Idade avançada, hipertensão ocular, miopia elevada, raça negra, diabete, uso crônico de corticoides e hereditariedade. Estes são alguns dos fatores de risco que favorecem o aparecimento do glaucoma.
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Essa doença multifatorial é caracterizada pela destruição permanente e irreversível de células da retina que formam o nervo óptico, diz Roberto Galvão Filho, oftalmologista e presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma. Considerado a principal causa de deficiência visual irreversível no Brasil e no mundo, o glaucoma acarreta a perda progressiva da visão, chegando à cegueira se não tratada a tempo.
Infelizmente quase 90% das pessoas com glaucoma desconhecem que são portadoras dessa condição. E por ser uma doença assintomática nas fases iniciais, o paciente só percebe algum defeito de visão quando já perdeu entre 40-60% do nervo óptico, alerta Galvão Filho.
A perda da visão ocorre pela morte das células ganglionares da retina, que não se reproduzem e ainda não podem ser substituídas artificialmente. Portanto, a cegueira causada pelo glaucoma é irreversível, explica Ricardo Augusto Paletta Guedes, oftalmologista e diretor da Sociedade Brasileira de Oftalmologia.
Diagnóstico precoce
O aumento da pressão intraocular é o fator causador mais comum, mas defeitos vasculares, viroses e até defeitos de imunidade já foram postulados como causas. Além disso, após os 40 anos de idade, as pessoas ficam mais suscetíveis a desenvolver a doença, principalmente entre os 60 e 70 anos. “Acredita-se que o envelhecimento do olho seja um fator desencadeante do glaucoma em pessoas geneticamente suscetíveis”, conta Guedes.
Contudo, não existem sintomas que alertem o paciente do acometimento da doença. Alguns poucos pacientes referem-se a dores na região próxima aos olhos, algumas vezes confundidas com enxaquecas, destaca Galvão Filho.
E embora não existam nem sinais de alerta, nem formas de evitar o aparecimento do glaucoma, é possível identificá-lo precocemente, tornando o tratamento mais fácil e evitando a evolução da doença até a perda visual. “A prevenção do glaucoma se faz com exames oftalmológicos de rotina, incluindo a medição da pressão dos olhos, o exame do fundo do olho e a verificação de fatores de risco na história do paciente”, orienta Guedes.
O glaucoma pode ser diagnosticado muito antes dos defeitos de campo visual se instalarem. “Hoje há exames de imagem com aparelhos de Tomografia Óptica Computadorizada (OCT) que podem achar o glaucoma até 8 anos antes dos primeiros defeitos”, exemplifica o presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma.
Tratamento
O glaucoma é tratado com a redução da pressão intraocular, pelo uso de colírios extremamente eficientes e tratamentos cirúrgicos com lasers e cirurgias, além de implantes de tubos de drenagem internos microinvasivos e externos. Embora o tratamento com colírio resolva mais de 80% dos casos, o paciente deve se comprometer com o uso diário e constante, por toda a vida. Felizmente, no Brasil se fornece o tratamento com colírio, sem custo, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Além disso, a Sociedade Brasileira de Glaucoma está no processo de certificação do Laser Seletivo para ser oferecido ao SUS, além de preparar um guia de diagnóstico e tratamento eficiente do glaucoma para oferecer às cidades interessadas em tratar seus pacientes. Galvão Filho conta que em muitos países o tratamento inicial com laser tem avançado como primeira escolha, com o benefício de apresentar poucos efeitos colaterais e ter o mesmo resultado de redução da pressão por mais de cinco anos com uma só aplicação e custo menor que os colírios.
Mudança nos hábitos de vida
Sem dúvida, hábitos saudáveis são importantes para a manutenção da saúde corporal como um todo. Isto não é diferente no glaucoma, alerta Guedes, ao explicar que as atividades físicas e alimentação saudável têm impacto positivo na prevenção ao glaucoma. “Sabemos, por estudos clínicos controlados, que a prática regular de exercícios físicos reduz a pressão intraocular e pode melhorar o fluxo sanguíneo para o nervo óptico”, complementa Galvão Filho.
Além disso, a alimentação saudável, ainda que não existam estudos conclusivos, possivelmente melhora as condições vasculares e imunológicas do indivíduo. Inclusive, no passado, o glaucoma foi chamado de "Diabete do Olho".
Assim, entende-se que o controle da diabete, bem como de toda a alimentação, sejam benéficos para diminuir o risco de se desenvolver glaucoma. “Existe um tipo específico de glaucoma que acontece em pacientes diabéticos em fase avançada da doença, quando mal controlada por muito tempo”, alerta Guedes.
Por fim, evidências científicas recentes indicam que o estresse pode elevar a pressão intraocular, interferindo no glaucoma, conta o oftalmologista. “O estresse modifica fatores vasculares e imunológicos, que em último caso pode aumentar a pressão intraocular, diminuir o fluxo de sangue para o nervo óptico e apressar a morte de células afetadas pelo glaucoma”, finaliza Galvão Filho.