Para especialistas, “rebelião” diante de regras estabelecidas faz com que adolescentes questionem medidas de prevenção à Covid-19.| Foto: Bigstock
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Desde o início da pandemia, quase 31 mil crianças e adolescentes menores de 19 anos desenvolveram a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em decorrência da Covid-19 e foram internadas no Brasil, segundo os boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde de 2020 e 2021. O número representa menos de 2% do total das hospitalizações, assim como ocorre em países da Europa e nos Estados Unidos.

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No entanto, a quantidade de mortes entre esses pacientes preocupa. De acordo com um estudo realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e publicado em agosto na revista científica The Lancet, cerca de 7,5% das crianças e adolescentes internados no Brasil foram a óbito, índice sete vezes maior que o registrado em locais como Reino Unido, onde a taxa de mortalidade é 1%.

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Entre os motivos que contribuíram para esse resultado estão disparidades na atenção à saúde e a presença de condições médicas pré-existentes, mas o estudo serve de alerta também para medidas de prevenção realizadas pelos jovens, grupo que tem mais resistência a adotar medidas preventivas como o uso de máscara e o distanciamento social. “Vários amigos meus, por exemplo, até saem com a máscara porque é obrigatório, mas logo baixam ela até o queixo e ficam desse jeito”, relata o adolescente Pedro Vinicius Almeida, de 16 anos.

Morador de Brasília, Pedro afirma que essa atitude é frequente nos shoppings e até na escola, pois muitos adolescentes se sentem incomodados com a necessidade de cobrir o nariz. “Então, tiram a máscara para dar uma respirada”, comenta, ao citar um argumento alegado também por 30 adolescentes norte-americanos que se recusaram a usar máscaras em um voo da American Airlines recentemente.

Na ocasião, o avião que sairia da Carolina do Norte com destino às Bahamas dia 2 de julho atrasou várias horas devido ao incidente, e os passageiros acabaram aceitando as instruções sanitárias.

O que chama a atenção é que casos como esse têm sido registrados em meio ao aumento significativo no número de crianças e adolescentes com Covid-19 nos Estados Unidos. Segundo a Academia Americana de Pediatra (APP), mais de 750 mil pacientes nessa faixa etária testaram positivo entre agosto e setembro. Além disso, em apenas duas semanas, o número total de casos infantis aumentou em 10%.

Diante da situação, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) do país reforçou a importância do uso correto da máscara, e algumas regiões ofereceram até presentes para os adolescentes que se vacinarem. Mas o que explica jovens dessa faixa etária apresentarem tanta resistência às medidas de proteção?

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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Por que adolescentes dizem “não” aos cuidados?

De acordo com a psicóloga e doutora em educação Ana Priscilla Christiano, essa aparente rebelião diante das regras relacionadas à pandemia reflete um comportamento que a própria sociedade impõe sobre os jovens. “Ver a adolescência como momento de transgressão e de conflitos internos interfere nas ações dos adolescentes”, pontua a especialista, que é professora da PUCPR campus Londrina.

Segundo ela, o fato de os jovens carregarem esse estigma de “desobedientes” incentiva atitudes de rebeldia, principalmente porque estão em uma fase da vida em que não avaliam com clareza as consequências de seus atos. “Então, agem com impulsividade”, afirma a psicóloga, ao garantir que apoio e orientação podem ajudar.

Para isso, o médico especialista em Saúde Coletiva Gilberto Martin incentiva o poder público a se comunicar com esses jovens usando as redes sociais. “Principalmente porque o adolescente está sempre conectado e vê muita gente na internet tentando implantar modinhas como essa atual do movimento antivacina”, opina o especialista.

Outra alternativa é atrair a atenção dessa faixa etária por meio de ações diferentes, como festas realizadas na Europa, para incentivar a vacinação contra a Covid-19 e até eventos culturais e baladas organizadas em cidades do Brasil como São Paulo (SP), Londrina (PR) e Porto Velho (RO), que tentam garantir a adesão da juventude na imunização. “Temos que buscar caminhos para alcançar essa moçada, e ideias como a 'balada da vacina' podem ser interessantes”, sinaliza o médico.

Importância sobre prevenção deve vir da escola e de casa

Além disso, a psicóloga Ana Priscilla Christiano afirma que as conversas a respeito da importância da prevenção devem ocorrer na escola e em casa, onde pais e responsáveis podem mostrar de forma afetuosa o impacto que as ações do adolescente trazem ao ambiente familiar e também à sociedade.

O resultado, segundo a especialista, será um adolescente que, mesmo com pouca idade, demonstrará maturidade diante de incômodos como o uso da máscara. “Afinal, eu não uso porque gosto, mas é para me proteger e proteger os outros”, afirma a paranaense Julia Vitória de Andrade, de 13 anos. “E eu sinto até vergonha de não usar uma máscara, porque andar por aí sem ela é um desrespeito com as pessoas ao meu redor”, diz a estudante Júlia Isabelli Perdoncini, 14 anos.