As gotículas de saliva que saem da boca durante a tosse ou o espirro são as formas conhecidas de transmissão do novo coronavírus entre os seres humanos, mas não são as únicas. Segundo o presidente de um comitê da Academia norte-americana de Ciências, Harvey Fineberg, mesmo ao falar ou respirar, podemos disseminar a doença.
Foi esse o alerta dado pelo ex-reitor da Faculdade de Saúde Pública de Harvard à Casa Branca na noite de quarta-feira (1º). Em uma carta, Fineberg explica que os resultados de estudos recentes têm indicado que o vírus poderia ser disseminado por meio de uma respiração normal.
"Essa carta responde ao questionamento sobre a possibilidade de que o coronavírus poderia ser transmitido pela conversa, além das gotículas de saliva induzidas pelo espirro e pela tosse. Pesquisas disponíveis atualmente confirmam essa possibilidade de que o coronavírus poderia ser transmitido por bioaerosol gerado pela exalação do paciente", explica o especialista na carta enviada aos representantes políticos dos Estados Unidos.
Com base nesses dados, e nos estudos que indicam que boa parte da transmissão da Covid-19 se dá por pessoas que não apresentam sintomas da doença, o governo norte-americano está avaliando mudar as recomendações sobre o uso da máscara facial para pessoas sintomáticas e também assintomáticas. Até o momento, o país segue as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), que indica o uso apenas por profissionais da saúde e pessoas que apresentam os sintomas.
O Brasil também segue a orientação da OMS, mas tem trazido a mesma discussão ao debate. O ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, inclusive, anunciou nessa semana que um protocolo estaria sendo preparado sobre o uso do tecido não tecido (TNT) como material para máscaras destinadas à população em geral.
Coronavírus na respiração
Se o vírus é transmitido por meio da fala e da respiração, manter uma distância segura de outra pessoa pode ser uma das formas de evitar o contágio. Essa distância, no entanto, não é de apenas um a dois metros, segundo um novo estudo desenvolvido pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e publicado no Journal of American Medical Association (JAMA).
De autoria da pesquisadora Lydia Bourouiba, a pesquisa indica que a distância correta entre as pessoas para evitar a contaminação pelo novo coronavírus seria de sete a oito metros.
As gotículas de saliva, segundo o estudo, poderiam contaminar superfícies e resíduos ou núcleos dessas gotículas poderiam ficar suspensos no ar por horas.
"Saliva, tosse, as gotículas que a gente vê podem ser jogadas de dois a seis metros de distância. Mas há outras, que não vemos, que podem atingir distâncias maiores, introduzindo no nosso corpo e indo para o pulmão. As maiores ficam na parte nasal e oral", explica o médico otorrinolaringologista Paulo Mendes Junior.