Em caso de gravidez ectópica, a mãe precisa de tratamento urgente e o apoio da família é fundamental para ajudá-la no processo de luto| Foto: Bigstock
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Sem planejar uma gestação ou fazer tratamentos para engravidar, Nayara Lustosa não esperava a chegada de um filho. Mesmo assim, decidiu realizar o teste de farmácia tão logo percebeu atraso na menstruação e outros sintomas de gravidez como desejos por alimentos específicos e sonolência. “Só que fiz uns quatro testes e todos deram negativo”, recorda a moradora de Santana de Parnaíba, em São Paulo.

Desconfiada com os resultados, a jovem preferiu aguardar alguns dias para ver como seu corpo reagiria, e acabou confirmando sua suspeita com grande preocupação. “Começou um pequeno sangramento, que parecia menstruação, e também uma dor abdominal muito forte do lado esquerdo”, conta a dona de casa, que sofreu um desmaio, foi levada rapidamente à unidade de saúde do município e recebeu o diagnóstico assustador horas depois: “O médico falou que era uma gravidez ectópica, e eu desmaiei novamente”.

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De acordo com a ginecologista e obstetra Ana Paula Mantovani, casos como o de Nayara acontecem quando o bebê começa a se formar fora do útero, em órgãos como o fígado ou nas trompas de Falópio. Com isso, a saúde da mãe é colocada em risco e a continuidade da gravidez se torna inviável, já que a cavidade uterina é o único local apropriado para crescimento do feto.

“A trompa, por exemplo, é fina e tem paredes delicadas, então não consegue suportar o crescimento fetal, vindo a romper e causando hemorragia interna”, explica a especialista, que orienta acompanhamento médico imediato se a gestante apresentar sangramento e dor abdominal intensa.

No caso de Nayara, sua tuba uterina esquerda já estava comprometida e com grave hemorragia. Por isso, a jovem foi encaminhada imediatamente para procedimento cirúrgico. “Só acordei do desmaio na mesa de operação. Aí me explicaram o que havia acontecido e disseram que, se eu demorasse mais cinco minutos, teria morrido”, relata.

O problema é que, ainda que estivesse viva e agradecesse por isso, a jovem paulista não parava de pensar no bebê que havia perdido e sofria ao imaginar que poderia ter uma criança em seus braços se a gestação tivesse ocorrido normalmente. “O vazio e a dor que a gente sente são enormes”.

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Como superar?

Em entrevista ao Sempre Família, a psicóloga Gleice Justo explica que esse sentimento de tristeza é normal e necessário, pois a mulher que passa pelo processo de aborto espontâneo durante a gravidez sente a dor insuportável da morte de um filho, então deve viver esse momento para conseguir superá-lo. “É preciso se permitir sentir a dor de cada fase do processo de luto. Isso não significa que a dor um dia irá acabar, mas fará com que a mãe não paralise diante desta situação”, explica.

Para isso, é importante receber apoio familiar e ter espaço para expressar seus sentimentos. “Esse é um momento muito difícil para qualquer mãe, então chore e coloque para fora tudo o que sentir”, incentiva Nayara, que contou com a paciência dos pais e do marido. “Minha família foi a base que me ajudou a superar tudo aquilo”.

Além disso, seis meses após a ocorrência de uma gravidez ectópica já é possível engravidar novamente. Então, ainda que a mulher esteja no grupo de risco para desenvolver o problema, ela tem grandes chances de apresentar uma gestação normal na nova tentativa.

“Tanto que, mesmo depois de retirarem minha trompa esquerda, eu engravidei duas vezes e foi tudo bem”, afirma a moradora de São Paulo. “Acredite e sonhe, pois é mais fácil enfrentar algo assim quando você se dispõe a lutar”, incentiva a mãe dos pequenos Davi e Eliseu, de um e quatro anos.