Idade vascular pode ser vista por exame
Tomografia cardíaca detecta não a gordura, mas a quantidade de cálcio presente nas veias| Foto: Bigstock

Seus vasos sanguíneos podem ter uma “idade” diferente da sua. Saber em qual condição eles estão é essencial, em alguns casos, para determinar o risco de desenvolver problemas cardíacos, como o infarto. Para verificar o quanto de gordura está acumulado nos vasos (as placas de aterosclerose), entupindo a artéria de pessoas assintomáticas, o exame de tomografia cardíaca pode ser necessário.

Ela detecta não a gordura, mas a quantidade de cálcio presente nas veias, que pode fazer, por exemplo, com que uma pessoa de idade biológica de 40 anos apresente uma idade vascular de alguém de 70 anos. “Um jovem de hábitos nocivos, como o tabagismo, sedentarismo e alimentação inadequada, pode ter uma idade vascular mais avançada do que a de um idoso de hábitos saudáveis”, diz o médico cardiologista Gustavo Lenci Marques, coordenador adjunto e professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Além de ter uma doença aterosclerótica precoce, jovens com fatores de risco podem apresentá-la algumas vezes de forma mais difusa, diz o médico cardiologista Costantino Costantini Ortiz, diretor científico do Hospital Cardiológico Costantini.

Não há sinais físicos que possam indicar a necessidade de análise do escore de cálcio, sendo necessária uma análise do perfil do paciente, dos seus fatores de risco associados com exames laboratoriais e uma avaliação médica. Por meio desses dados, o médico consegue calcular qual o risco do paciente. “A indicação se dá embasada na presença de fatores de risco. E essa presença ou ausência é determinada por uma boa anamnese, um bom teste físico e exames complementares”, diz Ortiz.

Como é o exame

Para fazer a avaliação, o paciente deve entrar no aparelho tomográfico e, ali, são feitos dois exames, o escore de cálcio, sem contraste; e a angiotomografia de coronárias, com contraste. “Na angiotomografia o contraste iodado permite a visualização dos vasos coronarianos e de algum grau de obstrução da luz da coronária causada por alguma placa de colesterol”, explica Ortiz.

O exame de escore de cálcio permite detectar a presença de placas de colesterol com calcificação de suas paredes, informando a presença de doença ateromatosa (acúmulo de colesterol na parede de um vaso). “Porém, este exame não detecta placas de colesterol sem calcificação e não permite determinar o grau exato de obstrução que a placa possa estar causando na luz da artéria”, diz Ortiz.

Cálcio em números

Após o exame, quanto maior o número de placas calcificadas encontradas e o grau de calcificação delas, maior é o risco de o paciente vir a apresentar uma doença cardiovascular, como um infarto ou morte cardiovascular. Cada caso deve ser analisado de modo individual por um médico especialista, mas de um modo geral valores superiores a 100 na Escala de Agatston indicam um risco maior e valores acima de 400 são considerados como calcificação elevada.

Composição das placas

As placas ateroscleróticas são compostas de um elemento lipídico (colesterol), outro fibrótico e outro cálcico, em proporções variadas. “As placas se formam por um mecanismo complexo iniciado pela perda da função endotelial, o que permite a penetração das moléculas de LDL (“colesterol ruim”)  na parede arterial”, diz Ortiz. Segundo Marques, todo o processo é lento e envolve, após o depósito de gordura nos vasos, uma resposta inflamatória local e, por fim, o processo de calcificação.

Prevenção

Não existe cura para a doença aterosclerótica mas, sim, medidas que impedem que as placas aumentem, podendo até haver alguma redução, como tratamento medicamentoso e redução dos níveis de colesterol no sangue. O fundamental é cuidar com os fatores de risco, que incluem fumar, ter diabete, dislipidemia, hipertensão, estresse, ser obeso e sedentário, o que ajuda a estabilizar a doença.

Risco de infarto

A escala ou escore de Agatston estratifica o risco de morte cardiovascular ou infarto de acordo ao grau de calcificação e não de acordo com a distribuição do cálcio nas diferentes artérias. Estratifica os pacientes em diferentes riscos: mínimo, discreto, moderado, alto risco ou muito alto, de acordo com o valor do escore. “Porém, é importante estratificar o risco levando em consideração características individuais de cada paciente como o sexo, idade e fatores de risco, além do escore”, diz Ortiz.

Preparo para o exame

Para o escore de cálcio não há necessidade de preparo prévio, diz Ortiz.  No caso da angiotomografia de coronárias alguns cuidados são necessários como jejum prévio, suspender alguns medicamentos que possam interferir com o contraste. No caso de pacientes com alergia ao iodo, deve ser realizado um preparo prévio com medicamentos para diminuir a chance de reação alérgica.

A quem é indicado

O exame de escore de cálcio não é indicado para todas as pessoas, apenas para quem tem risco cardiovascular intermediário. “Ele não traz benefício nem para quem já tem a doença, nem para quem apresenta risco muito baixo, devendo a avaliação ser feita por médico especialista”, diz Marques. Essa diretriz, da Sociedade Brasileira de Cardiologia, aponta que o risco intermediário para infarto ou morte cardiovascular depende da idade, sexo e fatores de risco. “Em pacientes com risco baixo, mas portador de diabete ou com histórico familiar de doença coronária este exame também está indicado”, diz Ortiz.

Fatores desconhecidos

A evolução mais rápida ou mais devagar da doença aterosclerótica está determinada por diversos fatores e, mesmo assim, pode se dar de modo diverso em pacientes com os mesmos fatores de risco. “Isto demonstra que deva haver outros fatores ainda desconhecidos que façam com que não possamos controlar a evolução da doença, apesar do controle dos fatores de risco conhecidos”, diz Ortiz.

Intervenções

Quando as placas estão muito grandes e colocam a saúde do indivíduo em risco, as intervenções médicas possíveis são a mudança agressiva no estilo de vida do paciente, uso de estatinas e outras medicações que reduzam o colesterol circulante, segundo Marques. Porém, para Ortiz, quando a placa cresce de forma importante obstruindo a luz da artéria coronária, o fluxo de sangue fica comprometido. “Caso seja necessário normalizar o fluxo de sangue para o músculo cardíaco podem ser feitos a angioplastia com ou sem implante de stent e a cirurgia de revascularização miocárdica. Ainda não existe medicamento que dissolva o colesterol acumulado na parede da artéria e que normalize esse fluxo”, diz.

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