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Até o momento, o uso das máscaras para o combate do novo coronavírus está limitado a pessoas com sintomas da Covid-19 e a quem estiver próximo a elas, seja um profissional de saúde ou não. Essa é a orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas especialistas de países como os Estados Unidos e China têm reaberto a discussão para incluir pessoas assintomáticas nessa lista.

Em um estudo publicado na revista Science no início de março, pesquisadores do país asiático perceberam que as pessoas que não apresentavam os sintomas para a doença eram as principais disseminadoras do vírus. Eles calculam que 86% das infecções pelo novo coronavírus não foram documentadas no país e, dessas, 55% eram tão contagiosas quanto em pessoas que apresentavam os sinais de febre, tosse seca e falta de ar.

Na última segunda-feira (30), o diretor do Centro para Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), Robert Redfield, disse em uma entrevista à uma emissora de rádio que a agência estaria revisando as diretrizes sobre quem deveria usar as máscaras e dentre os argumentos está justamente o risco na transmissão entre aqueles assintomáticos.

O próprio diretor do Centro de Controle de Doenças da China, George Gao, cita que o não uso da máscara seria um "grande erro" no combate à doença. Em entrevista à revista científica Science, ele diz:

"O grande erro dos Estados Unidos e da Europa, em minha opinião, é que as pessoas não estão usando máscaras. O vírus é transmitido por gotículas e contato próximo. Gotículas tem um papel muito importante - você deve usar uma máscara, porque quando você fala, sempre há gotículas saindo da sua boca. Muitas pessoas têm infecções assintomáticas ou pré-sintomáticas. Se eles estão usando máscaras faciais, isso previne que as gotículas que carregam o vírus escape e infecte outras pessoas", responde Gao.

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Temos máscaras para todo mundo?

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As orientações podem até ser válidas, mas a questão principal é: temos máscaras em número suficiente para que os profissionais de saúde, pessoas com sintomas e assintomáticos possam usar? Por enquanto, o cálculo não fecha.

Em entrevista coletiva na terça-feira (31), o ministro da Saúde Henrique Mandetta disse que a equipe está preparando um protocolo que direcionará tanto a produção de máscaras feitas com TNT (tecido não tecido), bem como orientará sobre o uso adequado desse produto.

Segundo o ministro, as máscaras nesse material foram testadas e atendem bem, e poderão ser utilizadas pelas pessoas assintomáticas em situações como dentro dos ônibus e no ir e vir nas ruas. O importante é não buscar máscaras cirúrgicas de forma massiva, deixando a população que realmente precisa delas, como os profissionais de saúde, desprotegida nesse momento.

Vale lembrar ainda, conforme ressalta Fábio Gaudenzi, médico infectologista, que o uso da máscara não aumenta a proteção de si, mas de terceiros, que podem ser contaminados por você, caso esteja infectado e sem nenhum sintoma.

"As pessoas têm um entendimento errado de que, se elas saem de casa com a máscara, elas estão mais protegidas. É o contrário: elas saem de máscara para não liberar o vírus no ambiente. Mas se eu estou em m ambiente que teve a disseminação do vírus, e eu uso a máscara, se eu tocar na superfície contaminada e, sem higienizar as mãos, levá-las aos olhos, eu vou sim me infectar", completa o médico, que é presidente da Sociedade Catarinense de Infectologia e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

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Máscaras caseiras

Na tentativa de deixar as máscaras produzidas industrialmente para os profissionais da saúde que estão na linha de frente do combate, o secretário-executivo do Ministério da Saúde João Gabbardo dos Reis recomendou, na última semana, a produção caseira do produto.

Um estudo de 2013, publicado no periódico Disaster Medicine and Public Health Preparedness, pesquisadores listaram quais seriam os melhores tecidos na hora de produzir uma máscara caseira. Em comparação a uma máscara cirúrgica, que teria cerca de 89% de eficácia contra micropartículas, eles listam:

  • Tecido do saco do aspirador de pó: 86%
  • Pano de prato: 73%
  • Roupas feitas de algodão: 70%
  • Fronha antimicrobiana: 68%
  • Linho: 62%
  • Fronhas de outros tecidos: 57%
  • Seda: 54%
  • Roupas 100% algodão: 51%
  • Lenço ou cachecol: 49%

O uso do pano do aspirador de pó pode não ser o melhor material a se trabalhar para transformar em máscara, mas os tecidos de algodão ou dos outros materiais podem ser considerados, segundo o médico otorrinolaringologista Paulo Mendes Junior.

O especialista orienta que, caso a pessoa faça uma máscara em casa, é preciso alguns cuidados. "A confecção deve cobrir toda a região da boca e região nasal. O nariz não pode ficar exposto. E é importante não tocar na máscara na parte de fora, porque dali a mão segue para o olho ou depois para a boca e o nariz e a pessoa se contamina novamente", orienta.

Outro risco é achar que a máscara garante uma proteção total e, com isso, deixar de lado as outras medidas, como lavar as mãos, praticar a etiqueta da tosse e do espirro e manter o isolamento social. "A máscara não vai evitar que a pessoa se contamine, e mesmo a N95, que é um modelo de máscara industrializada e é direcionada aos profissionais da saúde, tem 95% de eficácia", explica o médico.

Em pessoas assintomáticas, o produto pode ter mais benefícios quando usado nas seguintes situações:

  • Saídas de casa, como as ida ao mercado ou farmácia;
  • Em casa, caso conviva com pessoas em grupos de risco;

A máscara poderá ser descartável ou reutilizada, e nesse caso é interessante que na lavagem se use o hipoclorito de sódio.

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Sair de casa: quais medidas de proteção?

Das dicas para sair de casa, o médico Paulo Mendes Junior orienta que a família tenha um único 'comprador', e que essa pessoa vá ao mercado para o cunhado, avô, pai e depois essas pessoas fazem o pagamento via aplicativos de transferência. De uso da máscara, é importante ainda:

  • Antes de sair de casa, escolher o local e ligar para ver se estará aberto ou se está muito cheio.
  • Sair de casa com a lista pronta para não ficar andando por entre as prateleiras.
  • No mercado ou farmácia, lavar as mãos ou usar o álcool em gel e manter distância das pessoas.
  • Ao chegar em casa, tirar a roupa e colocar para lavar com hipoclorito de sódio.
  • Limpar o celular com álcool 70%.
Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]