Os riscos à saúde causados pelo contágio com o novo coronavírus são conhecidos de todos. Porém, há muitas outras doenças com as quais devemos continuar a nos preocupar, como a neoplasia, por exemplo, cujos rastreamentos seguem em queda enquanto dura a pandemia.
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A procura por serviços de diagnóstico e ambulatoriais caiu cerca de 40% no período de pandemia, diz a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica, alertando para o risco do adiamento das consultas médicas pelo receio de realizar os exames de rastreamento em épocas de Covid-19. Com isso, aumentam-se as chances de possível acometimento por doenças graves, diante da impossibilidade do diagnóstico precoce.
Os exames de rotina permitem a prevenção de diversos tipos de cânceres pela detecção de lesões pré-malignas iniciando um tratamento imediato, como também permitem realizar o diagnóstico precoce de lesões malignas, possibilitando tratamentos menos agressivos e aumentando de modo exponencial as chances de cura do paciente.
Muitos pacientes que realizam os exames de rotina não apresentam sintomas, porém, podem estar acometidos pela neoplasia e, com o diagnóstico precoce, poderão iniciar um tratamento mais rapidamente. Contudo, devido a pandemia, infelizmente, os exames de rastreio ficaram em segundo plano pelo receio de contaminação pelo coronavírus, aumentando os diagnósticos tardios, conta Aline Cristini Vieira, médica no Grupo Oncoclínicas de Curitiba e oncologista clínica pelo Hospital Sírio-Libanês.
Mama e colo de útero
Um dos casos é a redução de 23,4% na realização de mamografias e biópsias de colo uterino (dois dos principais exames para o diagnóstico desses tipos de câncer), provavelmente em função da pandemia pelo coronavírus, gerando uma redução preocupante no diagnóstico dos cânceres de mama e colo de útero. Os dados são da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia a partir de números fornecidos pelo Ministério da Saúde.
O Instituto Nacional do Câncer (INCA) estimou o diagnóstico de câncer de mama e colo de útero em mais de 82 mil mulheres no ano de 2020, porém foram realizados somente 2/3 destes diagnósticos, ou seja, 21.860 desconhecem a presença da neoplasia. “Isso não significa que houve uma redução da incidência dessas doenças, mas que quase 25 mil mulheres estão com câncer e não sabem por que seus exames de rotina estão atrasados. Isso sem falar nos outros tipos de tumores que estão subdiagnosticados”, explica Aline.
Tratamento precoce
O diagnóstico tardio de câncer reduz as chances de cura e, muitas vezes, necessita de tratamentos mais agressivos. Também, em fases mais avançadas, muitos pacientes tendem a ter sintomas mais expressivos da doença e redução de sua qualidade de vida.
Se descoberto previamente, o tratamento pode ser diferenciado e as chances de recuperação melhoradas. "O grande diferencial do diagnóstico precoce – e por isso batemos tanto nessa tecla – é possibilitar que os tratamentos sejam mais simples, tragam menos efeitos colaterais para os pacientes e que possibilitem uma real e alta chance de cura", esclarece a oncologista.
Aline orienta que o tratamento contra o câncer deve começar imediatamente após a confirmação do diagnóstico, ainda que possam baixar a imunidade, mesmo em período pandêmico, pois dependendo dos protocolos de tratamento utilizados, há maiores ou menores chances de imunossupressão. “Conseguimos monitorar e controlar essa queda de imunidade com algumas medicações que aumentam as defesas e com seguimento médico próximo e contínuo”, explica a médica.
Os pacientes mais vulneráveis à contaminação pelo coronavírus, com probabilidade maior de apresentar sintomas graves, também devem manter os exames de rastreamento, afinal o cuidado com a saúde vai além da prevenção contra o Covid-19, mas abrange um cuidado integral, que compreende a prevenção das mais diversas patologias, inclusive a neoplasia.
“Apesar de estarmos enfrentando um momento difícil e desafiador de pandemia, é de fundamental importância manter os exames de rotina em dia. Não devemos esquecer que as outras doenças continuam acontecendo e, tomando as medidas de segurança indicadas, é possível realizar os exames recomendados sem grandes riscos”, alerta a oncologista.
Cuidados em hospitais e clínicas oncológicas
Além das medidas de prevenção frequentes, como uso de máscara e álcool em gel, na impossibilidade de lavar as mãos com água e sabão, Aline recomenda aos pacientes como medidas individuais de prevenção em ambientes de maior risco de contaminação, como hospitais e clínicas oncológicas:
- Uso de máscara continuamente, especialmente a máscara N95 nos ambientes com maior risco de contaminação;
- Atente-se para que não sejam compartilhados os objetos de uso pessoal;
- Ter apenas um acompanhante durante as consultas ou exames;
- Manter distância de outras pessoas e da equipe de saúde, quando possível;
- Evitar ficar próximo de outros pacientes;
- Evitar circular ou ficar no hospital ou clínica por mais tempo que o necessário;