A tese de doutorado do médico nefrologista Marcelo Augusto Duarte Silveira, defendida na Universidade de São Paulo (USP) em 2019, mostrou a eficácia da própolis verde no tratamento de pacientes com doença renal crônica (DCR). Ele fez um estudo clínico randomizado, duplo-cego e placebo-controlado, que é tido como “padrão-ouro” de pesquisa.
Nesse tipo de estudo, os pacientes são separados em dois grupos: um que receberá a intervenção a ser estudada e outro que não receberá, o chamado grupo de controle. O termo duplo-cego significa que nem o pesquisador nem os pacientes sabem quem está tomando o quê, de modo a evitar que o desfecho seja manipulado.
No estudo de Silveira, 32 pacientes foram acompanhados ao longo de um ano, período em que metade tomou própolis e metade tomou placebo. “Foi evidenciado que o grupo que tomou própolis teve redução da proteinúria e uma redução na inflamação”, afirmou o médico em entrevista à Gazeta do Povo. A proteinúria é um marcador de inflamação, e representa perda excessiva de proteínas pela urina. “Quando se compara pacientes com doença renal que perdem proteína na urina há uma evolução mais grave do que naqueles que têm doença renal mas não perdem proteína. A perda de proteína leva a uma evolução mais rápida para doença terminal, as pessoas acometidas precisam de terapia de substituição do rim, por diálise ou transplante”, acrescentou.
Novo estudo
A própolis se tornou uma linha de pesquisa para Silveira. Segundo ele, dados experimentais publicados recentemente apontam para um potencial benefício da própolis contra mecanismos de inflamação próprios do novo coronavírus. No fim de maio, a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) autorizou um estudo clínico com própolis verde com 40 pacientes que está sendo conduzido por Silveira e equipe no Hospital São Rafael, em Salvador (BA). Segundo ele, a intenção é ampliar a pesquisa para mais de 100 pessoas em breve. O produto utilizado é a Propomax EPP-AF, da Apis Flora Industrial e Comercial, de Ribeirão Preto (SP).
“Existe um estudo de segurança a se seguir, quais os efeitos colaterais, possíveis lesões orgânicas. Em relação à própolis, isso está já bem esclarecido na pesquisa acadêmica mundial. Desde a parte experimental, que avalia a segurança em voluntários saudáveis. A própolis já passou por todas as etapas. Por isso há segurança de usar contra o novo coronavírus”, explicou.
Em revistas científicas há diversos artigos que mostram as propriedades antibacterianas, antifúngicas e antivirais de várias amostras de própolis. Recentemente, um artigo na Medicine in Drug Discovery elencou substâncias naturais e sintéticas disponíveis no mercado com propriedades para inibir uma proteína PAK1, cuja ativação anormal provoca inflamações e infecções como a causada pela Covid-19. Entre elas estão a própolis e drogas antimalária, como a cloroquina.
De uma forma resumida, a literatura médica indica que a própolis diminui o estímulo para a fibrose pulmonar e aumenta a produção de anticorpos contra o vírus. “A gente ainda não tem um tratamento para o novo coronavírus, mas acredito na força da natureza como resposta a esse vírus”, afirmou Silveira.