Estudo divulgado nesta quarta-feira (3) pela revista científica New England Journal of Medicine (NEJM) afirma que as substâncias hidroxicloroquina e a cloroquina não previnem o desenvolvimento da Covid-19 entre pessoas expostas ao novo coronavírus.
Este é o primeiro estudo a ser publicado que atende o padrão-ouro da pesquisa científica, sendo randomizado (quando os participantes são distribuídos em grupos de forma aleatória), duplo-cego (quando nem o participante, nem o pesquisador sabe quem está tomando qual medicamento) e com um braço controle que fez uso de placebo (quando um grupo de participantes recebe uma medicação fisicamente semelhante ao remédio testado, mas que não tem efeito, chamado de placebo). Ainda assim, há críticas levantadas pela comunidade científica, detalhadas abaixo.
A pesquisa, coordenada pelo médico infectologista David Boulware e realizada pela Universidade de Minnesota, teve início no dia 17 de março e avaliou 821 pessoas dos Estados Unidos e Canadá que foram expostas ao Sars-Cov-2. Dos participantes, parte era de profissionais da saúde que haviam entrado em contato com pessoas infectadas, e não tinham usado equipamentos de proteção adequados. Os demais eram pessoas que compartilharam a residência com alguém confirmado para o vírus. A idade média dos participantes era de 40 anos.
Os participantes foram distribuídos em dois grupos. Metade (414) recebeu a hidroxicloroquina durante cinco dias e a outra metade (407) recebeu o placebo pelo mesmo período. Eles foram avaliados e monitorados por duas semanas.
Resultados
Entre as pessoas que fizeram uso da medicação, 12% desenvolveram a Covid-19. Do grupo placebo, 14%. A diferença não foi considerada estatisticamente significante pelos pesquisadores.
Ainda, 40% daqueles que receberam a hidroxicloroquina relataram efeitos colaterais, tais como náusea, dores estomacais e diarreia. Entre o grupo placebo, o relato de efeitos adversos foi identificado em 17%. O estudo não identificou riscos para o ritmo cardíaco ou na letalidade pelo uso da substância.
Como no momento do estudo não havia muitos testes para a Covid-19, a maioria dos participantes não foi testada para a doença, mas os sintomas foram avaliados por quatro médicos que faziam parte da equipe.
Críticas ao estudo
Os resultados se agregam aos demais que avaliam a hidroxicloroquina e a cloroquina no contexto do novo coronavírus, mas pesquisadores de fora destacaram algumas críticas que podem ser feitas ao estudo.
O site norte-americano especialista em saúde STAT, por exemplo, cita que a pesquisa foi conduzida toda pela internet, sem que os participantes fossem avaliados ao vivo.
Com isso, todos os relatos de efeitos colaterais ou sintomas foram relatados pelos próprios participantes. Além disso, um em cada cinco não tomou todas as doses da medicação do estudo.
De acordo com os pesquisadores, eles estão cientes de que o estudo tem limitações, e concluem que: "esse estudo clínico randomizado não demonstrou um benefício significativo da hidroxicloroquina como profilaxia pós-exposição para a Covid-19. Se uma profilaxia pré-exposição pode ser efetiva em populações de alto risco, esta é uma questão separada, com pesquisas clínicas em andamento."