Durante a gravidez, há valores considerados mais aceitáveis para o ganho de peso, e o cálculo desse número está diretamente ligado ao Índice de Massa Corporal da mulher (IMC). Pontos extremos – mulheres com o IMC muito baixo ou muito alto – são mais problemáticos, de acordo com especialistas, mas a preocupação com o peso é uma constante.
Esse entendimento está nas diretrizes do Institute of Medicine, publicado em 2009, e vem sendo adotado por médicos da área desde então. O IMC (calculado dividindo o peso pela altura ao quadrado) é avaliado em toda consulta, seguindo a idade gestacional, explica Paulo Cesar Zimmermann Felchner, médico ginecologista e obstetra e professor adjunto da escola de Medicina da PUCPR.
"Tem a questão do peso em si da grávida e o ganho. Sabemos que os extremos são o problema. Quanto mais distante do normal, existe uma chance maior de desfechos desfavoráveis, como o parto prematuro, feto pequeno ou grande, aumento no risco de cesarianas. Principalmente na obesidade, temos associação com maior taxa de diabete gestacional e hipertensão", detalha.
Quanto é aceitável?
Se a gestante tiver o IMC dentro de valores considerados "normais" (entre 18,5 a 24,9), o ganho extra pode chegar a 20% do peso. Uma grávida de 60 kg, por exemplo, poderia ganhar entre 12 kg a 16 kg durante a gestação, portanto.
Se o IMC inicial for menor (abaixo de 18,5), consequentemente o valor do peso extra poderá ser maior também, chegando a 18 kg em algumas situações. No caso de um IMC acima de 25 (sobrepeso), os valores reduzem: entre 7 kg a 11,6 kg. Acima de 30 (considerado obesidade grau I), o ganho não ultrapassaria os 9 kg. Os valores foram compartilhados pelo portal BabyCenter.
"Medicina não é matemática. É preciso ter muito bom senso. Não há dúvida que o IMC é um parâmetro bem razoável, mas não deve ser seguido de maneira muito rígida. A paciente não pode ser controlada de maneira muito intensa na sua nutrição", explica Tadeu Coutinho, médico ginecologista, membro titular da Comissão Nacional de Assistência Pré-Natal da Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO).
Coutinho calcula entre 100 a 300 quilocalorias por dia no aumento da necessidade energética da mulher. "É bastante correto que a paciente necessite, sim, de um aumento de calorias para o seu gasto de energia. É uma questão de seguir os números com bastante tranquilidade e ter bom senso de não restringir de maneira exagerada", reforça o especialista, que também é professor de Obstetrícia da Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais.
Isso não significa, porém, que toda gestante vá aumentar de peso, de acordo com o especialista Paulo Cesar Zimmermann Felchner — especialmente entre mulheres com IMC mais altos. "Muitas vezes vemos a perda de peso na gestante porque ela passou a equilibrar melhor a dieta. Entre mulheres com obesidade mórbida, por exemplo, esse ganho de peso pode ficar meio nulo quando passa a ter uma alimentação diferente. É bem interessante isso, porque elas ficam preocupadas com a perda de peso, mas vêem que o bebê está crescendo bem, então acaba sendo até um incentivo de estar no caminho certo da alimentação", explica.
Mais peso no fim da gestação
Nos três primeiros meses da gestação, o ganho de peso tende a não ser muito significativo. Tadeu Coutinho, médico ginecologista, calcula até dois quilos. "No primeiro trimestre não é muito ganho de peso, até por causa dos efeitos da gestação: grande parte tem náuseas, vômitos, mal estar, a chamada emese gravídica", explica.
A partir desse período, no entanto, o aumento tende a ser mais significativo. "Há uma tendência, daí para diante, que elas ganhem, sob ponto de vista médico, meio quilo a cada semana. Essa é uma medida de uma paciente normal", explica o especialista, que completa: "Por isso a importância das consultas. O médico pode pegar a curva, ver se houve um aumento muito grande no peso da paciente entre duas consultas, e entender o que está acontecendo".
Um dos fatores que sugerem pré-eclâmpsia, por exemplo, é justamente um aumento significativo e injustificado de peso. "Às vezes, em uma semana, a gestante ganha dois quilos sem ter uma ingesta calórica que justifique. Pode ser a pré-eclâmpsia, cujo um dos pilares é o edema (inchaço), que pode ser oculto", explica Paulo Cesar Zimmermann Felchner, médico ginecologista e obstetra.
Exercícios recomendados
Uma das grandes dificuldades dos especialistas é tranquilizar as mulheres sobre a atividade física durante a gestação. Os exercícios podem ser mantidos, de acordo com Felchner, desde que adaptados.
"O maior pecado é parar a atividade física, que ajuda muito a manter o peso. E não só, mas também a sensação de bem estar, o fortalecimento da musculatura, diminuição na dor lombar", explica.
Evitando exercícios com impacto sobre o abdome (como lutas) ou muito extenuantes, as atividades estão liberadas. "A gestante não precisa se espelhar em outros no sentido de intensidade. Não precisa virar atleta, mas precisa fazer alguma coisa. Atividades muito intensas ou com alto impacto, com risco de trauma e queda, devem ser evitadas. Mas pode andar de bicicleta, sem cair, andar na esteira, Pilates, caminhada e natação. Esportes na água são muito bons", lista.