença de base. É o paciente, por exemplo, com diabete, que estava indo bem no tratamento, mas desenvolve esse quadro [do Covid-19], e descompensa o diabete", explica a médica infectologista.
Associado a isso, a médica infectologista Marta Fragoso, dos hospitais VITA e do HC/UFPR, lembra que os idosos têm, naturalmente, um sistema imunológico mais frágil que os jovens e os adultos.
"A senilidade acarreta redução das defesas, das imunidades, para toda e qualquer infecção, seja ela bacteriana, seja ela viral. O idoso perde a memória imunológica e, assim, tem maior dificuldade de enfrentar as doenças. Soma-se a isso que muitos deles chegam à terceira idade agregando várias doenças, diabéticos que têm também asma, que têm DPOC, que são tabagistas de longa data, disfunções que fragilizam ainda mais a saúde", diz.
Proteção aos idosos
Pacientes idosos e com comorbidades estão mais bem preparados se focaram fortemente em algumas medidas, como:
- Higiene de mãos;
- Evitar multidões, aglomerações e ambientes fechados com muita gente;
- Evitar ficar próximos de pessoas com sinais de infecção respiratória;
- Boa alimentação;
- Sono adequado.
"Todos devem se atentar para a boa hidratação, que mantém mucosas de olhos, boca e nariz úmidos, impedindo que a pele se rache nessas áreas, impedindo que acabem se tornando porta de entrada fácil para o vírus", diz Marta Fragoso, médica infectologista.
Ela, que atuou durante a pandemia de H1N1 em 2009, avalia que o avanço do novo coronavírus se assemelha àquele episódio, que começou como uma epidemia localizada e depois tornou-se pandemia, logo havendo a adaptação. Depois, vieram as vacinas e as medicações específicas.
"Uma diferença é o poder de transmissão, se na H1N1 um paciente transmitia de uma a duas pessoas, no novo coronavírus isso acontece para de duas a três pessoas. Então, talvez, a velocidade de disseminação do vírus seja realmente maior. Mas 80% dos contaminados cursam com sintomas leves e isso traz motivo a menos pra preocupação", diz ela, alertando que a Região Sul, mais fria, pode observar piora da transmissão justamente no inverno, a exemplo do H1N1, quando Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul tiveram o maior número de casos, de complicações e mortes.
A médica infectologista ressalta ainda que não há necessidade de pânico, visto que o sistema de saúde brasileiro está bem organizado e preparado. Além disso, a pandemia ajudaria a reforçar hábitos de higiene, como a etiqueta da tosse e a lavagem das mãos, que protegem não apenas para o novo coronavírus, mas para gripes, conjuntivites, meningites, diarreias outras doenças.
Cuidados nos asilos
Nos Estados Unidos, uma das medidas de proteção aos idosos tomadas pelos governos locais foi a restrição do acesso de pessoas aos asilos e casas de repouso. No Brasil, segundo a avaliação da médica infectologista Sonia Raboni, a mesma medida pode ser aplicada no futuro.
"Já tivemos essa situação em 2009, mas a principal orientação é de, se pensar em ir a um asilo, orfanato ou hospital, locais de grande circulação de pessoas, não vá se estiver apresentando qualquer sintoma respiratório", alerta a médica.
A recomendação de restringir o número de pessoas circulando é válida, segundo a infectologista, até que se conheça um pouco mais da doença.
"No Brasil ainda não têm a transmissão sustentada [de contato entre pessoas sem viagens], são casos importados [de pessoas que viajaram e trouxeram da viagem a infecção]. Se todo mundo realmente se conscientizar e tiver um cuidado, podemos ter uma contenção no país. Não sabemos como vai funcionar o Covid-19 nos países tropicais porque ainda estamos no verão. Temos que aproveitar essa oportunidade para fazer a contenção da doença", completa.