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Demora para agir, falta de prevenção e em alguns casos negligência levaram a verdadeiros massacres em casas de repouso pela Europa e nos Estados Unidos. Os locais com concentração do grupo de alto risco da Covid-19 – idosos debilitados e com somatório de comorbidades – "são verdadeiras bombas-relógio", como definiu o departamento de pensionistas de um sindicato italiano.

No subúrbio de Seattle, cidade no oeste dos EUA, a casa de repouso Life Care Center teve 129 pessoas infectadas entre residentes (81) e funcionários (48), ou dois terços de seus frequentadores, e 35 morreram. Por lá, o primeiro caso foi confirmado no dia 28 de fevereiro, mas dois dias antes duas pessoas já haviam morrido pela doença.

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A falta de informação e a demora da instituição e das autoridades locais para tomarem medidas de higienização, isolamento e testagem causaram a rápida propagação do vírus entre as pessoas entre 80 e 90 anos de idade, segundo informações divulgadas pelo jornal norte-americano The New York Times.

Diante da ameaça contra esse público, as Forças Armadas da Espanha foram convocadas para ajudar a desinfetar as casas de repouso e acabaram se deparando com o pior. "O Exército, durante algumas visitas, encontrou algumas pessoas mais velhas completamente abandonadas, às vezes até mortas em suas camas", disse na última terça-feira (24) a ministra da Defesa, Margarita Robles. Na Itália e França também houve casos com dezenas de mortes em um mesmo lar.

Por aqui, o secretário nacional de Promoção e Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos já havia expressado preocupação com as Instituições de Longa Permanência (ILPIs).

Restrições e limpeza são fundamentais

Evitar que o vírus chegue aos locais é de fundamental importância. Segundo Rafael Bruzamolin, gerente médico da Lar e Saúde, empresa de home care que atende mais de mil pessoas em domicílios e casas de repouso pelo país, é preciso um esforço compartilhado de prestadores de serviço, pacientes e familiares.

"Essas pessoas são muito vulneráveis à forma grave do novo coronavírus se forem infectadas. É necessário isolá-los como em um hospital, restringir a circulação de pessoas, manter apenas aquelas estritamente necessárias", afirma.

Além de restringir ao máximo as visitas e respeitar o distanciamento social evitando contato físico com beijos e abraços, a higiene é outro aspecto fundamental. "Lavar bem as mãos com água e sabão antes e depois de tocar [as pessoas], limpar as superfícies, maçanetas e até as paredes. É desejável não compartilhar objetos como celulares [ou limpá-los frequentemente] e jamais compartilhar talheres e copos, os pacientes precisam ter os próprios", diz.

Já as máscaras são necessárias apenas se alguém apresentar sintomas de problemas respiratórios ou suspeita da doença. Em casas de repouso, também recomenda-se criar um espaço de pelo menos dois metros entre os leitos. "Sabemos que não é a realidade de muitos lares, mas é preciso espaçar o máximo que for possível", explica.

De acordo com Bruzamolin, todas as orientações foram passadas a quem atende e recebe os atendimentos pela empresa e o uso da telemedicina está sendo implantado quando possível. "Em conformidade com o que foi regulamentado pelo CFM [Conselho Federal de Medicina] e pelo Ministério da Saúde, estamos avançando nesse sentido e substituindo temporariamente as terapias que não necessitam de presença física por teleterapia, restringindo o contato".

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Procura por lares pode aumentar

Com a necessidade de ocupar leitos hospitalares com pacientes da Covid-19, a tendência é que idosos com outros problemas sejam liberados assim que possível. Segundo Paula Gomes Loyola, administradora com especialização em gestão geriátrica e fundadora da Senior Online (buscador de casas de repouso), isso pode acentuar a procura pelas instituições de longa permanência.

"Pelo que tenho acompanhado em Espanha e Portugal e com geriatras de referência, idosos que dispensem de atendimento [mais urgente] vão receber alta. [Isso] vai depender da velocidade do avanço do novo coronavírus. Aqueles que tenham feito alguma cirurgia por alguma fratura, infecção urinária, entre outros problemas comuns em pessoas com idade avançada, por exemplo". Por falta de independência, da ajuda contínua de familiares e do perigo de exposição ao vírus, parte dessas pessoas precisaria dos lares.

Também proprietária de uma casa de repouso em Curitiba, Loyola diz que em conjunto com outras instituições está cobrando ajuda das autoridades para garantir acesso aos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e produtos de limpeza. "Precisamos ter isso à disposição, além de testes rápidos [para a Covid-19] para quem trabalhar nesses locais e a vacina contra a gripe", afirma.

Segundo levantamento da Senior Online com base em dados do governo federal, somente no Sul e Sudeste (à exceção do ES), são cerca de 8 mil instituições de longa permanência, a maior parte de pequeno porte. "A maioria não tem estrutura para isolamento total, o número de quartos individuais é baixo. Aqui [no lar que administra] impusemos a restrição humanizada para diminuir ao máximo a margem de contaminação. Atividades como fisioterapia, que às vezes têm um caráter mais de companhia, foram dispensadas. Com relação aos familiares, fizemos uma lista de transmissão pelo WhatsApp para comunicação. Estão mandando mensagens e fazendo chamadas de vídeo", diz.

Vacina in loco e suspensão de visitas

Com a necessidade de isolamento, além de dificuldade de locomoção, os idosos devem ser vacinados nas suas residências. No lar que Loyola administra, a vacina contra a gripe (influenza) foi aplicada nesta quarta-feira (25), dois dias depois de o Ministério Público do Paraná (MP-PR), por meio das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa de Curitiba, expedir recomendações administrativas (02/2020) com o objetivo de garantir que os residentes desses locais recebam a vacina nas próprias instituições, bem como os respectivos trabalhadores.

Além da vacinação, o MP-PR recomendou que durante o período de enfrentamento à pandemia sejam suspensas as visitas de familiares, amigos ou representantes legais. Na capital paranaense são 140 casas de repouso que estão recebendo orientações e inspeções da vigilância sanitária.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]