Quem para de fumar, engorda. Isso é um fato – como explicamos recentemente – e pode simplesmente colocar por terra todo esse esforço que evita doenças cardiovasculares, respiratórias e vários tipos de câncer. A explicação para isso deve, primeiramente, levar em conta que quem fuma come menos.
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“Há uma leve supressão do apetite por três motivos: o primeiro é que a nicotina age rapidamente em neurônios ligados ao controle da saciedade, no hipotálamo; o segundo, porque o cigarro estimula a produção de neurotransmissores ligados ao prazer, como a dopamina, reduzindo o comer por ansiedade; o terceiro, porque o cigarro afeta o paladar, mudando a percepção dos sabores, diminuindo o prazer de comer”, diz a nutricionista clínica funcional Anna Roberta Muffone. “No campo da neurociência, sabe-se que o cigarro estimula uma área de prazer no cérebro, fazendo com que todas as advertências e riscos sejam ignorados por quem fuma”, diz.
Além disso, o padrão alimentar do fumante também costuma diferir daquele que não fuma. “Ele costuma ter como característica jejum prolongado, longos intervalos entre as refeições e a substituição de alimento pelo cigarro”, diz Vera Borges, da Divisão de Controle do Tabagismo do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca).
Válvula psicológica
Frequentemente o cigarro também funciona como “válvula de escape” psicológica para redução da ansiedade. “Além do prazer fisiológico, a pausa para fumar relaxa, há um alívio de estar segurando algo e colocar na boca, que remete à fase oral da infância”, diz Anna Roberta.
Entretanto, apesar de fumantes comerem menos, isso não quer dizer que comam melhor ou mesmo igual a não-fumantes. “O que evidências apontam é que o padrão alimentar de fumantes é rico em alimentos com açúcares e gorduras e pobre em frutas e outros vegetais, além do alto consumo de café e de bebidas alcoólicas”, diz Maria Eduarda Melo, chefe da Área Técnica de Alimentação, Nutrição, Atividade Física e Câncer, do Inca.
Administrar a abstinência
Após parar de fumar, o maior desafio, diz Vera Borges, é administrar sintomas de abstinência, buscando outras formas de prazer ao se alimentar que não leve ao ganho de peso, uma das maiores ameaças à manutenção da decisão de ficar sem fumar. “É preciso aprender a fazer escolhas saudáveis, para que o ganho de peso não seja fator de recaída”, diz ela.