Resultados preliminares divulgados nesta segunda-feira (20) mostram respostas promissoras de duas potenciais vacinas contra a Covid-19. As descobertas sugerem que um imunizante experimental britânico e outro chinês podem provocar a desejada resposta imunológica no corpo humano. No entanto, nesse estágio inicial dos testes, ainda não está comprovado que alguma dessas vacinas pode proteger as pessoas contra a infecção pelo Sars-CoV-2.
A vacina contra o novo coronavírus que está sendo desenvolvida pela Universidade de Oxford e a farmacêutica AstraZeneca é segura e produziu resposta imune em ensaios clínicos iniciais, informaram cientistas das duas instituições. O imunizante aumentou os níveis tanto de anticorpos neutralizantes quanto de células T, duas formas de defesa do corpo humano contra infecções.
Os resultados das fases 1 e 2 dos testes clínicos, feitos com voluntários no Reino Unido, foram publicados nesta segunda-feira (20) no periódico científico Lancet. A terceira fase de testes em humanos está sendo conduzida no Brasil e em outros países. Os cientistas ressaltam que a resposta imune foi detectada em laboratório, e que portanto são necessários mais testes para confirmar se essa vacina experimental de fato protege os seres humanos contra infecções por Sars-CoV-2.
"Esperamos que isso signifique que o sistema imunológico se lembre do vírus, para que nossa vacina proteja as pessoas por um período prolongado", disse o principal autor do estudo, Andrew Pollard, da Universidade de Oxford. "No entanto, precisamos de mais pesquisas antes de confirmarmos que a vacina protege efetivamente contra a infecção por Sars-CoV-2 e por quanto tempo dura a proteção", explicou.
Resultados da vacina britânica
Nessas etapas iniciais, que envolveram 1.077 adultos saudáveis, os pesquisadores observaram que a vacina induziu uma resposta forte de anticorpos e de células T (do sistema imunológico) até o dia 56 do estudo em andamento. A resposta pode ser ainda mais forte após aplicação de uma segunda dose, indicam testes feitos com um grupo de dez participantes.
Quando comparado ao grupo de controle (que recebeu uma vacina contra meningite), o grupo que recebeu a potencial vacina contra o Sars-CoV-2 teve efeitos colaterais menores com mais frequência, mas alguns desses sintomas puderam ser controlados com analgésicos. Não houve efeitos colaterais graves entre os participantes.
Os efeitos colaterais mais comuns relatados entre quem recebeu a vacina experimental foram fadiga e dor de cabeça. Entre esses 487 participantes:
- 70% (340 pessoas) relataram fadiga (em comparação a 48% no grupo de controle);
- 68% (331 pessoas) relataram dor de cabeça (em comparação a 41% no grupo de controle).
A resposta das células T, que atacam a proteína usada pelo vírus para invadir as células humanas, aumentou de forma significativa e chegou ao pico em 14 dias nos 43 participantes que tiveram essa reação analisada. Essa resposta celular não aumentou com uma segunda dose da vacina, o que é esperado para vacinas desse tipo.
Já a resposta de anticorpos chegou ao ponto máximo 28 dias após a aplicação da vacina e permaneceu alta até o dia 56, entre aqueles que receberam uma única dose do imunizante. "A corrida para uma vacina está acelerada, enquanto a necessidade para uma solução é evidente, mas não podemos esquecer que a segurança tem a maior importância", alerta o editorial publicado na edição do Lancet desta segunda-feira.
A vacina experimental britânica poderá ter o registro liberado em junho de 2021, de acordo com Soraia Ismaili, reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que coordena os testes no país. Ao todo, cerca de 50 mil pessoas participam da fase atual dos testes, 5 mil delas no Brasil.
Em todo o mundo, há mais de 160 vacinas sendo testadas contra o novo coronavírus, sendo que 23 estão em estágio clínico, de testes com humanos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a vacina de Oxford como a mais adiantada.
Resultados da vacina chinesa
Também nesta segunda-feira (20), pesquisadores chineses anunciaram que a vacina contra a Covid-19 estudada pela CanSino Biologics é segura e produz resposta imune. O ensaio clínico randomizado de fase 2 foi realizado na China em abril de 2020 com mais de 500 pessoas. Ainda são necessários ensaios de fase 3 para confirmar se a candidata à vacina confere proteção contra o Sars-Cov-2.
Os resultados dessa fase inicial de testes também foram publicados no Lancet. Segundo os pesquisadores, 95% dos participantes (241 pessoas) do grupo que recebeu uma alta dose do potencial imunizante e 91% (118 pessoas) do grupo que recebeu uma dose menor tiveram respostas imunes por células T ou por anticorpos 28 dias após a vacinação.
Resultados da vacina americana
Na semana passada, a companhia americana de biotecnologia Moderna anunciou que a vacina contra Covid-19 que está desenvolvendo em parceria com o Instituto Nacional de Saúde dos EUA produziu uma resposta imune nos 45 voluntários que a receberam na primeira fase dos testes clínicos, realizada entre março e abril.
Os dados foram publicados na revista New England Journal of Medicine. Foram necessárias duas doses do imunizante para alcançar um bom nível de resposta do sistema imunológico, similar ao observado em pessoas que se curaram da Covid-19 naturalmente.
Ritmo acelerado
A AstraZeneca assinou acordos com governos de todo o mundo para fornecer a vacina, caso ela se mostre eficaz e obtenha aprovação regulatória. A empresa afirmou que não buscará lucrar com a vacina durante a pandemia.
Normalmente, a vacina levaria 18 meses para ser aprovada. Mas os cientistas estão confiantes de que conseguirão encurtar este período para 12 meses se os resultados forem positivos. Por isso segundo a reitora da Unifesp, tendo os primeiros resultados no fim deste ano, o registro já poderia ser obtido até meados do ano que vem.
Essa redução é possível porque a vacina está sendo testada simultaneamente em 50 mil pessoas em todo o mundo, um número recorde. No Brasil, são 5 mil pessoas: 2 mil em São Paulo, 2 mil na Bahia e mil no Rio de Janeiro. A redução de tempo foi possível também por se tratar de uma vacina emergencial.