Pacientes curados da Covid-19 podem apresentar fibrose nos pulmões, o que gera uma preocupação extra com as sequelas, passada a fase aguda da pandemia. Esse é o alerta que fica de um estudo recente feito na Escola de Medicina da PUCPR.
A fibrose torna os tecidos espessos e rígidos, limitando a capacidade respiratória, visto que a condição dificulta a absorção e transferência de oxigênio para a corrente sanguínea. Com muita fibrose, caminhadas curtas ou subidas de escadas podem ficar extremamente cansativas e, em casos graves, pode ser necessário usar oxigênio. “A dificuldade respiratória é progressiva e quanto mais lesões, mais dificuldade respiratória, mesmo após a alta, pois isso não volta atrás”, diz a professora da PUCPR Lucia de Noronha, que participou do projeto. As informações são da Agência Brasil.
Comparação
A pesquisa envolveu a comparação de amostras pulmonares de seis pacientes que morreram pela Covid-19 severa, 10 de infectados pelo vírus H1N1pdm09 (gripe suína) e 11 de pacientes mortos por problemas cardíacos ou oncológicos sem lesão pulmonar como causa da morte.
“Na Covid-19, a gente viu mais fibrose, tanto pela doença desenvolver mais esse tipo de lesão, quanto por ser uma doença longa”, diz Lucia. Se no H1N1 em três dias se ia a óbito ou o pulmão começava a se recuperar, no Covid-19 são 30 dias na UTI, o que propicia mais fibrose.
Ao comparar com pacientes que não morreram com lesões pulmonares, a conclusão é que as pessoas que morreram da Covid-19 têm muito mais fibrose. “A gente consegue ver também que quanto mais tempo esse paciente ficou na UTI, mais fibrose ele tinha. Então, é gravidade dependente de tempo”, diz ela.
O estudo sugere que medicamentos que interfiram na formação da fibrose, como o bloqueador da Interleucina-4 ou de TGF Beta, e até mesmo de corticoide, poderiam diminuir esse quadro severo. “Isso faria com que o paciente saísse em melhor condição pulmonar”, diz.
Consequências
Pacientes recuperados da doença com pouca fibrose talvez não sintam muito as sequelas por terem boa reserva pulmonar, já que, segundo ela, “temos ‘mais’ pulmão do que necessitamos, justamente para, se tivermos uma pneumonia, sobrevivermos”. Entretanto, ela diz que, mesmo com pouca fibrose, o paciente curado pode ficar cansado se fizer muito exercício.
Agora, o estudo terá continuidade com 25 pacientes que morreram de Covid-19. “Pesquisaremos mais moléculas que trabalham junto com essas três ou quatro. Digamos que eu estudei o capitão da equipe e agora vou estudar os soldados, para poder fechar melhor esse mecanismo. Comparamos com pacientes que estão vivos e dos quais a gente coletou sangue e já percebemos que é mais ou menos a mesma coisa. O que a gente viu nos mortos, estamos vendo nos vivos”, diz ela.
O resultado do estudo foi publicado na revista Scientific Report, considerada uma das principais publicações científicas do mundo.